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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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124<br />

Tor Sellström<br />

vras fortes, proferidas por alguém que tinha sido nomeado pessoalmente pelo presidente<br />

da FRELIMO. No entanto, no dia anterior, 10 de Maio de 1968, o núcleo de Estocolmo<br />

da Juventude Social Democrata já tinha pedido ao governo sueco que impedisse a participação<br />

da ASEA. Isto viria a marcar o início de uma cisão cada vez maior entre grandes<br />

facções do movimento social democrata e o governo sueco, em torno do projecto Cahora<br />

Bassa. 78<br />

Há dois factores que poderão explicar melhor que outros o repúdio imediato da juventude<br />

sueca pelo projecto Cahora Bassa e pelo envolvimento da ASEA. Em primeiro lugar,<br />

esta questão surgiu num momento especialmente c<strong>on</strong>turbado. Apenas uma semana antes<br />

do anúncio da participação da ASEA, tinham tido lugar as manifestações de Båstad, c<strong>on</strong>tra<br />

o jogo de ténis da Taça Davis entre a Suécia e a Rodésia. Este jogo de ténis e o projecto<br />

Cahora Bassa eram vistos, em c<strong>on</strong>junto, como um rec<strong>on</strong>hecimento tácito dos regimes de<br />

minoria branca da África Austral por parte do governo sueco, que era simultaneamente<br />

criticado pela sua passividade em relação à guerra do Vietname. Para além disso, o grupo<br />

financeiro Wallenberg estava ligado a ambas as questões, indirectamente, através do seu<br />

patrocínio da Federação Sueca de Ténis no jogo da Taça Davis, e directamente, por ser<br />

d<strong>on</strong>o da ASEA, no caso de Cahora Bassa. Apesar de o lema do grupo Wallenberg dizer<br />

”ser, mas não ser visto”, o grupo foi identificado pelos jovens, que repararam também que<br />

eram sobretudo as empresas da esfera da Wallenberg que estavam instaladas na África do<br />

Sul. Durante o debate sobre o boicote, em inícios dos anos sessenta, essa presença tinha<br />

já ganho visibilidade através de várias declarações favoráveis ao regime do apar<strong>the</strong>id. Åke<br />

Vre<strong>the</strong>m, director do grupo ASEA, tinha, por exemplo, como havia sido observado, num<br />

debate na televisão em Outubro de 1963, caracterizado a África do Sul como sendo ”a<br />

mais distinta colónia e um pilar da civilização em África”, uma declaração que viria a ser<br />

citada amiúde nos anos seguintes pelo movimento de solidariedade sueco. 79<br />

Na parte esquerda do espectro político, havia secções cada vez mais activas da juventude<br />

sueca, e muito influenciadas pelo debate sobre o Vietname, que viam no projecto<br />

Cahora Bassa uma c<strong>on</strong>firmação da aliança entre o governo social democrata e o capital<br />

exportador sueco. Ao comentar o facto de o sindicato de uma fábrica ASEA na pequena<br />

cidade de Ludvika, directamente afectada por uma eventual encomenda ZAMCO, se ter<br />

pr<strong>on</strong>unciado de forma favorável à participação da empresa, o Comité da África do Sul de<br />

Uppsala, por exemplo, defendeu em meados de 1969 que<br />

o Partido Social Democrata é um partido reformista burguês, apoiado em boas relações com<br />

o grande capital. Leva a cabo uma política de colaboração de classes, que c<strong>on</strong>duz a uma formação<br />

social característica das sociedades capitalistas muito desenvolvidas, nomeadamente ao<br />

fascismo estrutural. Nessas sociedades, os capitalistas podem obrigar grupos de trabalhadores<br />

a aband<strong>on</strong>ar o internaci<strong>on</strong>alismo proletário e, no caso de Ludvika, a adoptar uma posição<br />

estreitamente naci<strong>on</strong>alista. 80<br />

Estas opiniões viriam rapidamente a marginalizar os poucos Comités da África do Sul<br />

que ainda sobreviviam, e a afastá-los do debate central em relação ao papel da ASEA e<br />

das relações da Suécia com o movimento de libertação de Moçambique. Além disso, os<br />

comités, muito influenciados pela guerra do Vietname, desc<strong>on</strong>fiavam das credenciais<br />

revoluci<strong>on</strong>árias da FRELIMO. Alguns anos mais tarde, Dick Urban Vestbro, um dos<br />

78. Aft<strong>on</strong>bladet, 11 de Maio de 1968.<br />

79. Por exemplo, pelo grupo de apoio FRELIMO-Suécia em FRELIMO, No. 1 (sem indicação de local nem de data,<br />

mas Estocolmo, 1968).<br />

80. Södra Afrika Informati<strong>on</strong>sbulletin, No. 5, 1969, pp. 5–6.

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