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150 Tor Sellström sustento das pessoas a cargo daqueles que têm sido presas ou detidas por razões definidas nas referidas leis. [...] Essas contribuições têm sido dadas para ajudar os povos oprimidos de África que não conquistaram a liberdade. A luta continua e mantemos contactos com vários líderes dos movimentos de libertação em África, alguns dos quais nos solicitaram ajuda. Estamos preparados para ajudar, tal como ajudamos a frente de libertação do Vietname do Sul, disponibilizando medicamentos e material médico. A ajuda educativa aos membros dos movimentos, através das suas organizações é também uma possibilidade que estamos dispostos a analisar. Está em questão a disponibilização de ajuda humanitária. Essa ajuda melhorará a situação dos membros desses movimentos e vai permitir-lhes continuar com maior facilidade a sua luta para obter a liberdade para os seus povos. 57 Ao falar em contactos com líderes dos movimentos de libertação de África, é muito provável que Nilsson se estivesse a referir sobretudo a conversações tidas com Amílcar Cabral pouco tempo antes. Pierre Schori, que participou nas conversações com o líder do PAIGC, descreveria mais tarde Cabral como ”um mestre da diplomacia [...], uma pessoa notável e uma grande figura internacional, que era portador de uma mensagem extremamente positiva”. 58 Que tenha sido Cabral a pessoa que, ao fim de anos de contactos estreitos entre a Suécia e líderes nacionalistas da África Austral, acabaria por ”quebrar o gelo” quanto à ajuda oficial directa, é algo que fica patente pela celeridade com que o governo, após a sua visita, deu forma e conteúdo à declaração de Nilsson. Pouco mais de duas semanas volvidas sobre a declaração, o embaixador da Suécia na Libéria, Olof Ripa, recebeu instruções para entrar em contacto com o governo em Conacri para apurar se a ajuda directa da Suécia ao PAIGC seria ou não aceitável para o governo anfitrião. 59 Ripa respondeu em Fevereiro de 1969 que o governo de Sékou Touré apoiava o PAIGC e que ”sem a mais pequena sombra de dúvida, participaria activamente no envio de remessas de ajuda humanitária da Suécia para os movimentos de libertação”. 60 Durante a sua estadia em Estocolmo, Cabral visitou também a ASDI, onde pôde confirmar, em traços gerais, o teor do pedido feito por intermédio de Basil Davidson e deu mais pormenores quanto às necessidades do PAIGC nas áreas da saúde, educação e necessidades básicas, tais como alimentos e têxteis. 61 No seguimento dessas conversações e com base na declaração de intenções do governo, em Abril de 1969 o director geral da ASDI, Ernst Michanek, tomou (ainda antes de o parlamento sueco ter tornado público o seu posicionamento sobre este mesmo princípio) a decisão de enviar uma missão para apuramento de factos ao Senegal e à República da Guiné 62 com a finalidade de ”estudar as condições para entrega de ajuda ao PAIGC”. 63 A missão oficial, chefiada por Curt Ström, responsável pelo departamento de formação da ASDI, esteve na África Ocidental em meados de Maio de 1969, na mesma altura 57. ”Discurso do Ministro dos Negócios Estrangeiros”, 9 de Dezembro de 1968 no Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1968, Estocolmo, 1969, p. 116. 58. Entrevista com Pierre Schori, p. 333. 59. Carta de Per Anger, Ministério dos Negócios Estrangeiros, enviada a Olof Ripa, embaixador da Suécia na Libéria, Estocolmo, 19 de Dezembro de 1968 (MFA). 60. Carta de Olof Ripa, embaixador da Suécia na Libéria enviada a Per Anger, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Monróvia, 19 de Fevereiro de 1969 (MFA). 61. Kerstin Oldfelt: Memorando (”Humanitärt bistånd till Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC)”/”Ajuda humanitária ao PAIGC”), ASDI, Estocolmo, 22 de Julho de 1969 (SDA). 62. Curt Ström: ”Reserapport” (”Relato de viagem”), ASDI, Estocolmo, 13 de Junho de 1969 (SDA). 63. Ibid.
