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Cláudio Sbrighi Neto - ANEPAC

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Palestrante I Speaker:<br />

<strong>Cláudio</strong> <strong>Sbrighi</strong> <strong>Neto</strong><br />

Fundaçao Álvares Penteado (Brasil)<br />

Normalizaçao de Agregados para Concreto<br />

Standardization of Aggregates for Concrete<br />

A Norma Técnica, segundo definição clássica, é o produto<br />

de um processo de sistematização realizado em um certo<br />

âmbito, sobre determinado assunto técnico com<br />

participação dos interessados e aprovado por uma<br />

autoridade reconhecida. Uma Norma Técnica é um<br />

documento que equaliza os interesses técnicos do produtor<br />

e do consumidor,<br />

reconhecida.<br />

isso tudo endossado por uma autoridade<br />

Neste documento são estabelecidas as condições que<br />

devem ser cumpridas com objetivos de máxima economia<br />

global, segurança e fixação de conhecimentos. Gostaria de<br />

chamar a atenção para esse último aspecto. A Norma é um<br />

indutor do conhecimento. Tem um papel didático muito<br />

importante. Um cidadão que vive no meio da Amazônia,<br />

trabalhando com material de construção, tem uma<br />

orientação segura de como utilizá-Io, se ele tiver a<br />

oportunidade de ter uma Norma Técnica em suas mãos. A<br />

Norma Técnica deve transmitir segurança. Por isso se<br />

baseia em resultados confirmados pela ciência, técnica e<br />

experimentação.<br />

O seu processo de elaboração toma como base o<br />

conhecimento presente e suas projeções futuras, devendo<br />

acompanhar sempre o desenvolvimento humano e<br />

tecnológico. Por exemplo, na área de agregados, se alguém,<br />

há 15 anos atrás, procurasse uma construtora qualquer e<br />

trouxesse uma amostra de areia eólica, que é<br />

comercialmente conhecida como areia rosa, certamente sua<br />

amostra seria recusada, pois não existia conhecimento<br />

tecnológico que sustentasse o uso daquela areia esquisita,<br />

estranha, fina, de uma cor pouco usual. Hoje, a grande<br />

maioria das empresas, que produzem concreto com<br />

segurança e economia, usa, pelo menos parcialmente, esse<br />

tipo de material. Tudo isso deve ser refletido pela Norma.<br />

A Norma deve acompanhar os avanços tecno]ógicos. Esse<br />

é um dos papeis fundamentais da Norma: estar sempre<br />

atualizada<br />

da técnica.<br />

e em consonância com os melhores preceitos<br />

Entre os benefícios da normalização, que são de natureza<br />

qualitativa e quantitativa, podem ser citados:<br />

- utilização adequada de recursos com redução de<br />

consumo e de desperdício;<br />

- disciplina na produção;<br />

- uniformidade no trabalho<br />

componentes e equipamentos;<br />

com padronização de<br />

- registro do conhecimento tecnológico;<br />

- procedimentos padronizados de cálculos e projetos;<br />

- segurança do pessoal, do usuário e de equipamentos;<br />

- racionalização do uso do tempo;<br />

- controle de processos e produtos<br />

qualidade.<br />

gerando melhoria de<br />

158<br />

São sempre produtos da padronização. Quando se produz<br />

uma Norma, normalmente os preceitos básicos para<br />

produzi-Ias são: conceito, bom senso e consenso. Numa<br />

Norma entram diversos intervenientes, porque os<br />

benefícios de uma Norma Técnica adequada são enormes<br />

para a sociedade.<br />

Os objetivos da normalização incluem a simplificação, o<br />

estabelecimento de canais de comunicação técnica entre<br />

produtores e consumidores, economia, segurança, proteção<br />

ao consumidor e eliminação de barreiras técnicas e<br />

comerciais no comércio internacional. a comunicação hoje<br />

deve ser sempre ressaltada, porque permite a toda<br />

sociedade ter acesso ao que existe de mais atualizado em<br />

