Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
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A sombra de Cahora Bassa<br />
principais membros do movimento sueco de solidariedade para com a África Austral,<br />
notou de forma autocrítica que<br />
nós, nos Comités da África do Sul rapidamente diminuímos a importância da FRELIMO em<br />
comparação com a FNL do Vietname. [...] Pensámos que o nosso trabalho c<strong>on</strong>tra o imperialismo<br />
e o capitalismo era tão importante como o da FRELIMO, senão mais. Não foi a modéstia<br />
que me guiou quando no Tidsignal critiquei a FRELIMO por não ser socialista, fosse qual<br />
fosse o significado desse facto no c<strong>on</strong>texto de Moçambique. Os meus c<strong>on</strong>tactos com a FRELI-<br />
MO poderiam ter terminado de vez. No entanto, o líder da FRELIMO, Marcelino dos Santos,<br />
compreendeu que as minhas intenções eram boas, mas que estava mal informado. [...] Algum<br />
tempo mais tarde, nós, que nos víamos como verdadeiros revoluci<strong>on</strong>ários e que tínhamos<br />
criticado a FRELIMO por ser oficialmente representada por ”uma americana de classe média”<br />
e ”uma d<strong>on</strong>a de casa de Chicago” [...] recebemos lições sobre as políticas revoluci<strong>on</strong>árias da<br />
FRELIMO da própria Janet M<strong>on</strong>dlane. 81<br />
Entretanto, a verdade era que o governo social democrata e as lideranças sindicais, desde<br />
meados de 1968 até à c<strong>on</strong>clusão do debate em Setembro de 1969, c<strong>on</strong>tinuaram estoicamente<br />
a defender a ASEA, alienando assim importantes grupos de eleitores do movimento<br />
operário e c<strong>on</strong>tribuindo para a formação de uma segunda geração do movimento<br />
sueco de solidariedade para com a África Austral, mais alargada e radical.<br />
Resolver o debate de Cahora Bassa<br />
”Preocupados com as notícias dos jornais e com as exigências da SSU para que o governo<br />
impeça a ASEA de participar”, 82 a empresa sueca informou o representante sindical da<br />
fábrica de Ludvika, em meados de Maio de 1968, que a produção para o projecto representaria<br />
empregos seguros para cerca de 300 trabalhadores, durante três anos. Com esta<br />
informação, o sindicato disse ”não podemos mostrar-nos solidários com os negros de<br />
Moçambique às custas dos nossos empregos”, 83 posição que foi apoiada pela Federação<br />
Sueca de Trabalhadores Metalúrgicos 84 e pelo presidente da LO, Arne Geijer. 85 Ao mesmo<br />
tempo, o Ministro do Comércio, Gunnar Lange, autorizou o eventual envolvimento<br />
da ASEA no projecto Cahora Bassa. Pressi<strong>on</strong>ado por Per Ahlmark no parlamento, Lange<br />
declarou que o governo via de forma negativa os investimentos suecos em Moçambique,<br />
acrescentando, porém, que o papel da ASEA neste projecto não era de investidor, mas<br />
sim de vendedor. 86 Mesmo antes da adjudicação do c<strong>on</strong>trato ao c<strong>on</strong>sórcio ZAMCO,<br />
foi traçada uma linha divisória no seio do movimento social democrata, com a SSU e o<br />
jornal Aft<strong>on</strong>bladet, pertencente à LO, a opor-se à participação da ASEA e a Federação dos<br />
Trabalhadores Metalúrgicos, a LO e o governo a defendê-la.<br />
A ala mais radical do Partido Liberal mostrava-se igualmente c<strong>on</strong>tra a participação da<br />
ASEA. Era liderada por Per Ahlmark, o jovem deputado que já em 1961 tinha exigido<br />
a expulsão de Portugal da EFTA e em 1967 teve um diálogo especialmente aceso com o<br />
Ministro do Comércio Gunnar Lange sobre este assunto. Após o anúncio da participação<br />
81. Dick Urban Vestbro: ”Afrikagrupperna och befrielserörelserna: Självkritiskt om ”kritisk solidaritet”” (”Grupos<br />
de África e os movimentos de libertação: autocrítica sobre ”solidariedade crítica”) (sem indicação de local nem de<br />
data) (AGA).<br />
82. O director da ASEA Ludvika, Olle Dirke, citado em Dagens Nyheter, 15 de Maio de 1968.<br />
83. Aft<strong>on</strong>bladet, 14 de Maio de 1968.<br />
84. Dagens Nyheter, 18 de Maio de 1968.<br />
85. Aft<strong>on</strong>bladet, 18 de Maio de 1968.<br />
86. Dagens Nyheter, 17 de Maio de 1968.<br />
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