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116 Tor Sellström Durante a visita seguinte, em Outubro de 1967, Mondlane subiu o tom das críticas. Num encontro com o deputado liberal Per Ahlmark, não só pediu que Portugal fosse expulso da EFTA, mas informou os leitores suecos que o sentimento da FRELIMO para com a Suécia naquele momento era de bastante amargura. Quando cá vim, alguns colegas do movimento perguntaram-me porque ia eu visitar um país que é aliado de Portugal nas suas políticas comerciais. 34 Respondi-lhes que iria tentar influenciar a discussão e auxiliar quem quisesse exigir medidas contra Portugal. 35 Quem exigia que se tomasse medidas eram os comités suecos de solidariedade com a África Austral, nomeadamente jovens e estudantes, em grandes sectores do movimento social democrata e no Partido Liberal. Quando a questão de Cahora Bassa acabou por entrar no debate político nacional, em meados de 1968, tanto o presidente da FRELI- MO como o seu recém-chegado representante, Lourenço Mutaca, juntaram as suas vozes às daqueles que criticavam a posição do governo social democrata ao defender as relações comerciais com Portugal e dos que criticavam os argumentos da liderança da LO a favor da suposta participação da ASEA em Moçambique. Os liberais contra o governo A parceria comercial da Suécia com Portugal na EFTA foi muito criticada no início, especialmente pelos membros mais jovens do Partido Liberal (oposição), que normalmente era defensor do comércio livre. Como já se referiu, já em Julho de 1961 um grupo de jovens liberais enviou uma carta ao governo sueco dizendo que ”ao aceitar que Portugal seja um membro, a Suécia está a dar tanto apoio moral, como apoio económico indirecto à opressão colonial, obstruindo assim a luta pela liberdade”. Este grupo era encabeçado por Per Ahlmark, presidente da Juventude Liberal, que, como deputado em finais dos anos 1960, viria a ser o político sueco mais activo contra a participação de Portugal na EFTA. Os críticos defendiam que, ao apoiar a economia portuguesa, a Suécia e os demais membros da EFTA reforçavam os recursos à disposição de Lisboa para continuar as guerras em África. Os desenvolvimentos económicos positivos em Portugal durante os anos 60 foram acompanhados por um aumento das dotações militares. Em 1965, quatro anos após o início das guerras coloniais, o montante afectado à defesa era pelo menos 48 por cento do orçamento nacional, consideravelmente superior ao de qualquer outra nação europeia. 36 Simultaneamente, houve um aumento acentuado tanto dos investimentos directos da Suécia em Portugal, como das trocas comerciais entre estes dois países. Mais, em meados de 1960, Portugal começou a tornar-se um destino turístico cada vez mais apetecível para os turistas suecos. Entre 1965 e 1966, por exemplo, o número de visitantes suecos aumentou mais de um terço, 37 o que levou Pierre Schori a comentar ao jornal social democrata Tiden que ”no ano passado 12.500 turistas suecos contribuíram para o grande empenho pelo Vietname e o relativo silêncio no que toca a Portugal” (Ibid., p. 38). 34. Nesta mesma altura, o jornal oficial da FRELIMO Mozambique Revolution publicou um artigo sobre a EFTA, dizendo que ”a contradição entre a imagem escandinava e a presente política do governo fica mais clara de dia para dia” (Mozambique Revolution, No. 31, Outubro–Novembro 1967, p. 8). 35. Citado em Expressen, 9 de Outubro de 1967. 36. Cann op. cit., p. 9. 37. Pierre Schori: ”Portugal” em Tiden, No. 8, 1967, p. 494.