termos de tecnologia. A proteção ao consumidor hoje é<br />

fundamental. As Normas Técnicas são citadas<br />

especificamente na lei federal que é o Código de Defesa<br />

do Consumidor. A eliminação de barreiras num mundo<br />

globalizado, em que barreiras técnicas podem servir como<br />

barreiras econômicas, a normalização permite uma<br />

flexibilização na eliminação de barreiras.<br />

Internacional<br />

Regional<br />

Empresa<br />

Os níveis da normalização técnica podem ser visualizados<br />

na figura 1, onde aprecem as relações entre os diversos<br />

órgãos normativos internacionais e nacionais. Nós temos<br />

o nível de normalização internacional, como o ISO e o TEC,<br />

normas regionais - Mercosul, Comunidade Européia<br />

(CEN), Normas Pan-americanas (Copant). As normas<br />

nacionais ocupam um papel importante e são as mais<br />

abundantes. Em último nível, existem as normas de<br />

empresas, como as normas da Petrobras aqui no Brasil, que<br />

impõe aos fornecedores o cumprimento de uma série de<br />

quesitos sem as quais não podem ser fornecedores.<br />

Então, temos as normas das empresas. Superior a elas, as<br />

normas nacionais, como BSI (inglesa), AFNOR (francesa),<br />

BIN (alemã), etc. Cada país que tenha seu sistema<br />

organizado tem uma entidade credenciada para produzir<br />

as normas. No Brasil, o órgão reconhecido pelo Ministério


de Indústria e Comércio como fórum nacional de<br />

normalização é a Associação Brasileira de Normas Témicas<br />

- ABNT, fundada em 1940. A ABNT é uma entidade<br />

privada. Conta atualmente com 40 Comitês Técnicos. Cada<br />

Comitê é estabelecido para atender um tema de natureza<br />

témica, sendo o CB-18 - Comitê Brasileiro de Cimento,<br />

Concreto e Agregados - encarregado das Normas Técnicas<br />

de agregados para concreto de cimento Portland. A ABNT<br />

conta atualmente com quase oito mil títulos de Normas<br />

Técnicas em seu acervo.<br />

IMPLANTAÇÃO DE UMA NORMA<br />

Uma determinada Norma Témica é implantada a partir<br />

de demanda manifestada por determinado setor<br />

produtivo. O Comitê Témico (CT) ou o Organismo de<br />

Normalização Setorial (ONS) pertinente é então acionado<br />

e, a partir de um texto-base preparado por um especialista,<br />

cria uma Comissão de Estudos (CE) ou inclui este texto no<br />

programa de uma Comissão já existente. Esta Comissão,<br />

formada geralmente por produtores, consumidores e<br />

membros neutros, estuda e debate amplamente o texto<br />

apresentado, propõe mudanças e o aperfeiçoa até chegar a<br />

um consenso entre seus participantes. O texto acordado é<br />

submetido então a consulta pública, que inclui os<br />

associados da ABNT e demais interessados, que o aprova,<br />

reprova ou apresenta sugestões para seu aprimoramento.<br />

A Comissão de Estudos se reúne em sessão específica para<br />

a apuração dos votos e apreciação das sugestões<br />

apresentadas, incorporando aquelas consideradas<br />

pertinentes. A CE então encaminha o texto final para<br />

publicação como Norma Técnica da ABNT.<br />

TIPOS DE NORMA<br />

Os principais tipos de Normas Témicas são:<br />

- especificação<br />

- métodos de ensaio<br />

- procedimento<br />

- terminologia<br />

- classificação<br />

- simbologia<br />

A Especificação apresenta os limites que devem ser<br />

atendidos por determinado produto, enquanto os Métodos<br />

de Ensaio fixam os procedimento a serem adota dos na<br />

determinação dos índices preconizados na Especificação.<br />

As normas do tipo Procedimento estabelecem, de forma<br />

abrangente, como e quais são os critérios e procedimentos<br />

adotados na avaliação e julgamento de determinado<br />

processo ou produto. Podem conter informações técnicas<br />

gerais e orientações, estabelecer tipos de tratamento<br />

