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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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O PAIGC da Guiné-Bissau: Desbravar terreno<br />

como o movimento organizado de solidariedade 55 . A visita teve lugar num momento<br />

crucial. A campanha c<strong>on</strong>tra o projecto de Cahora Bassa em Moçambique dispunha de<br />

um apoio bastante alargado e, em finais de Novembro de 1968, um grupo de activistas<br />

deu início em Gotemburgo a ”acções directas” c<strong>on</strong>tra a ASEA, a que se seguiram, pouco<br />

tempo depois, e um pouco por toda a Suécia, manifestações c<strong>on</strong>tra a empresa e c<strong>on</strong>tra o<br />

próprio governo social democrata. Estava em curso o debate a nível naci<strong>on</strong>al quanto ao<br />

projecto de Cahora Bassa quando o governo votou, a 29 de Novembro de 1968, a favor<br />

da Resolução 2395 da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre as colónias portuguesas.<br />

Ao votar, o governo expressou oficialmente a sua preocupação ”com a actividade<br />

c<strong>on</strong>tinuada e intensificada de interesses estrangeiros, de tipo ec<strong>on</strong>ómico, financeiro e<br />

outros, que impedem a c<strong>on</strong>cretização das aspirações legítimas dos povos africanos desses<br />

territórios”. Apoiava ainda o apelo feito no sentido de ”c<strong>on</strong>ceder aos povos dos territórios<br />

sob domínio português a ajuda moral e material necessárias para que os seus direitos<br />

inalienáveis sejam repostos”. 56<br />

Enquanto o governo do primeiro ministro Tage Erlander não agiu de acordo com<br />

a sua posição internaci<strong>on</strong>almente declarada relativamente à primeira questão ou seja, a<br />

recusa em intervir c<strong>on</strong>tra a ASEA, fê-lo imediatamente no caso da assistência aos movimentos<br />

de libertação. Dez dias depois, a 9 de Dezembro de 1968, o Ministro dos<br />

Negócios Estrangeiros Torsten Nilss<strong>on</strong> apresentou uma declaração de intenções fulcral,<br />

ao dizer que<br />

a Suécia é um dos estados que tem vindo a pedir que sejam aprofundados os esforços no<br />

sentido de acabar com a política de descriminação racial na África Austral e com a caduca e<br />

grotescamente provocadora política col<strong>on</strong>ial portuguesa. C<strong>on</strong>tudo, como é do c<strong>on</strong>hecimento<br />

geral, não podemos c<strong>on</strong>tar, num futuro próximo, com passos no sentido de acabar com estas<br />

violações. Que podemos então fazer, para deixar bem patente a nossa solidariedade com estes<br />

povos oprimidos? [...] A Suécia vem vindo, desde há l<strong>on</strong>ga data, a dar c<strong>on</strong>tribuições financeiras<br />

para a formação de refugiados oriundos da África Austral e, para além disso, há já alguns anos<br />

que ajudamos a custear as despesas de ac<strong>on</strong>selhamento jurídico das pessoas acusadas de crimes<br />

à luz das chamadas ”leis do apar<strong>the</strong>id” na África do Sul. Temos também ajudado a garantir o<br />

55. O Partido Social Democrata e o PAIGC já tinha entabulado c<strong>on</strong>tactos antes da visita de Cabral à Suécia, em<br />

finais de 1968. Já antes, nesse mesmo ano, o partido no poder tinha, por exemplo, doado 10.000 coroas suecas ao<br />

movimento de libertação, dinheiro esse retirado do Fundo Internaci<strong>on</strong>al para a Solidariedade, criado em Outubro de<br />

1967 (Pierre Schori em Arbetet, 13 de Dezembro de 1968). Tinham também sido feitos c<strong>on</strong>tactos estreitos, através<br />

de Onésimo Silveira, que vivia e estudava em Uppsala, com o Comité da África Austral dessa cidade universitária.<br />

Esses c<strong>on</strong>tactos haveriam de levar o movimento sueco para a solidariedade a apoiar o PAIGC. Em meados de 1968,<br />

apenas para dar um exemplo, foi enviada uma unidade de raios-x para o PAIGC em C<strong>on</strong>acri, com a ajuda do comité<br />

(Comité da África do Sul de Uppsala: ”Protokoll”/”Actas”, Uppsala, 30 de Junho de 1968) (UPA). Cabral visitou<br />

também Uppsala durante a sua estadia na Suécia, comparecendo numa reunião pública co-organizada pelo Comité<br />

da África do Sul, a Associação Social Democrata Laboremus, a Associação de Estudantes de Verdandi e a Liga da Juventude<br />

do Partido de Esquerda (VUF). A reunião teve lugar na Universidade a 27 de Novembro (”Amílcar Cabral:<br />

Dem<strong>on</strong>strati<strong>on</strong>er inte nog. Vi behöver k<strong>on</strong>kret hjälp”/”Amílcar Cabral: As manifestações não chegam, precisamos<br />

de ajuda c<strong>on</strong>creta” em Uppsala Nya Tidning, 28 de Novembro de 1968). Em 1969 o Comité da África do Sul de<br />

Uppsala deu início a uma campanha de angariação de fundos a nível naci<strong>on</strong>al em prol do PAIGC (Södra Afrika<br />

Informati<strong>on</strong>sbulletin, No. 12, 1971, p. 49) e, como acima foi dito, vários membros do comité, entre os quais Bertil<br />

Malmström, Lars Rudebeck e Birgitta Dahl, visitaram as z<strong>on</strong>as libertadas da Guiné-Bissau em 1969–70. Como<br />

forma de protesto pela visita de estado do presidente senegalês Léopold Senghor à Suécia (Senghor era visto como<br />

um traidor do PAIGC), que se realizou em Maio de 1970, o Comité da África do Sul de Uppsala e um c<strong>on</strong>junto de<br />

organizações políticas m<strong>on</strong>taram espectaculares manifestações, ligadas com o seu aparecimento na universidade (”En<br />

Diktare och Diktator Besöker Norden”/”Um poeta e ditador visita os países nórdicos” em Södra Afrika Informati<strong>on</strong>sbulletin,<br />

No. 9, 1970, pp. 5–8 e ”Senghor-rättegången”/ ”O Julgamento Senghor” em Södra Afrika Informati<strong>on</strong>sbulletin,<br />

No. 14, 1972, pp. 23–25).<br />

56. Assembleia Geral das Nações Unidas, Resolução 2395 (XXIII) de 29 de Novembro de 1968, citada no Yearbook<br />

of <strong>the</strong> United Nati<strong>on</strong>s: 1968, Gabinete de Informação ao Público, Nações Unidas, Nova Iorque, 1971, p. 804.<br />

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