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118 Tor Sellström Comissão Parlamentar de Negócios Estrangeiros rejeitou esta moção, dizendo que não se pode deixar de lembrar que a EFTA é uma organização inteiramente virada para questões económicas, especialmente comerciais, e que não tem quaisquer disposições formais que permitam a um estado membro exercer pressão política contra qualquer outro. A convenção da EFTA também não inclui disposições que prevejam a exclusão de um estado membro. 49 Nesse mesmo dia, 30 Março de 1967, quando a Comissão de Negócios Estrangeiros apresentou este parecer, houve na primeira câmara do parlamento sueco um debate invulgarmente intenso, entre Per Ahlmark, deputado recém-eleito pelos liberais e o Ministro do Comércio, Gunnar Lange, sobre o tema da EFTA, Portugal e Suécia. Argumentando que ”a Suécia e outros países da EFTA, ao apoiar o desenvolvimento económico de Portugal, estavam a contribuir para o prolongamento das guerras em Angola, Moçambique e na Guiné portuguesa” e, referindo a convenção da EFTA, Ahlmark declarou que ”esta organização deve tentar que seja feita uma utilização racional dos recursos e uma melhoria gradual do nível de vida em cada estado-membro”. Ele citou igualmente Eduardo Mondlane e exigiu também que a Suécia fizesse pressão sobre Portugal na EFTA. Deveriam tentar ”fazer com que Portugal concordasse em dar a independência e em permitir governos de maioria” às colónias africanas. ”A passividade na EFTA não poderá ser compensada por eventuais movimentações nas Nações Unidas. Deve ser nossa tarefa”, disse Ahlmark, fazer, em todos os momentos, o que for necessário para que termine a tragédia nas colónias africanas de Portugal. Hoje em dia, estamos a contribuir para o seu prolongamento. [...] Penso que a Suécia deve, na medida do possível, obstruir o desenvolvimento económico de Portugal. Devemos abordar o assunto em todas as organizações internacionais em que o possamos fazer. O nosso objectivo último será obter sanções eficientes de as Nações Unidas, mas o facto das Nações Unidas ainda não terem decidido diminuir o comércio com Portugal, não é razão para que nós o aumentemos. 50 Gunnar Lange, Ministro do Comércio, tinha outra opinião. Classificou a intervenção de Ahlmark como um ”ataque demagógico” e, tal como a Comissão de Negócios Estrangeiros, rejeitou qualquer acção política no quadro da EFTA: Não se verificam os pressupostos políticos nem há possibilidade formal de exercer pressões do tipo preconizado por Ahlmark através de organizações ligadas ao comércio e com funções concomitantes, como é caso da EFTA [...]. É no quadro das Nações Unidas que devemos levar a cabo acções políticas. Nos termos da Convenção das Nações Unidas, os Estados-membros estão obrigados a seguir as decisões do Conselho de Segurança. Enquanto não houver uma decisão vinculativa, no sentido de o Conselho de Segurança aprovar sanções, os membros de organizações como a EFTA estão vinculados ao acordo que regula os objectivos e actividades dessas organizações. Mais, a Suécia nunca pensou, nos últimos anos, em ter de recorrer a medidas comerciais unilaterais para pressionar governos que tenham uma política com a qual discordemos. 51 África Austral. 49. ”Aprovação de parecer pelo Comité dos Negócios Estrangeiros do parlamento”, 30 de Março de 1967, em Ministério de Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1967 , Estocolmo, 1968, p. 116. 50. ”Portugal, Suécia e EFTA”, uma tradução não publicada de Gunnel Arrbäck com o registo do Parlamento sueco do debate entre Per Ahlmark e Gunnar Lange na primeira câmara, 30 de Março de 1967 sem indicação de data nem de local]. O debate foi parcialmente reproduzido no jornal oficial da FRELIMO Mozambique Revolution (No. 31, Outubro-Novembro de 1967, p. 5). 51. Ibid. e ”Resposta do Ministro do Comércio a uma interpelação da primeira câmara do parlamento”, 30 de Março de 1967, do Ministério de Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy: 1967, Estocolmo, 1968, pp. 118–120.