estatístico e fórmulas a serem utilizadas em cálculos,<br />

tabelas, índices, e aspectos técnicos relativos à avaliação<br />

de um produto,<br />

A Terminologia, como o nome indica, define a abrangência<br />

de termos témicos que habitualmente fazem parte ou não<br />

de um determinado segmento do mercado,<br />

proporcionando maior precisão e entendimento no<br />

relacionamento produtor / consumidor, incluindo, as vezes,<br />

até mesmo aspectos mercadológicos específicos.<br />

A norma técnica do tipo Classificação procura, a partir de<br />

características e propriedades em geral facilmente<br />

159<br />

mensuráveis, ordenar determinados produtos por níveis<br />

de desempenho técnico.<br />

A Simbologia padroniza formas gráficas de apresentação<br />

em documentos técnicos tais como plantas, mapas e outras<br />

ilustrações necessárias ao entendimento de projetos,<br />

relatórios, etc. Pode ser também utilizada na padronização<br />

de símbolos químicos e de grandezas físicas úteis em<br />

determinadas áreas do conhecimento.<br />

USO DAS NORMAS TÉCNICAS<br />

Em termos de utilização de Normas Técnicas, podemos<br />

dizer que, antes, elas eram vistas como documentos pouco<br />

usados, sem muita utilidade, obedecidos por algumas<br />

empresas, geralmente do serviço público. Hoje, nos últimos<br />

cinco anos, está havendo uma grande mudança em sua<br />

imagem. Há um enfoque mais positivo.<br />

As Normas Técnicas têm sido adotadas, cada vez mais,<br />

como base para sistemas de aprovação técnica, tais como<br />

Certificação de Qualidade, Certificação de Conformidade,<br />

Selo de Qualidade, etc. Neste processo, é possível observar<br />

de uma forma crescente a valorização da qualidade como<br />

fator de economia e produtividade, no qual a Norma<br />

Témica ocupa papel relevante também na definição de<br />

responsabilidades témicas e legais. No art. 39 da Seção IV<br />

do Código de Defesa do Consumidor, que é lei federal, as<br />

normas da ABNT são citadas como referência para definir<br />

padrões técnicos exigíveis para produtos e serviços<br />

colocados no mercado brasileiro.<br />

NORMAS TÉCNICAS PARA AGREGADOS<br />

Em pesquisa recente envolvendo grandes bancos de dados<br />

internacionais, encontramos mais de 800 textos normativos,<br />

pertencentes a quase 20 entidades normativas diferentes,<br />

referentes especificamente a agregados para concreto.<br />

Muitas delas são repetitivas e poucos são criativas ou<br />

inovadoras. O Brasil dispõe de 40 textos normativos sobre<br />

agregados para concreto, número este similar ao de países<br />

desenvolvidos, mas que precisam ser periodicamente<br />

atualiza das e revalidadas. Por exemplo, a American society<br />

for Testing and MateriaIs (ASTM) e a AFNOR, que é<br />

entidade francesa de normalização, apresentam número<br />

semelhante de Normas Técnicas de agregados. A<br />

International Standardization Organization (ISO) mostra<br />

um número reduzidíssimo de normas de agregado,<br />

provavelmente, reflexo da minúscula expressão do<br />

mercado internacional de exportação e importação de<br />

agregados, já que os agregados naturais são abundantes<br />

em quase todo o mundo e apresentam custo final bastante<br />

influenciado pelo transporte.<br />

Dos quase oito mil títulos de Normas Técnicas do acervo<br />

da ABNT, os referentes à construção civil ocupam papel<br />

relevante, visto que, em levantamento recente sobre<br />

comercialização de normas nos últimos 24 meses; entre os<br />

500 títulos mais vendidos, aparecem 43 normas do CB-18<br />

e, destas, oito são de agregados para o concreto. Há cinco<br />

Especificações, três Terminologias, 28 Métodos de Ensaio<br />

e quatro Procedimentos entre os textos envolvendo<br />

agregados para concreto de cimento Portland na ABNT.


