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130 Tor Sellström Gotemburgo. No seguimento de uma reunião organizada pela Amnistia Internacional, onde falou o historiador britânico Basil Davidson, que participara no congresso da FRE- LIMO no Niassa em Julho de 1968, membros da SDS decidiram organizar uma manifestação pacífica ”sit-in” numa fábrica da ASEA no centro de Gotemburgo. Tal como no caso das manifestações de Båstad, também esta acabou por provocar uma fortíssima intervenção da polícia e foram presos nada mais nada menos que quarenta e dois manifestantes. 107 Quatro dias mais tarde, uma agência do banco Enskilda Banken, propriedade do grupo Wallenberg, foi igualmente ocupada. 108 Em meados de Dezembro houve manifestações coordenadas contra a ASEA em toda a Suécia, incluindo Gotemburgo, Lund, Malmö, Estocolmo, Västerås, Umeå e Uppsala. 109 As manifestações não se dirigiam apenas contra a ASEA. Houve manifestações com o mesmo vigor contra o governo social democrata, acusado de dualidade em relação à luta de libertação nacional em Moçambique. As manifestações tiveram origem numa série de afirmações políticas e acções do governo. Assim, enquanto o governo de Erlander não cedeu na sua defesa da participação da ASEA no consórcio ZAMCO, a Suécia votou, a 29 de Novembro de 1968, a favor da resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, que não só deplorava ”a expulsão arbitrária da população africana e o estabelecimento de imigrantes estrangeiros” nos territórios detidos pelos portugueses, mas também ”as actividades de interesses financeiros que aí se movimentam”. 110 Segundo a resolução das Nações Unidas, tais actividades ”obstruíam a luta pela auto-determinação, liberdade e independência e reforçavam os esforços militares de Portugal”. 111 A oposição sueca mencionou os mesmos argumentos em relação à oposição ao envolvimento da ASEA, mas o governo fez ouvidos de mercador às vozes internas, e não viria a assumir as consequências da sua posição declarada internacionalmente. A contradição óbvia não escapou ao movimento anti-Cahora Bassa. Assim, em representação do Partido Social Democrata no governo, Pierre Schori e Bernt Carlsson, este último a trabalhar com o Ministro do Comércio, Gunnar Lange, foram duramente criticados pela U-aktionen e outros, num debate público em Estocolmo, em finais de Fevereiro de 1969. 112 Por outro lado, os social democratas deram os primeiros passos concretos no sentido de dar ajuda oficial ao PAIGC da Guiné-Bissau e aos movimentos de libertação da África Austral no auge desta discussão sobre Cahora Bassa, em finais de 1968. Nesta questão concreta, foram seguidas as recomendações da resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas de Novembro. A resolução apelava a todos os membros ”para dar aos povos nos territórios sob controlo português, o auxílio moral e material necessários para que sejam repostos os seus direitos inalienáveis”. 113 Dez dias mais tarde, pouco depois da visita do líder do PAIGC, Amílcar Cabral, à Suécia a convite do partido do governo, este pedido receberia uma resposta positiva por parte do Ministro dos Negócios Estrangeiros sueco, 107. Göteborgs-Tidningen, 23 de Novembro de 1968. 108. Södra Afrika Informationsbulletin, No. 5, 1969, p. 36. 109. Svenska Dagbladet, 15 de Dezembro de 1968. Calcula-se que entre 300 e 400 manifestantes em Västerås, cidade onde fica a sede da ASEA, tenham sido confrontados por 130 polícias (Ibid.). Seria a maior concentração policial de todos os tempos em Västerås (Vestmanlands Läns Tidning, 16 de Dezembro de 1968). 110. Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas 2395 (XXIII) de 29 de Novembro de 1968 citado em Yearbook of the United Nations: 1968 (”Anuário das Nações Unidas”), Gabinete de Informação Pública, Nova Iorque, p. 804. 111. Ibid. 112. Dagens Nyheter, 1 de Março de 1969. 113. Yearbook of the United Nations: 1968 (”Anuário das Nações Unidas”), p. 803.
