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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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O PAIGC da Guiné-Bissau: Desbravar terreno<br />

uma vez que o apoio mostra que a Suécia não segue uma via anti-portuguesa, mas sim um<br />

caminho de apoio à libertação. 11<br />

A partir de finais da década de sessenta, e até à queda do regime de Lisboa em Abril<br />

de 1974, e posterior independência de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique, tanto o<br />

governo quanto o movimento de solidariedade suecos c<strong>on</strong>centraram os seus esforços<br />

nos movimentos de libertação das colónias portuguesas. 12 A luta travada pelo PAIGC,<br />

Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde, e a destreza política<br />

e envergadura do seu secretário geral, Amílcar Cabral, tiveram um enorme impacto. A<br />

futura e importante participação nos movimentos de libertação da África Austral, com<br />

os quais já existia um relaci<strong>on</strong>amento estreito, foi em grande medida norteada pelo enc<strong>on</strong>tro<br />

com a luta num pequeno país da África Ocidental, que antes de 1969 era praticamente<br />

desc<strong>on</strong>hecido.<br />

A luta de libertação na Guiné-Bissau<br />

Tal como os outros territórios em África submetidos ao c<strong>on</strong>trolo de Portugal, a então<br />

chamada ”Guiné portuguesa” e as ilhas de Cabo Verde 13 foram, em 1951, c<strong>on</strong>stituci<strong>on</strong>almente<br />

incorporadas enquanto ”províncias ultramarinas” na metrópole portuguesa. Esta<br />

demarche, que, no fundo, foi uma manobra do regime português destinada a perpetuar<br />

o domínio col<strong>on</strong>ial, não se traduziu em qualquer benefício para os habitantes desses<br />

territórios, antes pelo c<strong>on</strong>trário. Comentando o ”absurdo da nossa situação”, Amílcar<br />

Cabral declarou em 1961 que<br />

os col<strong>on</strong>ialistas portugueses tentam c<strong>on</strong>vencer o mundo de que não têm colónias e de que os<br />

nossos países africanos são ”províncias portuguesas”. [...] Quando o país col<strong>on</strong>izador tem um<br />

governo fascista, quando o povo desse país é em grande parte analfabeto e não c<strong>on</strong>hece nem<br />

usufrui de direitos humanos fundamentais [...]; e quando, para além disso, a ec<strong>on</strong>omia da metrópole<br />

é subdesenvolvida, tal como ac<strong>on</strong>tece em Portugal, a violência e as mentiras atingem<br />

níveis sem paralelo e a falta de respeito pelos povos africanos não c<strong>on</strong>hece limites. 14<br />

Tal como em Angola e Moçambique, Portugal governou com punho de ferro na<br />

Guiné-Bissau e quaisquer protestos foram esmagados sem c<strong>on</strong>templações. Em finais dos<br />

anos cinquenta, a polícia secreta do regime, a infame PIDE 15 , estava já instalada em<br />

11. E<strong>the</strong>l Ringborg: Memorandum (”Stöd till befrielserörelser”/”Apoio aos movimentos de libertação”), Ministério<br />

dos Negócios Estrangeiros, Estocolmo, 7 de Setembro de 1971 (MFA). A fazer fé numa nota manuscrita, fica a sensação<br />

de que foi escrito como ”informação de base” para o Ministro dos Negócios Estrangeiros, que se fez representar<br />

na reunião do Comité C<strong>on</strong>sultivo da Ajuda Humanitária (CCAH), realizada duas semanas depois.<br />

12. A ajuda oficial, ainda que reduzida, ao ANC (iniciada em 1973), à SWAPO (1970), à ZANU (1969) e à ZAPU<br />

(1973) antecedeu o rec<strong>on</strong>hecimento, dado a esses movimentos pelos AGIS entre três e seis anos depois.<br />

13. Situadas no Atlântico, a cerca de 600 quilómetros a nordeste da Guiné, as ilhas de Cabo Verde tinham, no início<br />

dos anos sessenta, uma população total de pouco mais de um quarto de milhão de pessoas, maioritariamente de origem<br />

mista africana e portuguesa. A partir de finais do século XV, o col<strong>on</strong>ialismo português ligou estas ilhas, de uma<br />

forma íntima, à Guiné, no c<strong>on</strong>tinente africano. Muitos cabo-verdianos participavam activamente no PAIGC, a nível<br />

da liderança, mas não só. Apesar de ter nascido na Guiné, o próprio Amílcar Cabral era de origem cabo-verdiana.<br />

Tal como o nome indica, o PAIGC destacava a unidade dos dois territórios mas, além da propaganda política e de<br />

algumas actividades, o movimento de libertação nunca tentou incluir as ilhas na luta aberta pela libertação. Cabo<br />

Verde c<strong>on</strong>tinuou sob domínio português até ao golpe de estado em Lisboa, em Abril de 1974, o que c<strong>on</strong>tribuiu para<br />

alargar o fosso entre Cabo Verde e a Guiné-Bissau após a independência, e acabaria por levar à separação formal no<br />

início de 1981.<br />

14. Amílcar Cabral: Revoluti<strong>on</strong> in Guinea: An African People’s <strong>Struggle</strong> (”Revolução na Guiné: A luta de um povo<br />

africano”), Tomo 1, L<strong>on</strong>dres, 1969, p. 10.<br />

15. Polícia Internaci<strong>on</strong>al e de Defesa do Estado.<br />

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