O PAIGC da Guiné-Bissau: Desbravar terreno em que a Comissão Permanente do Parlamento para as Dotações 64 discutia a questão geral do apoio sueco aos movimentos africanos de libertação. A conclusão foi que essa ajuda estava em conformidade com o direito internacional, ”nos casos em que as Nações Unidas tenham tomado uma posição inequívoca contra a opressão de povos que lutam pela liberdade nacional”. 65 A Suécia tornar-se-ia assim no primeiro país ocidental industrializado a apoiar uma política de ajuda humanitária oficial directa aos movimentos de libertação nas colónias portuguesas, no Zimbabué, na Namíbia e na África do Sul. 66 No caso da ”Guiné portuguesa”, a decisão fazia referência expressa ao PAIGC e aos passos preparatórios a dar relativamente à ajuda sueca, declarando-se que de acordo com a informação recebida pelo comité, estão a ser exploradas as possibilidades práticas de alargar a ajuda humanitária sueca no campo da educação às vítimas da luta travada sob a liderança do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no sentido de libertar a Guiné portuguesa da soberania de Portugal. O comité tem, entre outros aspectos, com referência ao apoio que já está a ser alargado, por forma a abarcar o Instituto Moçambicano 67 , uma abordagem positiva relativamente a esse tipo de ajuda, caso seja possível ultrapassar os problemas de índole prática, e partindo do princípio que o governo vai explorar as possibilidades de acção que se lhe apresentem. 68 A Guiné-Bissau não faz parte da África Austral. Num sentido estrito, as relações da Suécia com o PAIGC não devem portanto ser incluídas neste estudo. Contudo, o PAIGC tinha uma ligação estreita com o MPLA de Angola e com a FRELIMO de Moçambique. Em conjunto com os seus aliados do CONCP e com a SWAPO da Namíbia, o ANC da África do Sul e a ZAPU do Zimbabué, fazia, para além do mais, parte do chamado Grupo de Cartum de ”autênticos” movimentos de libertação. Num contexto internacional, a luta de libertação na pequena colónia portuguesa situada na costa da África Ocidental estava, no âmbito do contexto acima descrito, muitas vezes justaposta com as lutas na África Austral. Esta justaposição é, em larga medida, de incentivar e utilizar como fonte de inspiração. A importância da cooperação com o PAIGC para a participação sueca na questão da África Austral é enorme. O primeiro programa global sueco alguma vez concebido para dar ajuda humanitária directa e oficial a um movimento de libertação africano foi criado em conjunto com o PAIGC, o qual, por sua vez, estava profundamente empenhado numa luta armada contra uma nação europeia que tinha ligações comerciais formais com a Suécia, facto que determinou o carácter e as limitações da ajuda. Apesar de apelos veementes, feitos pelo movimento de solidariedade não-governamental e pela esquerda socialista de uma forma geral, em prol de um ”apoio incondicional”, ou seja, que fossem disponibilizadas verbas que o PAIGC pudesse usar a seu beloprazer, foi mantida uma orientação para a vertente humanitária. Apesar disso, as autoridades passaram, pouco tempo depois, a equacionar ajuda ”humanitária” com ajuda ”não-militar” ou ”civil” e, consequentemente, a alargar o âmbito dessa cooperação. 64. Em sueco, Statsutskottet. 65. Parlamento sueco 1969: Declaração No. 82/1969 pela Comissão das Dotações, p. 24. 66. Ironicamente, o deputado que assinou a histórica declaração da Comissão Permanente sobre Dotações foi Gösta Bohman. No ano seguinte, tornou-se Presidente do Partido Moderado, conservador, o único partido sueco tradicional a excluir-se da parceira alargada com os movimentos de libertação na África Austral. 67. O apoio oficial sueco ao Instituto Moçambicano da FRELIMO, sediado em Dar es Salaam, na Tanzânia, tinha vindo a aumentar desde 1965. 68. Parlamento sueco, 1969: Declaração No. 82/1969 pela Comissão das Dotações, p. 24. 151