A sombra de Cahora Bassa Apesar de Lange não fazer menção aos objectivos da EFTA quanto a uma utilização racional dos recursos e à melhoria do nível de vida nos estados-membros, expressou a sua opinião em relação ao aumento de cooperação económica entre a Suécia e Portugal, considerando que as trocas comerciais e o desenvolvimento, não o isolamento, eram a chave da democracia em Portugal e da autodeterminação nas suas colónias: O incremento do comércio resultante da cooperação da EFTA, contribuiu, claro está, para o desenvolvimento económico de Portugal. No entanto, não será fácil determinar em que medida é que o avanço económico afectou a política portuguesa em África [...]. Há razões para pensar que o progresso económico poderá estimular um processo de libertação democrática. Temos todas as razões para reflectir sobre a seguinte questão: qual é o Portugal que será mais sensível às mudanças sociais e políticas: será uma comunidade subdesenvolvida com muito analfabetismo, ou será uma comunidade onde a industrialização está a avançar e consegue fazer com que se invista na educação e na formação? Não há dúvidas de que a opinião pública neste país espera, de forma quase unânime, que os habitantes dos territórios portugueses tenham oportunidade de decidir os seus destinos, e também que venha a haver um sistema de governo democrático em Portugal. O que está verdadeiramente em jogo é a contribuição que nós, como país, podemos dar para esse objectivo. 52 A confiança de Lange no desenvolvimento industrial como alavanca da democracia em Portugal e nas suas colónias africanas viria a ser duramente criticada apenas um ano mais tarde e encontraria oposição por parte de sectores da opinião pública, da imprensa e de organizações políticas suecas, incluindo no próprio Partido Social Democrata. Cahora Bassa na África Austral e na Suécia Em finais dos anos sessenta, a campanha contra a participação da ASEA no projecto hidroeléctrico de Cahora Bassa 53 no rio Zambeze viria, mais do que qualquer outra questão na África Austral, a mobilizar e radicalizar a opinião pública sueca, contribuindo tanto para o desenvolvimento do movimento de solidariedade reorganizado como para a decisão de prestar auxílio humanitário oficial aos movimentos de libertação da região. 54 Concebida originalmente nos anos cinquenta, a gigantesca barragem de Cahora Bassa, na remota província do Tete em Moçambique, implicava de início a construção de uma barragem no rio Zambeze, e de uma central hidroeléctrica, bem como instalação de linhas de transmissão para a área industrial e mineira de Witwatersrand na África do Sul. 55 Apoiado pelos interesses da África do Sul, sobretudo pela empresa privada Anglo- American Corporation, mas também pelo governo de Pretória, através da Electricity Supply Commission, ESCOM, (”Comissão de Abastecimento de Electricidade”), tratava-se dum 52. Ibid. 53. Ou Cabora Bassa. 54. Ao mesmo tempo, a luta na Guiné-Bissau e a diplomacia do PAIGC tinham, sem dúvida, um grande impacto tanto no movimento de solidariedade, como no governo e no parlamento suecos. 55. Para obter mais informações sobre o projecto de Cahora Bassa, ver Keith Middlemas: Cabora Bassa: Engineering and Politics in Southern Africa, (Cahora Bassa: Engenharia e política na África Austral) Weidenfeld e Nicolson, Londres, 1975 e World Council of Churches: Cabora Bassa and the Struggle forSouthern Africa (Cahora Bassa e a luta pela África Austral), WCC, Genebra (sem indicação de data). Foram publicadas várias obras sobre Cahora Bassa na Suécia em finais dos anos sessenta e inícios dos setenta. Ver, por exemplo, FRELIMO–Suécia: FRELIMO, No 1 (sem indicação de local nem de data, mas Estocolmo, 1968); Johan Althoff: Regeringen och Cabora Bassa (”O governo e Cahora Bassa”); U-aktionens skrifter, No. 1, de Julho de 1969 e Södra Afrika Informationsbulletin, No. 5, de Agosto de 1969. Cahora Bassa e a sua gémea angolana, o projecto de Cunene, foram também discutidas numa edição especial de Södra Afrika Informationsbulletin em 1972 (”Folkmord i Portugals kolonier”/”Genocídio nas colónias portuguesas”; No. 15–16, de Maio de 1972). 119

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Tor Sellström<br />

Comissão Parlamentar de Negócios Estrangeiros rejeitou esta moção, dizendo que<br />

não se pode deixar de lembrar que a EFTA é uma organização inteiramente virada para questões<br />

ec<strong>on</strong>ómicas, especialmente comerciais, e que não tem quaisquer disposições formais que<br />

permitam a um estado membro exercer pressão política c<strong>on</strong>tra qualquer outro. A c<strong>on</strong>venção<br />

da EFTA também não inclui disposições que prevejam a exclusão de um estado membro. 49<br />

