Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ... Book 2.indb - The Nordic Documentation on the Liberation Struggle ...

liberationafrica.se
from liberationafrica.se More from this publisher
19.06.2013 Views

100 Tor Sellström dos programas de formação para os prisioneiros políticos, foram raras as vezes em que o governo, no princípio, canalizou verbas para os grupos mais desprotegidos da população dos respectivos países. No caso de Moçambique, o apoio dado de início ao Instituto Moçambicano na Tanzânia foi, apesar de tudo e a partir de 1967, complementado por um programa para as escolas secundárias geridas pelos protestantes de Lourenço Marques e de Inhambane através da junta de missões da Igreja Metodista Unida da Suécia. 97 A missão da Igreja da Suécia e várias igrejas livres suecas tinha, desde a segunda metade do século XIX, estabelecido uma presença significativa (África do Sul e Zimbabué) e contactos estreitos (Namíbia) na África Austral. Sobretudo devido ao controlo exercido, em comunhão de interesses, pelas autoridades coloniais portuguesas e pela igreja católica, 98 não foi criada actividade missionária directa sueca em Angola nem em Moçambique. Contudo, em ambos os países, os metodistas suecos apoiavam e participavam na Missão Metodista de cariz internacional e liderada pelos norte-americanos. Criada em Moçambique em finais do século XIX e utilizando vernáculos africanos para dar instrução, a missão metodista alargou a sua base muito rapidamente mas sofria, mesmo assim, uma oposição cada vez maior do regime português. A utilização de línguas africanas foi proibida em 1921 e em 1941 foi aprovado o Estatuto Missionário 99 para limitar ainda mais a influência das escolas protestantes. O catolicismo tornou-se, na prática, e a partir dessa altura, a religião oficial da colónia e a ”formação em África organizada em três fases, cada uma das quais concebida para eliminar o máximo de estudantes e para constituir uma barreira ao acesso superior”. 100 Daí que, em 1950, o analfabetismo fosse quase total, ou, para sermos mais exactos, rondava os 98 por cento. 101 Apesar das condições adversas, as escolas metodistas sobreviveram e, em meados dos anos sessenta, decidiram iniciar um programa nacional de bolsas de estudo para as suas instituições de ensino secundário situadas na capital moçambicana e, mais tarde, também em Inhambane. A Igreja Metodista Unida da Suécia candidatou-se a financiamento da ASDI para o programa e em 1967 foi dada uma primeira contribuição, modesta, de 30.000 coroas suecas, 102 tendo o apoio financeiro do governo sueco ao programa dos metodistas passado, a partir daí, a ser permanente. De 30.000, a dotação normal anual aumentou para 100.000 coroas suecas em 1972. 103 Durante os oito anos, ou seja, nos anos fiscais de 1967–68 a 1974–75, foi pago pela ASDI um valor total de 570.000 coroas suecas, por intermédio dos metodistas suecos, o que representou cerca de metade do or- 97. Em sueco, Metodistkyrkans Yttre Mission. 98. A comunhão de interesses entre o estado português e a igreja católica explica em grande parte a razão pela qual a grande parte dos líderes nacionalistas da geração de 60, em Angola e Moçambique, tinha um historial junto das igrejas protestantes. No caso de Angola, Agostinho Neto do MPLA era metodista, enquanto Holden Roberto do FNLA era baptista e Jonas Savimbi da UNITA protestante da Igreja Unida. Em Moçambique, Eduardo Mondlane fez a instrução primária em escolas metodistas. Pela mesma razão, na Rodésia (Zimbabué) era a Igreja Anglicana quem apoiava o regime da minoria branca, enquanto muitos líderes nacionalistas, entre os quais Robert Mugabe, foram criados num ambiente de oposição, católico-missionário. 99. A lei do Missionário, criada entre o governo português e a igreja católica. 100. Allen e Barbara Isaacman: Mozambique: From Colonialism to Revolution, 1900–1982, Westview Press, Boulder, 1983, p. 50. 101. Ibid., Tabela 3.10, p. 52. As taxas de analfabetismo em Angola e na Guiné-Bissau eram, na mesma altura, de 97 e 99 por cento, respectivamente. 102. CCAH: ”Flyktingutbildningsprogrammet under budgetåret 1968–69” (”O programa de formação dos refugiados para o exercício 1968–69”), Estocolmo, 29 de Março de 1968 (SDA). 103. CCAH: ”Stipendiering av afrikanska sekundärskoleelever i Moçambique genom Metodistkyrkans yttre mission” (”Bolsas para estudantes africanos do ensino secundário em Moçambique através da Junta de Missões da Igreja Metodista da Suécia”), Estocolmo, 22 de Março de 1973 (SDA).