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pela liberdade naci<strong>on</strong>al”. 65 A Suécia tornar-se-ia assim no primeiro país ocidental industrializado<br />
a apoiar uma política de ajuda humanitária oficial directa aos movimentos de<br />
libertação nas colónias portuguesas, no Zimbabué, na Namíbia e na África do Sul. 66 No<br />
caso da ”Guiné portuguesa”, a decisão fazia referência expressa ao PAIGC e aos passos<br />
preparatórios a dar relativamente à ajuda sueca, declarando-se que<br />
de acordo com a informação recebida pelo comité, estão a ser exploradas as possibilidades<br />
práticas de alargar a ajuda humanitária sueca no campo da educação às vítimas da luta travada<br />
sob a liderança do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no<br />
sentido de libertar a Guiné portuguesa da soberania de Portugal. O comité tem, entre outros<br />
aspectos, com referência ao apoio que já está a ser alargado, por forma a abarcar o Instituto<br />
Moçambicano 67 , uma abordagem positiva relativamente a esse tipo de ajuda, caso seja possível<br />
ultrapassar os problemas de índole prática, e partindo do princípio que o governo vai explorar<br />
as possibilidades de acção que se lhe apresentem. 68<br />
A Guiné-Bissau não faz parte da África Austral. Num sentido estrito, as relações da<br />
Suécia com o PAIGC não devem portanto ser incluídas neste estudo. C<strong>on</strong>tudo, o PAIGC<br />
tinha uma ligação estreita com o MPLA de Angola e com a FRELIMO de Moçambique.<br />
Em c<strong>on</strong>junto com os seus aliados do CONCP e com a SWAPO da Namíbia, o ANC da<br />
África do Sul e a ZAPU do Zimbabué, fazia, para além do mais, parte do chamado Grupo<br />
de Cartum de ”autênticos” movimentos de libertação. Num c<strong>on</strong>texto internaci<strong>on</strong>al,<br />
a luta de libertação na pequena colónia portuguesa situada na costa da África Ocidental<br />
estava, no âmbito do c<strong>on</strong>texto acima descrito, muitas vezes justaposta com as lutas na<br />
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de inspiração.<br />
A importância da cooperação com o PAIGC para a participação sueca na questão da<br />
África Austral é enorme. O primeiro programa global sueco alguma vez c<strong>on</strong>cebido para<br />
dar ajuda humanitária directa e oficial a um movimento de libertação africano foi criado<br />
em c<strong>on</strong>junto com o PAIGC, o qual, por sua vez, estava profundamente empenhado<br />
numa luta armada c<strong>on</strong>tra uma nação europeia que tinha ligações comerciais formais<br />
com a Suécia, facto que determinou o carácter e as limitações da ajuda. Apesar de apelos<br />
veementes, feitos pelo movimento de solidariedade não-governamental e pela esquerda<br />
socialista de uma forma geral, em prol de um ”apoio inc<strong>on</strong>dici<strong>on</strong>al”, ou seja, que fossem<br />
disp<strong>on</strong>ibilizadas verbas que o PAIGC pudesse usar a seu beloprazer, foi mantida uma<br />
orientação para a vertente humanitária. Apesar disso, as autoridades passaram, pouco<br />
tempo depois, a equaci<strong>on</strong>ar ajuda ”humanitária” com ajuda ”não-militar” ou ”civil” e,<br />
c<strong>on</strong>sequentemente, a alargar o âmbito dessa cooperação.<br />
64. Em sueco, Statsutskottet.<br />
65. Parlamento sueco 1969: Declaração No. 82/1969 pela Comissão das Dotações, p. 24.<br />
66. Ir<strong>on</strong>icamente, o deputado que assinou a histórica declaração da Comissão Permanente sobre Dotações foi Gösta<br />
Bohman. No ano seguinte, tornou-se Presidente do Partido Moderado, c<strong>on</strong>servador, o único partido sueco tradici<strong>on</strong>al<br />
a excluir-se da parceira alargada com os movimentos de libertação na África Austral.<br />
67. O apoio oficial sueco ao Instituto Moçambicano da FRELIMO, sediado em Dar es Salaam, na Tanzânia, tinha<br />
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