Nesse mesmo dia, 30 Março de 1967, quando a Comissão de Negócios Estrangeiros<br />

apresentou este parecer, houve na primeira câmara do parlamento sueco um debate invulgarmente<br />

intenso, entre Per Ahlmark, deputado recém-eleito pelos liberais e o Ministro<br />

do Comércio, Gunnar Lange, sobre o tema da EFTA, Portugal e Suécia. Argumentando<br />

que ”a Suécia e outros países da EFTA, ao apoiar o desenvolvimento ec<strong>on</strong>ómico<br />

de Portugal, estavam a c<strong>on</strong>tribuir para o prol<strong>on</strong>gamento das guerras em Angola, Moçambique<br />

e na Guiné portuguesa” e, referindo a c<strong>on</strong>venção da EFTA, Ahlmark declarou<br />

que ”esta organização deve tentar que seja feita uma utilização raci<strong>on</strong>al dos recursos e<br />

uma melhoria gradual do nível de vida em cada estado-membro”. Ele citou igualmente<br />

Eduardo M<strong>on</strong>dlane e exigiu também que a Suécia fizesse pressão sobre Portugal na<br />

EFTA. Deveriam tentar ”fazer com que Portugal c<strong>on</strong>cordasse em dar a independência<br />

e em permitir governos de maioria” às colónias africanas. ”A passividade na EFTA não<br />

poderá ser compensada por eventuais movimentações nas Nações Unidas. Deve ser nossa<br />

tarefa”, disse Ahlmark,<br />

fazer, em todos os momentos, o que for necessário para que termine a tragédia nas colónias<br />

africanas de Portugal. Hoje em dia, estamos a c<strong>on</strong>tribuir para o seu prol<strong>on</strong>gamento. [...] Penso<br />

que a Suécia deve, na medida do possível, obstruir o desenvolvimento ec<strong>on</strong>ómico de Portugal.<br />

Devemos abordar o assunto em todas as organizações internaci<strong>on</strong>ais em que o possamos fazer.<br />

O nosso objectivo último será obter sanções eficientes de as Nações Unidas, mas o facto das<br />

Nações Unidas ainda não terem decidido diminuir o comércio com Portugal, não é razão para<br />

que nós o aumentemos. 50<br />

Gunnar Lange, Ministro do Comércio, tinha outra opinião. Classificou a intervenção de<br />

Ahlmark como um ”ataque demagógico” e, tal como a Comissão de Negócios Estrangeiros,<br />

rejeitou qualquer acção política no quadro da EFTA:<br />

Não se verificam os pressupostos políticos nem há possibilidade formal de exercer pressões<br />

do tipo prec<strong>on</strong>izado por Ahlmark através de organizações ligadas ao comércio e com funções<br />

c<strong>on</strong>comitantes, como é caso da EFTA [...]. É no quadro das Nações Unidas que devemos levar<br />

a cabo acções políticas. Nos termos da C<strong>on</strong>venção das Nações Unidas, os Estados-membros<br />

estão obrigados a seguir as decisões do C<strong>on</strong>selho de Segurança. Enquanto não houver uma<br />

decisão vinculativa, no sentido de o C<strong>on</strong>selho de Segurança aprovar sanções, os membros de<br />

organizações como a EFTA estão vinculados ao acordo que regula os objectivos e actividades<br />

dessas organizações. Mais, a Suécia nunca pensou, nos últimos anos, em ter de recorrer a<br />

medidas comerciais unilaterais para pressi<strong>on</strong>ar governos que tenham uma política com a qual<br />

discordemos. 51<br />

África Austral.<br />

49. ”Aprovação de parecer pelo Comité dos Negócios Estrangeiros do parlamento”, 30 de Março de 1967, em<br />

Ministério de Negócios Estrangeiros: Documents <strong>on</strong> Swedish Foreign Policy: 1967 , Estocolmo, 1968, p. 116.<br />

50. ”Portugal, Suécia e EFTA”, uma tradução não publicada de Gunnel Arrbäck com o registo do Parlamento sueco<br />

do debate entre Per Ahlmark e Gunnar Lange na primeira câmara, 30 de Março de 1967 sem indicação de data nem<br />

de local]. O debate foi parcialmente reproduzido no jornal oficial da FRELIMO Mozambique Revoluti<strong>on</strong> (No. 31,<br />

Outubro-Novembro de 1967, p. 5).<br />

51. Ibid. e ”Resposta do Ministro do Comércio a uma interpelação da primeira câmara do parlamento”, 30 de<br />

Março de 1967, do Ministério de Negócios Estrangeiros: Documents <strong>on</strong> Swedish Foreign Policy: 1967, Estocolmo,<br />

1968, pp. 118–120.

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