A sombra de Cahora Bassa financiamento da guerra”. 38 Desde o início da guerra em Angola que a Suécia proibira as exportações de armamento e de equipamento militar para Portugal. 39 Logo no início de 1967, o Comité da África do Sul de Lund, no entanto, revelou que a Volvo, fabricante sueco de viaturas, tinha anúncios do seu veículo todo-o-terreno Laplander, descrito como ”completamente adaptado às actividades militares e civis mais exigentes” 40 , no Jornal do Exército, jornal oficial do exército português, tendo o comité pedido explicações ao governo. 41 Anders Johansson também fez alusão a esta questão no Dagens Nyheter. 42 Em nome do Ministério do Comércio, o Inspector de Equipamento Militar 43 acabou por explicar que o veículo Volvo se destinava ao ”transporte de pessoal” e, como tal, não era visto como material bélico. Confirmou ainda que o Laplander tinha, de facto, sido vendido a Portugal. 44 Ainda assim, excepção feita a Eduardo Mondlane, em meados de 1960, poucas vozes se fizeram ouvir contra a EFTA e a parceria comercial sueco-portuguesa, mesmo por parte dos próprios movimentos de libertação. Por exemplo, em Janeiro de 1967, Janet Mondlane escreveu a Sven Hamrell dizendo que ”a FRELIMO não fez qualquer declaração oficial sobre Portugal e a EFTA. Marcelino dos Santos, Ministro dos Negócios Estrangeiros, diz que apesar de querer ajudar de imediato, para já nada pode fazer”. 45 Além do mais, tanto o MPLA como a FNLA de Angola se mantinham surpreendentemente silenciosos em relação a este tema, pelo menos nos seus contactos com a Suécia, enquanto Amílcar Cabral da Guiné-Bissau dava mostras de uma atitude menos crítica do que Mondlane. Ao visitar a Suécia em Dezembro de 1968, ou seja, no auge do debate sobre Cahora Bassa, o secretário geral do PAIGC, numa entrevista com Pierre Schori, expressou a sua opinião de que Portugal não deveria ser excluído da EFTA já que ”só lhe daria mais margem de manobra”. 46 Já em 1967, numa missão de apuramento de factos a Portugal, Schori tinha dito ao jornal social democrata Tiden que a oposição política em Portugal criticava a participação na EFTA. 47 Apesar disso, havia poucas vozes críticas no seio do movimento social democrata. Em vez disso era o Partido da Esquerda e, sobretudo, um grupo radical do Partido Liberal que exigia que a Suécia tomasse medidas contra Portugal através da EFTA. Citando Eduardo Mondlane, o Partido da Esquerda, comunista, apresentou uma moção no parlamento em Janeiro de 1967, na qual exigia ”pressões e medidas reais contra Portugal nas Nações Unidas, na EFTA e noutras organizações internacionais”. 48 No entanto, a 38. Ibid. 39. Dagens Nyheter, 20 de Maio de 1967. 40. Jornal do Exército, de Maio de 1966 (Anúncio reproduzido pelo Södra Afrika Informationsbulletin, No. 1, 1967). 41. ”Volvo, regeringen och exportrestriktionerna” (”Volvo, o governo e as restrições à exportação) em Södra Afrika Informationsbulletin, No. 1, 1967, pp. 7–8. 42. Anders Johansson: ”Volvo i Portugal” em Dagens Nyheter, 18 de Maio de 1967. 43. Em sueco, krigsmaterielinspektör. 44. B. Bjuggren: ”Beträffande Volvo i Portugal” (”Em relação à Volvo em Portugal”) em Dagens Nyheter, 20 de Maio de 1967. 45. Carta de Janet Rae Mondlane a Sven Hamrell, Dar es Salaam, 26 de Janeiro de 1967 (AHM). 46. Citado em ”Portugals argumentnöd bevisar: Kolonialkrigen går dåligt!” (”A falta de argumentos de Portugal prova que as guerras coloniais não correm de feição!”), em Arbetet, 13 de Dezembro de 1968. 47. Pierre Schori: ”Portugal”, em Tiden, No. 8, 1967, p. 494. 48. Parlamento sueco 1967: Moção No. 466 na primeira câmara (Werner) e Moção No. 590 na segunda câmara (Hector et al.), Riksdagens Protokoll, 1967, pp. 1 e 1–2. Nesta mesma moção, o Partido Comunista pediu que a Suécia desse ”apoio financeiro e material ao movimento de libertação em Moçambique”, ou seja, à FRELIMO. Foi a primeira moção do Parlamento sueco a favor da concessão de apoio oficial a um movimento de libertação na 117

A sombra de Cahora Bassa<br />

financiamento da guerra”. 38<br />

Desde o início da guerra em Angola que a Suécia proibira as exportações de armamento<br />

e de equipamento militar para Portugal. 39 Logo no início de 1967, o Comité da<br />

África do Sul de Lund, no entanto, revelou que a Volvo, fabricante sueco de viaturas,<br />

tinha anúncios do seu veículo todo-o-terreno Laplander, descrito como ”completamente<br />

adaptado às actividades militares e civis mais exigentes” 40 , no Jornal do Exército, jornal<br />

oficial do exército português, tendo o comité pedido explicações ao governo. 41 Anders Johanss<strong>on</strong><br />

também fez alusão a esta questão no Dagens Nyheter. 42 Em nome do Ministério<br />

do Comércio, o Inspector de Equipamento Militar 43 acabou por explicar que o veículo<br />