A sombra de Cahora Bassa ”ASEA apoia o Fascismo—Apoiem a FRELIMO”: Manifestações contra Cahora Bassa em Västerås, Dezembro de 1968. (Foto: Vestmanlands Läns Tidning) Torsten Nilsson. No que viria a ser uma declaração histórica, Nilsson declarou a 9 de Dezembro de 1968 que o governo sueco estava ”em contacto com uma série de líderes dos movimentos de libertação africanos” e ”preparado para conceder auxílio humanitário que permitisse aos membros destes movimentos terem melhores condições para prosseguirem a sua luta pela liberdade dos seus povos”. 114 No caso de Moçambique, foi anunciado simultaneamente que o Partido Social Democrata tinha doado 10.000 coroas suecas à FRELIMO e que a Juventude Social Democrata tinha doado outras 5.000. 115 Em meados dos anos setenta, aquando do debate sobre a solidariedade com o Vietname, esta aparente contradição entre ajuda humanitária oficial aos movimentos de libertação da África Austral e os interesses económicos da Suécia na região viria a ser muito realçada. Depois do voto da Suécia nas Nações Unidas e do anúncio do apoio aos movimentos de libertação, a posição tomada pelo governo social democrata não foi, estranhamente, considerada contraditória pela FRELIMO. Após as deliberações da Assembleia Geral das Nações Unidas, Miguel Murupa, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros da FRELIMO, 116 visitou Estocolmo em Dezembro de 1968, para agradecer 114. ”Discurso do Ministro dos Negócios Estrangeiros”, 9 de Dezembro de 1968 em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1968, Estocolmo, 1969, p. 116. 115. Dagens Nyheter, 11 de Dezembro de 1968. 116. Murupa e Mutaca desempenharam papéis activos e influentes no debate de Cahora Bassa e no desenvolvimento e radicalização do movimento sueco de solidariedade com Moçambique. Por isso, é irónico que ambos viessem a deixar a FRELIMO pouco tempo depois. Murupa, que se formou em economia na Universidade Howard em Washington, era, como Mutaca, um dos protegidos de Eduardo Mondlane. Após o assassinato do presidente da FRELIMO, Murupa deixou o movimento de libertação, para se juntar ao Departamento de Guerra Psicológica do exército português em Moçambique (Gibson op. cit., p. 285). Mutaca ficou na FRELIMO até Fevereiro de 1970, quando, juntamente com o representante no Egipto, Judas Honwana, se juntou a Uria Simango na luta pela liderança pós-Mondlane. O primeiro representante da FRELIMO na Suécia e noutros países escandinavos seria também o último. No entanto, imediatamente antes da revolução em Lisboa de Abril de 1974, Mutaca escreveu a Samora 131
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A sombra de Cahora Bassa<br />
”ASEA apoia o Fascismo—Apoiem a FRELIMO”: Manifestações c<strong>on</strong>tra Cahora Bassa em Västerås, Dezembro de 1968.<br />
(Foto: Vestmanlands Läns Tidning)<br />
Torsten Nilss<strong>on</strong>. No que viria a ser uma declaração histórica, Nilss<strong>on</strong> declarou a 9 de Dezembro<br />
de 1968 que o governo sueco estava ”em c<strong>on</strong>tacto com uma série de líderes dos<br />
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permitisse aos membros destes movimentos terem melhores c<strong>on</strong>dições para prosseguirem<br />
a sua luta pela liberdade dos seus povos”. 114 No caso de Moçambique, foi anunciado<br />
simultaneamente que o Partido Social Democrata tinha doado 10.000 coroas suecas à<br />
FRELIMO e que a Juventude Social Democrata tinha doado outras 5.000. 115<br />
Em meados dos anos setenta, aquando do debate sobre a solidariedade com o Vietname,<br />
esta aparente c<strong>on</strong>tradição entre ajuda humanitária oficial aos movimentos de libertação<br />
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muito realçada. Depois do voto da Suécia nas Nações Unidas e do anúncio do apoio<br />
aos movimentos de libertação, a posição tomada pelo governo social democrata não foi,<br />
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Geral das Nações Unidas, Miguel Murupa, Secretário de Estado dos Negócios<br />
Estrangeiros da FRELIMO, 116 visitou Estocolmo em Dezembro de 1968, para agradecer<br />
114. ”Discurso do Ministro dos Negócios Estrangeiros”, 9 de Dezembro de 1968 em Ministério dos Negócios<br />
Estrangeiros: Documents <strong>on</strong> Swedish Foreign Policy: 1968, Estocolmo, 1969, p. 116.<br />
115. Dagens Nyheter, 11 de Dezembro de 1968.<br />
116. Murupa e Mutaca desempenharam papéis activos e influentes no debate de Cahora Bassa e no desenvolvimento<br />
e radicalização do movimento sueco de solidariedade com Moçambique. Por isso, é irónico que ambos viessem<br />
a deixar a FRELIMO pouco tempo depois. Murupa, que se formou em ec<strong>on</strong>omia na Universidade Howard em<br />
Washingt<strong>on</strong>, era, como Mutaca, um dos protegidos de Eduardo M<strong>on</strong>dlane. Após o assassinato do presidente da<br />
FRELIMO, Murupa deixou o movimento de libertação, para se juntar ao Departamento de Guerra Psicológica do<br />
exército português em Moçambique (Gibs<strong>on</strong> op. cit., p. 285). Mutaca ficou na FRELIMO até Fevereiro de 1970,<br />
quando, juntamente com o representante no Egipto, Judas H<strong>on</strong>wana, se juntou a Uria Simango na luta pela liderança<br />
pós-M<strong>on</strong>dlane. O primeiro representante da FRELIMO na Suécia e noutros países escandinavos seria também<br />
o último. No entanto, imediatamente antes da revolução em Lisboa de Abril de 1974, Mutaca escreveu a Samora<br />
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