o FUTURO DAS NORMAS TÉCNICAS<br />

No campo das Normas Técnicas de agregados para<br />

concreto e na normalização em geral, o futuro parece<br />

definir uma tendência de substituir normas de<br />

caracterização por normas de desempenho, o que, de certa<br />

forma, amplia o leque de materiais passíveis de utilização<br />

em determinadas aplicações e abre perspectivas para<br />

materiais alternativos que, devendo ser objeto de<br />

normalização específica, poderão inserir-se com segurança<br />

e garantia para o usuário. Assim, os modernos<br />

conceitos de sustentabilidade da construção civil passam<br />

pela consolidação de uma normalização competente, com<br />

preceitos de qualidade adequados, com materiais aptos a<br />

atender as regras do mercado e produzidos com respeito<br />

ao meio ambiente.<br />

As normas basicamente podem ser de dois tipos. Os mais<br />

antigos são as de caracterização. Tomemos o exemplo da<br />

granulometria. São estabelecidas diversas curvas<br />

granulométricas e os agregados são obrigados a segui-Ias.<br />

Hoje, a tendência mundial, inclusive no Brasil, é a de mudar<br />

o tipo de nàrmas. Em vez de normas exclusivamente de<br />

caracterização, transformá-Ias em normas de desempenho.<br />

Se o agregado funciona adequadamente dentro de<br />

determinadas condições, o que interessa é o desempenho<br />

que tem e não sua caracterização pura e simplesmente,<br />

obedecendo a limites estreitos de granulometria.<br />

Outra tendência entre as normas de agregados é a de<br />

ampliar o uso de materiais alternativos. Hoje, as 40 Normas<br />

Técnicas brasileiras se referem a materiais naturais - areia,<br />

pedra britada, cascalho - e algumas normas referentes à<br />

argila expandida, agregado leve, feito à base de argila<br />

expandida sinterizada.<br />

Hoje, há uma pressão da sociedade para o agregado<br />

elaborado a partir de materiais alternativos. São rejeitos<br />

industriais, como escória; entulho de construção civil ou<br />

de demolição, coo cerâmicas, concreto e argamassa; rejeitos<br />

de mineração, como fluorita, capa de material<br />

intemperizado que cobre a jazida; areia reciclada de<br />

processos siderúrgicos, como areia de moldagem, etc. são<br />

diversos rejeitos para os quais existe demanda para que<br />

sejam padronizados e para que possam ser utilizados como<br />

agregado.<br />

Isso nos dá uma grande responsabilidade. Muitos desses<br />

materiais alternativos podem apresentar problemas, tanto<br />

do ponto de vista da resistência, como da durabilidade.<br />

Hoje, os materiais não necessitam somente ser resistentes.<br />

Precisam ser duráveis. Muitos desses materiais vêm<br />

contaminados devido aos processos industriais e precisam<br />

ser adequadamente analisados, para que possamos dar à<br />

sociedade uma norma que garanta durabilidade às<br />

estruturas.<br />

Outro ponto importante quando se pleiteia o uso desses<br />

materiais é a sanidade ambiental. Muito vêm contaminados<br />

por materiais deletérios e agressivos ao meio ambiente. A<br />

norma deve lidar com esse aspecto também.<br />

Enfim, devemos oferecer à sociedade normas que nos<br />

permitam produzir e controlar agregados dentro dos<br />

melhores preceitos de sustentabilidade, de qualidade<br />

técnica dentro das regras do mercado, ou seja, produzidos<br />

160<br />

a partir de um contexto econômico que permita sua<br />

produção a um preço que a sociedade possa pagar. Além<br />

disso, não se pode prescindir o respeito ao meio ambiente.<br />

Uma das formas de ampliar o número de Normas Técnicas,<br />

aprimorá-Ias e atualizá-Ias é a participação de grupos<br />

organizados da sociedade, como que a Associação Nacional<br />

das Entidades de Produtores de Agregados para a<br />

Construção Civil - ANEP AC - tomou recentemente. A<br />

ANEP AC, através de seu Programa de Implementação de<br />

Normas Técnicas, apoia a revisão e a implantação de dez<br />

textos-base que brevemente estarão sendo discutidos nas<br />

Comissões Técnicas da ABNT. Já se trabalha nestes textos<br />

e, até maio de 2002, teremos o acréscimo de algumas<br />

Normas Técnicas e a revisão de outros. É uma das formas<br />

de antever o futuro da atividade: apoiando a normalização<br />

de materiais.

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