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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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Tor Sellström<br />

para as escolas e clínicas rurais que iam sendo criadas. Foi com este enquadramento que o<br />

PAIGC pediu ajuda à Suécia. O primeiro pedido em nome do movimento de libertação<br />

foi feito em Outubro de 1968 pelo historiador britânico Basil Davids<strong>on</strong> 49 a Per Wästberg,<br />

um membro destacado do Comité C<strong>on</strong>sultivo Sueco para a Ajuda Humanitária,<br />

organismo criado pelo governo sueco. 50 Wästberg, por sua vez, apresentou o pedido ao<br />

Ministério dos Negócios Estrangeiros. 51 Na sua carta, Davids<strong>on</strong>, destacando que actuava<br />

unicamente como ”um intermediário”, c<strong>on</strong>firmava poder organizar ”um debate directo<br />

com o PAIGC na altura julgada mais c<strong>on</strong>veniente” 52 , realçando haver ”uma necessidade<br />

urgente de serem disp<strong>on</strong>ibilizadas algumas ajudas de tipo não-militar nas z<strong>on</strong>as libertadas”,<br />

e acrescentando:<br />

Tenho a sensação de que seria muito útil se os nossos amigos na Suécia pudessem, tão rapidamente<br />

quanto possível, angariar o dinheiro necessário para comprar bens do seguinte tipo<br />

1) produtos médicos, e 2) leite em pó e carne enlatada. [...] A outra sensação que tenho é que<br />

devemos, neste momento, c<strong>on</strong>centrar-nos em avançar depressa em vez de querer fornecer<br />

grandes quantidades. Estou especialmente a pensar nos muitos casos relaci<strong>on</strong>ados com napalm<br />

que eles têm, ou na quase total ausência de stocks de produtos de primeira necessidade ou,<br />

ainda, no facto de (ao que julgo saber) estarem a receber muito pouca ajuda militar e quase<br />

nenhuma ajuda não-militar. 53<br />

O secretário geral do PAIGC fez, menos de dois meses depois, a sua primeira (de muitas)<br />

visitas à Suécia, a c<strong>on</strong>vite do Partido Social Democrata. 54 Essa visita marcou o início dos<br />

laços estreitos que uniriam a organização de Cabral e o partido no poder na Suécia, bem<br />

49. Davids<strong>on</strong> estava muito ligado à causa naci<strong>on</strong>alista nas colónias portuguesas desde os anos cinquenta e visitou as<br />

z<strong>on</strong>as libertadas na Guiné-Bissau em 1967. O seu relato, intitulado <str<strong>on</strong>g>The</str<strong>on</strong>g> liberati<strong>on</strong> of Guiné , foi publicado em 1969<br />

em língua sueca, com o título Frihetskampen i Guiné-Bissau (Natur och Kultur, Estocolmo).<br />

50. Inicialmente criado em 1964 para ac<strong>on</strong>selhar o governo na área da ajuda oficial sueca aos jovens refugiados<br />

africanos na área da educação, os membros do CCAH (nomeados oficialmente) representaram o Ministério dos<br />

Negócios Estrangeiros, a ASDI, as OGNs mais representativas e pessoas com c<strong>on</strong>hecimentos especiais sobre a África<br />

Austral. Per Wästberg fazia, a título de exemplo, parte deste último grupo. O comité desempenhou um papel vital<br />

do p<strong>on</strong>to de vista dos destinatários da ajuda humanitária enviada pela Suécia. A começar pela decisão do parlamento<br />

sueco de aumentar a ajuda directa oficial aos movimentos africanos de libertação, o seu mandato e número de<br />

membros foi aumentando gradual e regularmente ao l<strong>on</strong>go dos anos. Para além de dar assessoria à África Austral,<br />

o CCAH deu depois o seu apoio ao governo sueco na questão da ajuda humanitária à América Latina. O apoio<br />

dado pela Suécia ao Vietname e aos movimentos naci<strong>on</strong>alistas na Indochina nunca fez, c<strong>on</strong>tudo, parte do mandato<br />

do CCAH. O comité foi presidido pelo director geral da ASDI, que c<strong>on</strong>tava com o apoio de um pequeno secretariado,<br />

composto por funci<strong>on</strong>ários da ASDI e do Ministério dos Negócios Estrangeiros, para preparar as reuniões<br />

e os p<strong>on</strong>tos que nelas haviam de ser discutidos. Por norma, as recomendações eram apresentadas sob a forma de<br />

memorandos, cujo c<strong>on</strong>teúdo se baseava, por sua vez, em c<strong>on</strong>tribuições e comentários feitos por agentes relevantes<br />

no terreno. O trabalho do Comité era feito num espírito de estrita c<strong>on</strong>fidencialidade, havendo registo apenas das<br />

decisões tomadas e nunca dos debates tidos. As recomendações apresentadas pelo secretariado foram, com poucas<br />

excepções, seguidas pelo comité e aprovadas pelo governo, para serem aplicadas pela ASDI. Num período de ano e<br />

meio, entre 1981–82 – 1982–83, por exemplo, o CCAH discutiu 100 pedidos, que representaram no total um valor<br />

próximo dos 270 milhões de coroas suecas, ao l<strong>on</strong>go de 13 reuniões. Em 91 casos, o comité seguiu o parecer do secretariado,<br />

prop<strong>on</strong>do uma dotação superior em 2 dos casos e uma dotação mais reduzida ou a rejeição pura e simples<br />

da proposta em 7 casos (SIDA/Kjellmer: Memorandum (”Beredningen för humanitärt bistånd: Ärenden 1981–82<br />

och 1982–83”/”Comité C<strong>on</strong>sultivo para Ajuda Humanitária: P<strong>on</strong>tos 1981–82 e 1982–83”), ASDI, Estocolmo, 17<br />

de Fevereiro de 1983) (SDA).<br />

51. Carta enviada por Per Anger, Ministro dos Negócios Estrangeiros, a Olof Ripa, embaixador sueco na Libéria,<br />

Estocolmo, 19 de Dezembro de 1968 (MFA).<br />

52. Carta enviada por Basil Davids<strong>on</strong> a Per Wästberg, L<strong>on</strong>dres, 17 de Outubro de 1968 (MFA).<br />

53. Ibid.<br />

54. Arbetet, 13 de Dezembro de 1968. Durante a sua visita à Suécia, nos finais de Novembro de 1968, Amílcar Cabral<br />

enc<strong>on</strong>trou-se também com C.H. Hermanss<strong>on</strong>, secretário geral do Partido de Esquerda Comunista (Comité da<br />

África do Sul de Uppsala: ”Protokoll”/”Actas”, Uppsala, 8 de Novembro de 1968) (UPA). De acordo com Onésimo<br />

Silveira, representante permanente do PAIGC na Suécia, ”os c<strong>on</strong>tactos com os partidos comunistas do Ocidente<br />

eram, c<strong>on</strong>tudo, diminutos” e o PAIGC não quis ”imiscuir-se nas suas lutas” (ibid).

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