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Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

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A sombra de Cahora Bassa<br />

tacado da organização. 26<br />

Desde inícios dos anos sessenta, alguns dos movimentos de libertação da África Austral<br />

tinham passado a ter representação de facto na Suécia, através de membros seus que<br />

aí residiam e estudavam. 27 Alguns deles obtiveram as bolsas de estudo após intervenção<br />

directa dos líderes dos respectivos movimentos. A proposta de M<strong>on</strong>dlane de meados de<br />

1966 representou, no entanto, a primeira iniciativa com motivação política para haver<br />

um representante de um movimento de libertação ligado formalmente ao partido do governo<br />

e, em geral, ao país. Na verdade, a ideia de um membro da FRELIMO representar<br />

oficialmente a organização na Suécia naquela altura, três anos antes de ter sido apoiado o<br />

princípio do apoio oficial sueco aos movimentos de libertação, era bastante c<strong>on</strong>troversa,<br />

de um p<strong>on</strong>to de vista protocolar, sendo que o representante escolhido só viria a ocupar o<br />

cargo em finais de 1967. 28 Nessa altura, o Partido Social Democrata recorrera à Fundação<br />

Tage Erlander para Cooperação Internaci<strong>on</strong>al, percursora do Fundo de Solidariedade<br />

Internaci<strong>on</strong>al, criado em Outubro de 1967, para c<strong>on</strong>vidar representantes da FRELIMO<br />

para se familiarizarem com o funci<strong>on</strong>amento dos sindicatos e das organizações políticas<br />

da Suécia. 29 Mais, o presidente da FRELIMO tinha abordado esta ideia com os seus<br />

c<strong>on</strong>tactos no Partido Liberal. 30<br />

Ainda assim, a iniciativa de M<strong>on</strong>dlane viria a desbravar terreno. A sua proposta no<br />

sentido de um representante da FRELIMO combinar trabalho político com estudos<br />

académicos, acabaria por nortear o Comité C<strong>on</strong>sultivo para Ajuda Humanitária que, em<br />

meados de 1969, determinou que as bolsas de estudo para estudantes africanos na Suécia<br />

”deveriam, tanto quanto possível, ser limitadas a pessoas com uma ligação especial aos<br />

movimentos de libertação” e que os seus resultados fossem parcialmente analisados tendo<br />

em base as ”actividades de informação que desempenhassem na Suécia”. 31<br />

Independentemente da afinidade com o partido no governo, o presidente da FRE-<br />

LIMO, nas suas negociações com a Suécia, nunca comprometeu o seu empenho na luta<br />

armada, nem esc<strong>on</strong>deu as suas críticas às relações ec<strong>on</strong>ómicas do governo sueco com<br />

Portugal ou limitou os seus c<strong>on</strong>tactos aos social democratas. Por exemplo, já de regresso<br />

a Estocolmo em Setembro de 1966, M<strong>on</strong>dlane declarou veementemente à imprensa<br />

sueca: ”queremos alargar a nossa guerra”. 32 Ao mesmo tempo deu uma entrevista a David<br />

Wirmark do Partido Liberal, da oposição não-socialista, na qual declarou que<br />

a Suécia é actualmente demasiado neutra. [...] Se as palavras de solidariedade da Suécia para<br />

c<strong>on</strong>nosco são para serem levadas a sério, é legítimo esperar que a Suécia faça pressão sobre<br />

Portugal no seio da EFTA, mas também de forma directa. O objectivo desta pressão deverá ser<br />

a expulsão de Portugal da EFTA e um boicote ec<strong>on</strong>ómico ao país. 33<br />

26. Ibid.<br />

27. No caso da SWANU da Namíbia, havia membros importantes da sua liderança política a estudar na Suécia.<br />

28. Carta de Anders Johanss<strong>on</strong> ao autor, Eskilstuna, 26 de Abril de 1998.<br />

29. Um dos primeiros membros da FRELIMO a ser c<strong>on</strong>vidado pelo Partido Social Democrata foi Lopes Tembe. Ver<br />

”Vi kommer att befria Moçambique!” (”Libertaremos Moçambique!”), em Borås Tidning, 26 de Março de 1968.<br />

30. Carta de Eduardo M<strong>on</strong>dlane a David Wirmark, Dar es Salaam, 16 de Setembro de 1966 (AHM).<br />

31. Os representantes dos movimentos de libertação da África Austral que eram financiados através da ASDI, ou<br />

seja, com fundos oficiais suecos, eram-no normalmente pela Suécia e por outros países nórdicos, embora por vezes,<br />

outros países europeus também participassem. No caso da SWAPO da Namíbia, por exemplo, a Alemanha Ocidental<br />

e a Áustria estavam no raio de actuação do representante com sede em Estocolmo.<br />

32. ”Vi vill öka ut vårt krig” (”Queremos alargar a nossa guerra”), em Aft<strong>on</strong>bladet, 12 de Setembro de 1966. Ver<br />

também Dagens Nyheter, 14 de Setembro de 1966.<br />

33. David Wirmark: ”Intervju med Eduardo M<strong>on</strong>dlane” (”Entrevista a Eduardo M<strong>on</strong>dlane”) em Liberal Debatt, No.<br />

4, 1966, pp. 37–38. Nesta mesma entrevista, M<strong>on</strong>dlane declarou: ”Admito que vejo um desnível na Suécia entre o<br />

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