Os Mondlane e a FRELIMO de Moçambique çamento do programa de ensino secundário que, além disso, era sobretudo apoiado pela Junta das Missões Metodistas, de Nova Iorque, e pelo Conselho Mundial das Igrejas, em Genebra. 104 Entre 150 e 200 estudantes moçambicanos negros receberam bolsas de estudo, no âmbito do programa patrocinado pelos metodistas, no início dos anos 70, o que lhes permitiu frequentar o ensino secundário. 105 O programa deu também possibilidades à Igreja Metodista de subsidiar os estudantes que estavam preparados para frequentar o ensino superior no estrangeiro, visto que era recusado o acesso aos negros em Moçambique. Alguns deles foram para universidades portuguesas e outros para os Estados Unidos da América. Entre eles contava-se Graça Simbine, futura mulher do presidente da FRE- LIMO, Samora Machel e primeira Ministra da Educação e da Cultura de Moçambique independente. 106 FRELIMO e Vietname Foi a informação à população e as campanhas de angariação de fundos dos estudantes do ensino secundário e superior suecos que, no final dos anos 60, trouxeram para o conhecimento quotidiano do povo sueco as questões da educação e da luta pela independência nacional em Moçambique, contribuindo de forma significativa para o papel charneira da FRELIMO no movimento de solidariedade para com a África Austral. As campanhas, por sua vez, foram em grande medida inspiradas pelos contactos, precoces e bem consolidados, de Eduardo e Janet Mondlane com os movimentos de juventude e de estudantes na Suécia. A primeira visita dos Mondlane à Suécia, realizada em Setembro de 1964 teve, como se disse, como anfitrião a associação de estudantes Verdandi e, durante a sua estadia, tanto o presidente da FRELIMO como a sua mulher, a directora do Instituto Moçambicano, falaram aos estudantes universitários em Uppsala. Eduardo Mondlane voltou à Suécia exactamente um ano depois, em Setembro de 1965, a convite do Conselho Nacional de Juventude da Suécia (SUL), que coordenava o boicote ao consumo de bens da África do Sul do apartheid, iniciado em Março de 1963. A segunda visita teve um perfil político muito mais elevado do que a primeira, incluindo conversações com Olof Palme, com o Partido Social Democrata e com a Confederação Sueca dos Sindicatos 107 , e foi, apesar de tudo, dominada pelas reuniões com as organizações de jovens e de estudantes. 108 Para 104. Com base em valores de pagamentos feitos da contabilidade anual da ASDI, apurados por Ulla Beckman para este estudo. 105. CCAH: ”Dagordning/Stipendiering i Moçambique genom Metodistkyrkans yttre mission” (”Agenda/Bolsas de estudo em Moçambique através da Junta de Missões da Igreja Metodista da Suécia”), Estocolmo, 7 de Abril de 1972 (SDA). O apoio oficial sueco ao programa dos Metodistas em Moçambique foi debatido com a FRELIMO, tendo o movimento de libertação apoiado o programa, mas opondo-se a um pedido apresentado pela Igreja Metodista à ASDI, em 1971, relativamente à construção de um albergue de juventude em Lourenço Marques. O CCAH seguiu o conselho da FRELIMO e o pedido foi recusado (Ibid.) Apesar da oposição da FRELIMO, o movimento metodista internacional conseguiu angariar fundos para o albergue, o Covo Lar, que foi inaugurado em 1973 (Alf Helgeson: Church, State and People in Moçambique: An Historical Study with Special Emphasis on Methodist Developments in the lnhambane Region, Tese de doutoramento, Studia Missionalia Upsaliensia LIV, Uppsala, 1994, p. 360). 106. Helgesson op. cit., p. 361. Juntamente com os seus colegas estudantes universitários de Lisboa, Graça Simbine saiu de Portugal para se unir à FRELIMO na Tanzânia, em finais de 1972. Depois disso assumiu um cargo no Instituto Moçambicano. 107. SUL: ”Program för Dr. Eduardo Mondlane” (”Programa para o Dr. Eduardo Mondlane”), Estocolmo, 12 de Setembro de 1965 (AHM). Ver também Stockholms-Tidningen, 14 de Setembro de 1965. 108. Durante a sua visita à Suécia, Eduardo Mondlane também usou da palavra perante a Conferência dos Conselhos Nacionais de Juventude (CENYC), a filial europeia da Assembleia Mundial da Juventude (World Assembly of Youth) (WAY). 101

100<br />

Tor Sellström<br />

dos programas de formação para os prisi<strong>on</strong>eiros políticos, foram raras as vezes em que o<br />

governo, no princípio, canalizou verbas para os grupos mais desprotegidos da população<br />

dos respectivos países. No caso de Moçambique, o apoio dado de início ao Instituto Moçambicano<br />

na Tanzânia foi, apesar de tudo e a partir de 1967, complementado por um<br />

programa para as escolas secundárias geridas pelos protestantes de Lourenço Marques e<br />

de Inhambane através da junta de missões da Igreja Metodista Unida da Suécia. 97<br />

