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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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120<br />

Tor Sellström<br />

dos maiores projectos de c<strong>on</strong>strução a ser planeado. Uma vez c<strong>on</strong>cluída a obra, não seria<br />

apenas a maior barragem de África, mas a quinta maior do mundo.<br />

Cahora Bassa representava, no entanto, muito mais do que uma central hidroeléctrica<br />

numa z<strong>on</strong>a remota e subdesenvolvida do norte de Moçambique. Segundo o plano, esta<br />

barragem não viria apenas facilitar a exploração de depósitos ricos de minérios, mas também<br />

a irrigação de grandes áreas de terra agrícola, permitindo eventualmente a fixação<br />

de um milhão de portugueses nessa área. Além disso, ao c<strong>on</strong>struir-se esta barragem no<br />

Zambeze, criava-se um gigantesco lago interior artificial perto da fr<strong>on</strong>teira da Rodésia,<br />

que o governo português esperava vir a usar para abrir novas rotas de transporte para o<br />

interior de África. Esta perspectiva foi bem acolhida pelo governo da UDI de Ian Smith,<br />

internaci<strong>on</strong>almente isolado, que ficou ainda mais c<strong>on</strong>tente com a hipótese de haver uma<br />

”Z<strong>on</strong>a industrializada na África Austral” numa região muito próxima. Numa primeira<br />

fase, o presidente do C<strong>on</strong>selho Naci<strong>on</strong>al de Exportações da Rodésia, um país sujeito a<br />

sanções obrigatórias da parte do C<strong>on</strong>selho de Segurança das Nações Unidas, declarou<br />

que ӎ possivelmente uma das maiores oportunidades para os produtores rodesianos. [...]<br />

Promete ser uma área com perspectivas a l<strong>on</strong>go prazo e que deve ser abordada e estimulada,<br />

para se tentar colher os doces frutos que indubitavelmente surgirão.” 56<br />

Resumindo, com planeamento a cargo de Portugal, muito financiamento da África<br />

do Sul e apoio da Rodésia, a barragem de Cahora Bassa era um empreendimento estratégico<br />

para defender os regimes de minoria branca da África Austral. Como tal, ela foi<br />

imediatamente definida como alvo da FRELIMO que, no início da luta armada em Setembro<br />

de 1964, tinha c<strong>on</strong>quistado aos portugueses grande parte das províncias no norte<br />

de Moçambique, de Cabo Delgado e Niassa e que, aquando da preparação do projecto<br />

de Cahora Bassa, já tinha iniciado os combates na província do Tete. O primeiro choque<br />

simbólico entre o col<strong>on</strong>ialismo e a libertação na África Austral, por causa de Cahora<br />

Bassa, deu-se em Março de 1968, quando três c<strong>on</strong>sórcios internaci<strong>on</strong>ais apresentaram as<br />

propostas a c<strong>on</strong>curso em Lisboa, ao mesmo tempo que a FRELIMO anunciava a abertura<br />

de mais uma frente militar no Tete. Numa c<strong>on</strong>ferência de imprensa em Dar es Salaam<br />

para relatar o avanço da luta de libertação, Eduardo M<strong>on</strong>dlane salientou que<br />

a relevância desta frente da luta armada não se limita ao nosso país. É também importante no<br />

c<strong>on</strong>texto mais geral do combate na África Austral. Basta recordar que Tete tem fr<strong>on</strong>teiras comuns<br />

com o Zimbabué, <strong>on</strong>de os nossos irmãos estão também, neste preciso momento, a lutar<br />

pela sua libertação c<strong>on</strong>tra o regime minoritário racista do qual Portugal é o principal aliado.<br />

A nossa luta em Tete é uma manifestação c<strong>on</strong>creta da nossa solidariedade para com o povo do<br />

Zimbabué e uma c<strong>on</strong>tribuição directa para a sua vitória. O mesmo se aplica à África do Sul,<br />

cujo interesse no projecto de Cahora Bassa é tão grande que já enviou tropas para defender o<br />

local da barragem. 57<br />

Além dos relatórios da FRELIMO, em inícios de 1968, havia muito pouca informação<br />

disp<strong>on</strong>ível sobre o decurso da luta de libertação em Moçambique. Não tinha havido<br />

qualquer visita de um jornalista independente às z<strong>on</strong>as libertadas e a ”falta de c<strong>on</strong>fiança<br />

nos comunicados da FRELIMO era tão gritante, que havia dúvidas se se deveria acreditar<br />

de todo na situação se não tivesse estado presente um jornalista de renome. 58 Uma<br />

56. Citado em governo da Rodésia: ”<str<strong>on</strong>g>The</str<strong>on</strong>g> Way to Cabora Bassa” (O Caminho para Cahora Bassa), Imprensa Naci<strong>on</strong>al,<br />

Salisbury (sem indicação de data), p. 2.<br />

57. FRELIMO: C<strong>on</strong>ferência de imprensa de Eduardo C. M<strong>on</strong>dlane, Dar es Salaam, 25 de Março de 1968.<br />

58. Richard Gibs<strong>on</strong>: African Liberati<strong>on</strong> movements: C<strong>on</strong>temporary <strong>Struggle</strong>s against White Minority Rule, (”A libertação<br />

africana: lutas c<strong>on</strong>temporâneas c<strong>on</strong>tra governos de minorias brancas”), Oxford University Press, L<strong>on</strong>dres,

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