Volvo se destinava ao ”transporte de pessoal” e, como tal, não era visto como material<br />

bélico. C<strong>on</strong>firmou ainda que o Laplander tinha, de facto, sido vendido a Portugal. 44<br />

Ainda assim, excepção feita a Eduardo M<strong>on</strong>dlane, em meados de 1960, poucas vozes<br />

se fizeram ouvir c<strong>on</strong>tra a EFTA e a parceria comercial sueco-portuguesa, mesmo por<br />

parte dos próprios movimentos de libertação. Por exemplo, em Janeiro de 1967, Janet<br />

M<strong>on</strong>dlane escreveu a Sven Hamrell dizendo que ”a FRELIMO não fez qualquer declaração<br />

oficial sobre Portugal e a EFTA. Marcelino dos Santos, Ministro dos Negócios<br />

Estrangeiros, diz que apesar de querer ajudar de imediato, para já nada pode fazer”. 45<br />

Além do mais, tanto o MPLA como a FNLA de Angola se mantinham surpreendentemente<br />

silenciosos em relação a este tema, pelo menos nos seus c<strong>on</strong>tactos com a Suécia,<br />

enquanto Amílcar Cabral da Guiné-Bissau dava mostras de uma atitude menos crítica<br />

do que M<strong>on</strong>dlane. Ao visitar a Suécia em Dezembro de 1968, ou seja, no auge do debate<br />

sobre Cahora Bassa, o secretário geral do PAIGC, numa entrevista com Pierre Schori,<br />

expressou a sua opinião de que Portugal não deveria ser excluído da EFTA já que ”só lhe<br />

daria mais margem de manobra”. 46<br />

Já em 1967, numa missão de apuramento de factos a Portugal, Schori tinha dito ao<br />

jornal social democrata Tiden que a oposição política em Portugal criticava a participação<br />

na EFTA. 47 Apesar disso, havia poucas vozes críticas no seio do movimento social democrata.<br />

Em vez disso era o Partido da Esquerda e, sobretudo, um grupo radical do Partido<br />

Liberal que exigia que a Suécia tomasse medidas c<strong>on</strong>tra Portugal através da EFTA. Citando<br />

Eduardo M<strong>on</strong>dlane, o Partido da Esquerda, comunista, apresentou uma moção no<br />

parlamento em Janeiro de 1967, na qual exigia ”pressões e medidas reais c<strong>on</strong>tra Portugal<br />

nas Nações Unidas, na EFTA e noutras organizações internaci<strong>on</strong>ais”. 48 No entanto, a<br />

38. Ibid.<br />

39. Dagens Nyheter, 20 de Maio de 1967.<br />

40. Jornal do Exército, de Maio de 1966 (Anúncio reproduzido pelo Södra Afrika Informati<strong>on</strong>sbulletin, No. 1,<br />

1967).<br />

41. ”Volvo, regeringen och exportrestrikti<strong>on</strong>erna” (”Volvo, o governo e as restrições à exportação) em Södra Afrika<br />

Informati<strong>on</strong>sbulletin, No. 1, 1967, pp. 7–8.<br />

42. Anders Johanss<strong>on</strong>: ”Volvo i Portugal” em Dagens Nyheter, 18 de Maio de 1967.<br />

43. Em sueco, krigsmaterielinspektör.<br />

44. B. Bjuggren: ”Beträffande Volvo i Portugal” (”Em relação à Volvo em Portugal”) em Dagens Nyheter, 20 de Maio<br />

de 1967.<br />

45. Carta de Janet Rae M<strong>on</strong>dlane a Sven Hamrell, Dar es Salaam, 26 de Janeiro de 1967 (AHM).<br />

46. Citado em ”Portugals argumentnöd bevisar: Kol<strong>on</strong>ialkrigen går dåligt!” (”A falta de argumentos de Portugal<br />

prova que as guerras col<strong>on</strong>iais não correm de feição!”), em Arbetet, 13 de Dezembro de 1968.<br />

47. Pierre Schori: ”Portugal”, em Tiden, No. 8, 1967, p. 494.<br />

48. Parlamento sueco 1967: Moção No. 466 na primeira câmara (Werner) e Moção No. 590 na segunda câmara<br />

(Hector et al.), Riksdagens Protokoll, 1967, pp. 1 e 1–2. Nesta mesma moção, o Partido Comunista pediu que a<br />

Suécia desse ”apoio financeiro e material ao movimento de libertação em Moçambique”, ou seja, à FRELIMO.<br />

Foi a primeira moção do Parlamento sueco a favor da c<strong>on</strong>cessão de apoio oficial a um movimento de libertação na<br />

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