A missão da Igreja da Suécia e várias igrejas livres suecas tinha, desde a segunda metade<br />

do século XIX, estabelecido uma presença significativa (África do Sul e Zimbabué) e<br />

c<strong>on</strong>tactos estreitos (Namíbia) na África Austral. Sobretudo devido ao c<strong>on</strong>trolo exercido,<br />

em comunhão de interesses, pelas autoridades col<strong>on</strong>iais portuguesas e pela igreja católica,<br />

98 não foi criada actividade missi<strong>on</strong>ária directa sueca em Angola nem em Moçambique.<br />

C<strong>on</strong>tudo, em ambos os países, os metodistas suecos apoiavam e participavam na<br />

Missão Metodista de cariz internaci<strong>on</strong>al e liderada pelos norte-americanos. Criada em<br />

Moçambique em finais do século XIX e utilizando vernáculos africanos para dar instrução,<br />

a missão metodista alargou a sua base muito rapidamente mas sofria, mesmo assim,<br />

uma oposição cada vez maior do regime português. A utilização de línguas africanas foi<br />

proibida em 1921 e em 1941 foi aprovado o Estatuto Missi<strong>on</strong>ário 99 para limitar ainda<br />

mais a influência das escolas protestantes. O catolicismo tornou-se, na prática, e a partir<br />

dessa altura, a religião oficial da colónia e a ”formação em África organizada em três fases,<br />

cada uma das quais c<strong>on</strong>cebida para eliminar o máximo de estudantes e para c<strong>on</strong>stituir<br />

uma barreira ao acesso superior”. 100 Daí que, em 1950, o analfabetismo fosse quase total,<br />

ou, para sermos mais exactos, r<strong>on</strong>dava os 98 por cento. 101<br />

Apesar das c<strong>on</strong>dições adversas, as escolas metodistas sobreviveram e, em meados dos<br />

anos sessenta, decidiram iniciar um programa naci<strong>on</strong>al de bolsas de estudo para as suas<br />

instituições de ensino secundário situadas na capital moçambicana e, mais tarde, também<br />

em Inhambane. A Igreja Metodista Unida da Suécia candidatou-se a financiamento<br />

da ASDI para o programa e em 1967 foi dada uma primeira c<strong>on</strong>tribuição, modesta, de<br />

30.000 coroas suecas, 102 tendo o apoio financeiro do governo sueco ao programa dos<br />

metodistas passado, a partir daí, a ser permanente. De 30.000, a dotação normal anual<br />

aumentou para 100.000 coroas suecas em 1972. 103 Durante os oito anos, ou seja, nos<br />

anos fiscais de 1967–68 a 1974–75, foi pago pela ASDI um valor total de 570.000 coroas<br />

suecas, por intermédio dos metodistas suecos, o que representou cerca de metade do or-<br />

97. Em sueco, Metodistkyrkans Yttre Missi<strong>on</strong>.<br />

98. A comunhão de interesses entre o estado português e a igreja católica explica em grande parte a razão pela qual<br />

a grande parte dos líderes naci<strong>on</strong>alistas da geração de 60, em Angola e Moçambique, tinha um historial junto das<br />

igrejas protestantes. No caso de Angola, Agostinho Neto do MPLA era metodista, enquanto Holden Roberto do<br />

FNLA era baptista e J<strong>on</strong>as Savimbi da UNITA protestante da Igreja Unida. Em Moçambique, Eduardo M<strong>on</strong>dlane<br />

fez a instrução primária em escolas metodistas. Pela mesma razão, na Rodésia (Zimbabué) era a Igreja Anglicana<br />

quem apoiava o regime da minoria branca, enquanto muitos líderes naci<strong>on</strong>alistas, entre os quais Robert Mugabe,<br />

foram criados num ambiente de oposição, católico-missi<strong>on</strong>ário.<br />

99. A lei do Missi<strong>on</strong>ário, criada entre o governo português e a igreja católica.<br />

100. Allen e Barbara Isaacman: Mozambique: From Col<strong>on</strong>ialism to Revoluti<strong>on</strong>, 1900–1982, Westview Press, Boulder,<br />

1983, p. 50.<br />

101. Ibid., Tabela 3.10, p. 52. As taxas de analfabetismo em Angola e na Guiné-Bissau eram, na mesma altura, de<br />

97 e 99 por cento, respectivamente.<br />

102. CCAH: ”Flyktingutbildningsprogrammet under budgetåret 1968–69” (”O programa de formação dos refugiados<br />

para o exercício 1968–69”), Estocolmo, 29 de Março de 1968 (SDA).<br />

103. CCAH: ”Stipendiering av afrikanska sekundärskoleelever i Moçambique genom Metodistkyrkans yttre missi<strong>on</strong>”<br />

(”Bolsas para estudantes africanos do ensino secundário em Moçambique através da Junta de Missões da Igreja<br />

Metodista da Suécia”), Estocolmo, 22 de Março de 1973 (SDA).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!