Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...
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A sombra de Cahora Bassa<br />
M<strong>on</strong>dlane, o Partido Social Democrata e a oposição liberal<br />
Pouco depois da segunda visita de M<strong>on</strong>dlane à Suécia os c<strong>on</strong>tornos da futura relação começaram<br />
a aparecer. Em nome da Comissão Política do Partido Social Democrata, Pierre<br />
Schori escreveu ao presidente da FRELIMO em Novembro de 1965, pedindo orientações<br />
em relação à oposição política portuguesa. Nas suas relações internaci<strong>on</strong>ais, até então,<br />
o partido no governo tinha sobretudo seguido as políticas dos membros dominantes<br />
da Internaci<strong>on</strong>al Socialista. Perguntar a opinião de um movimento de libertação africano<br />
(que não era membro) sobre a situação política de um país europeu, ligado à Suécia e<br />
senhor col<strong>on</strong>ial do território disputado pelo movimento, era, sem qualquer dúvida, uma<br />
indicação de um rumo novo e independente. Na sua carta a M<strong>on</strong>dlane, Schori dizia<br />
a Frente Patriótica de Libertação Naci<strong>on</strong>al 16 escreveu-nos a dizer que estão dispostos a dar-nos<br />
informações sobre a luta antifascista em Portugal e nas suas colónias. Querem ainda ter relações<br />
mais estreitas c<strong>on</strong>nosco. Antes de se empreender qualquer acção, queria no entanto, entrar em<br />
c<strong>on</strong>tacto c<strong>on</strong>sigo para saber qual a sua opinião sobre esta organização. [...] Por favor diga-nos<br />
qual a sua opinião acerca das diversas organizações envolvidas no combate a Salazar. 17<br />
Dois meses mais tarde, após uma ausência prol<strong>on</strong>gada de Dar es Salaam, M<strong>on</strong>dlane resp<strong>on</strong>deu<br />
a Schori, para a sede do Partido Social Democrata, dizendo<br />
a FRELIMO está a trabalhar em colaboração estreita com esta frente e pessoalmente estou<br />
satisfeito com o facto de a Frente Patriótica de Libertação Naci<strong>on</strong>al ser, realmente, uma frente<br />
unida das várias tendências políticas em Portugal, que estão decididas a libertar-se do fascismo.<br />
Acrescentaria que me alegro por saber que a frente está, no seu todo, de acordo com as aspirações<br />
dos povos das colónias portuguesas em África. [...] Assim, gostaria de apoiar qualquer<br />
acordo que possam c<strong>on</strong>seguir para lhes dar o auxílio necessário no sentido de fortalecer o seu<br />
programa de acção c<strong>on</strong>tra o fascismo português. 18<br />
M<strong>on</strong>dlane foi c<strong>on</strong>vidado pela Internaci<strong>on</strong>al Socialista (IS) a participar no seu c<strong>on</strong>gresso<br />
em Estocolmo realizado em inícios de Maio 1966. Nessa altura, dirigiu-se igualmente ao<br />
movimento operário sueco em Gävle, a 1 de Maio de 1966. Como foi dito anteriormente,<br />
o c<strong>on</strong>gresso da IS acabou por se transformar numa reunião especialmente c<strong>on</strong>turbada,<br />
com tensões entre os membros europeus de maior porte, sobretudo o Partido Trabalhista<br />
16. A Frente Patriótica de Libertação Naci<strong>on</strong>al foi criada em finais de 1962 pelo General Humberto Delgado. Com<br />
o seu quartel-general na Argélia, a FPLN reunia um leque alargado de forças anti-salazaristas, incluindo o Partido<br />
Comunista Português (PCP). Deu-se uma cisão em meados de 1964, quando Delgado decidiu m<strong>on</strong>tar a sua própria<br />
organização de oposição. A partir de então, a FPLN passaria a ser dominada pelo PCP. Em 1965 estreitaram-se os<br />
elos entre a FPLN e o CONCP.<br />
17. Carta de Pierre Schori a Eduardo M<strong>on</strong>dlane, Estocolmo, 22 de Novembro de 1965 (AHM).<br />
18. Carta de Eduardo M<strong>on</strong>dlane a Pierre Schori, Dar es Salaam, 11 de Janeiro de 1966 (AHM). Seis meses mais<br />
tarde, Schori estabeleceu c<strong>on</strong>tacto directo com a FPLN (carta de Pierre Schori a Eduardo M<strong>on</strong>dlane, Estocolmo<br />
(sem data, mas anterior a Setembro de 1966) (AHM). No entanto, o Partido Social Democrata sueco acabou por<br />
apoiar a Acção Socialista Portuguesa de Mário Soares, a percursora do Partido Socialista Português. Em inícios de<br />
1967, Schori visitou Portugal numa missão de levantamento de dados para a Internaci<strong>on</strong>al Socialista. Entrevistado<br />
trinta anos mais tarde, Schori recordou: ”levei a cabo acções secretas e fiz uma espécie de radiografia da oposição<br />
política. Penso que terá sido a primeira. Foi então que c<strong>on</strong>heci Mário Soares, no seu escritório de advogado, que defendera<br />
muitos movimentos de libertação em tribunal. [...] O meu relatório chamava-se ”Portugal: um colosso com<br />
pés de barro”. [...] Descrevi as várias forças políticas existentes no país e recomendei que se apoiasse o pequeno Partido<br />
Socialista que, na altura, se chamava Acção Socialista. Tinha apenas cerca de quinze ou vinte membros activos<br />
reunidos em torno de Mário Soares, mas eles tinham capacidade de ver o futuro e tinham c<strong>on</strong>tactos com democratas<br />
espalhados por todo o país. Recomendei que fossem c<strong>on</strong>vidados para participar no c<strong>on</strong>gresso dos membros da Internaci<strong>on</strong>al<br />
Socialista. Mário Soares começou então a ser c<strong>on</strong>vidado regularmente e quando a ditadura caiu, em 1974,<br />
era ele o único político com fortes ligações internaci<strong>on</strong>ais” (entrevista a Pierre Schori, p. 330). Ver também Pierre<br />
Schori: ”Portugal” em Tiden, No. 8, 1967, pp. 483–495. Neste artigo para o jornal oficial social democrata, Schori<br />
c<strong>on</strong>cluiu que ” a questão portuguesa será finalmente resolvida em África” (p. 495).<br />
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