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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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O PAIGC da Guiné-Bissau: Desbravar terreno<br />

tunidade ec<strong>on</strong>ómica. 106 Por fim, e do p<strong>on</strong>to de vista da legitimidade pública, a política<br />

oficial tinha uma grande base de apoio popular. Dito isto, e vista de um p<strong>on</strong>to de vista da<br />

Guerra Fria, que vigorava desde os anos setenta, a ajuda sueca ao PAIGC era mais política<br />

do que sugeriria uma interpretação pura e simples do termo ”ajuda humanitária”, 107 o<br />

que tem a sua importância em termos de cooperação com os movimentos de libertação<br />

na África Austral.<br />

Para além de levar a cabo a luta militar, o PAIGC tinha entrado, por via do sistema<br />

de troca directa centrado nas lojas do povo, numa batalha ec<strong>on</strong>ómica c<strong>on</strong>tra Portugal.<br />

Cabral estava também determinado em afirmar que ”com hospitais e escolas podemos<br />

vencer a guerra”. 108 L<strong>on</strong>ge de c<strong>on</strong>stituírem uma reacção defensiva c<strong>on</strong>tra o col<strong>on</strong>ialismo<br />

e a opressão, os sectores produtivo, de saúde e de educação eram vitais, fazendo<br />

parte integrante e muito activa do esforço de libertação. A maior parte da ajuda sueca<br />

era exactamente canalizada para estes sectores. Limitada inicialmente a bens puramente<br />

humanitários, a lista alargar-se-ia paralelamente ao ”engordar” do pacote de ajuda, por<br />

forma a permitir que necessidades de índole política fossem supridas, tendência que se foi<br />

acentuando. 109 Os programas foram c<strong>on</strong>cebidos em c<strong>on</strong>junto pelo PAIGC e pela ASDI.<br />

O Comité C<strong>on</strong>sultivo para a Ajuda Humanitária e o governo sueco seguiam, por norma,<br />

as recomendações feitas pela ASDI.<br />

Definição de ajuda humanitária<br />

A ajuda oficial sueca foi, a pedido do PAIGC, e ao l<strong>on</strong>go dos anos, quase exclusivamente<br />

prestada sob a forma de ajuda em géneros. Não incluiu comp<strong>on</strong>entes importantes de<br />

ajuda técnica, actividades de projectos nem dinheiro. 110 Uma vez que não havia uma<br />

106. Ver a entrevista com Bengt Säve-Söderbergh, na qual o antigo subsecretário de estado social democrata dos<br />

Negócios Estrangeiros (1985–91) declara que ”Angola tinha interesse para quem procurava dinheiro. Sabíamos que<br />

ninguém se preocupava realmente com a Guiné-Bissau e que alguns se preocupavam, mas apenas marginalmente,<br />

com Moçambique. Angola era o foco de interesse e, por isso mesmo o país mais ”quente”, em termos da clivagem<br />

Leste-Ocidente” (p. 338).<br />

107. Para Cabral, toda a ajuda ao PAIGC era humanitária, ”independentemente da forma e do c<strong>on</strong>teúdo da ajuda,<br />

porque é dada em prol do progresso político, ec<strong>on</strong>ómico, social e cultural da humanidade e da paz” (Carta de<br />

Amílcar Cabral à ASDI, C<strong>on</strong>acri, 28 de Julho de 1971) (SDA).<br />

108. Cabral citado em Chabal op. cit., p. 114.<br />

109. No início dos anos setenta, o movimento sueco de solidariedade era essencial para definir os c<strong>on</strong>tornos da ajuda<br />

oficial aos movimentos de libertação. Num livro publicado pelos Grupos de África dizia-se, em Janeiro de 1972,<br />

que ”a c<strong>on</strong>tribuição da ASDI não era dada de forma inc<strong>on</strong>dici<strong>on</strong>al aos movimentos de libertação, sendo dada para<br />

’fins humanitários’ como, por exemplo, a saúde, a educação e afins, o que significava que os movimentos não eram<br />

rec<strong>on</strong>hecidos como representantes dos respectivos povos e que o aspecto militar da actividade dos movimentos de<br />

libertação não recebia qualquer apoio” (AGIS op. cit., p. 194). Mais ou menos na mesma altura, num documento<br />

elaborado pelos Grupos de África em Inglaterra para uma c<strong>on</strong>ferência sobre solidariedade internaci<strong>on</strong>al para com a<br />

FRELIMO, o MPLA e o PAIGC, realizada em Lund no início de 1972, dizia-se que ”ao recusar-se a ver o aspecto<br />

militar como parte integrante da luta, o governo sueco está a dar uma imagem deturpada da situação. Outra das<br />

limitações é que a ajuda prestada pela ASDI é dada em géneros, selecci<strong>on</strong>ados de uma lista e comprados (na Suécia)<br />

por funci<strong>on</strong>ários da ASDI. Trata-se de uma forma grave de paternalismo, o que se poderá talvez explicar apenas pelo<br />

desejo de manter vínculos ec<strong>on</strong>ómicos importantes com Portugal durante o máximo de tempo possível e também<br />

pelo desejo de enc<strong>on</strong>trar uma solução neo-col<strong>on</strong>ialista para as colónias portuguesas” (Versão preliminar: ”Imperialismo<br />

sueco em Portugal e em África”, C<strong>on</strong>ferência da Páscoa, Lund, 1972) (AGA). Deve notar-se que a ajuda oficial<br />

não estava vinculada à obtenção dos produtos na Suécia, nem a ASDI tentava obter mercadorias em Portugal para<br />

os movimentos de libertação nas colónias portuguesas (Entrevista com Stig Lövgren, p. 314).<br />

110. A questão da ajuda em dinheiro viria a ser levantada em particular pela FRELIMO de Moçambique. Em Novembro<br />

de 1972, a ASDI decidiu que 5 por cento das verbas anualmente afectadas aos movimentos de libertação<br />

poderia ser transferidas, sob a forma de ajuda em numerário, para a aquisição de bens a nível local e para financiar<br />

custos de exploração. No caso do PAIGC, essa percentagem corresp<strong>on</strong>dia, em 1972–73 a quinhentas mil coroas<br />

suecas.<br />

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