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FRAN Z - Univag

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INCIDÊNCIA DOS FATORES DE RISCO PARA A GAGUEIRA DO<br />

DESENVOLVIMENTO EM CRIANÇAS ATENDIDAS NA CLÍNICA<br />

RESUMO<br />

ESCOLA DO UNIVAG.<br />

Francieli dos Santos Zamo*, Daniella Thaís Curriel**<br />

Objetivo: Verificar a incidência dos fatores de risco para a Gagueira do Desenvolvimento<br />

nas crianças com queixa de gagueira atendidas na Clínica Escola do <strong>Univag</strong>. Método: Foram<br />

analisados os Protocolos de Risco para a gagueira do desenvolvimento de vinte e sete prontuários<br />

de crianças de dois até onze anos e onze meses que apresentaram queixa de gagueira e<br />

receberam atendimento na Clínica Escola do <strong>Univag</strong>. Resultados: Verificou-se que os fatores de<br />

alto risco mais presentes foram: sexo, histórico familiar, tipologia das disfluências, tempo de<br />

surgimento e reação da criança. Conclusão: A presença de um fator de risco de forma isolada<br />

não determina a cronicidade da gagueira, mas sim o conjunto de fatores de alto risco.<br />

ABSTRACT<br />

Palavras-chave: gagueira do desenvolvimento; fatores de risco; crianças<br />

Objective: To assess the incidence of risk factors for the development of stuttering in<br />

children with stuttering complaints seen at the Clinical School of <strong>Univag</strong>. Method: We analyzed the<br />

risk protocols for stuttering development of twenty-seven medical records of children aged two to<br />

eleven years and eleven months complained of stuttering and received treatment in the Clinical<br />

School of <strong>Univag</strong>. Results: It was found that the high-risk factors were more present: sex, family<br />

history, type of stuttering, time of appearance and the child's reaction.Conclusion: The presence<br />

of a risk factor in isolation does not determine the severity of stuttering, but the number of high-risk<br />

factors.<br />

*Graduanda do curso de Fonoaudiologia do UNIVAG – Centro Universitário de Várzea Grande.<br />

**Fonoaudióloga, Mestre em Educação, Especialização em Fluência e seus Distúrbios, Professora<br />

do curso de Fonoaudiologia do Centro Universitário de Várzea Grande – UNIVAG.<br />

1


INTRODUÇÃO<br />

Segundo Andrade (2006) a gagueira pode ser definida como um distúrbio<br />

da fluência que se caracteriza por interrupções no fluxo da fala, que pode ser<br />

sentida pelo indivíduo que gagueja como uma perda de controle, já que ocorre de<br />

modo involuntário. Tem como sintomas típicos: pausa, prolongamento, hesitação,<br />

bloqueio, palavra não terminada, interjeição, repetição de som, de palavra, de<br />

frase, de seguimento e de sílaba, podendo ou não associar movimentos corporais<br />

ao ato da fala.<br />

De acordo com Barbosa (2005), para se falar fluente é necessário que se<br />

realize uma transmissão suave de um som para o outro, ou de uma sílaba para a<br />

outra. Além disso, deve-se ter uma precisa coordenação entre os mecanismos<br />

motores, mecanismos sensoriais que monitoram a produção da fala e o<br />

planejamento e processamento de informações linguísticas, sendo que<br />

dificuldades em algumas dessas áreas podem causar disfluência.<br />

De acordo com Ribeiro (2005) definir fluência não é uma tarefa fácil. Não<br />

são apenas as hesitações, os prolongamentos ou bloqueios que determinam se a<br />

fala é ou não fluente. Uma pessoa que fala sem hesitações, porém extremamente<br />

devagar, pode não ser considerada uma oradora fluente.<br />

Segundo o Instituto Brasileiro de Fluência (2009) a gagueira é entendida<br />

como uma dificuldade dos núcleos da base em sinalizar o término de um som ou<br />

sílaba da fala, e pode ser causada por herança genética, que ocorre em 55% dos<br />

casos, e/ou por lesão cerebral, que ocorre em 45% dos casos.<br />

Os primeiros sintomas aparecem no período em que a criança está<br />

adquirindo a fala e a linguagem, ou seja, entre 2 e 4 anos (Bloodstein, 1981;<br />

Peters; Guitar, 1991; Conture; Guitar, 1993 apud Barbosa; Chiari, 1998), e muitos<br />

pais tendem a desconsiderá-los, na crença de que façam parte do<br />

desenvolvimento normal da criança.<br />

Segundo Andrade (2006) em cerca de 80% das crianças as disfluências<br />

são normais e tendem a desaparecer em seis meses. Em crianças que<br />

apresentam: antecedentes familiares de gagueira; outras desordens de<br />

comunicação associadas como: trocas de sons da fala, defasagem na aquisição e<br />

no desenvolvimento da linguagem, alteração na motricidade oral, etc.;<br />

características psicológicas predisponentes como: timidez, baixa resistência a<br />

frustração, ansiedade, etc.; ou aqueles que tenham família com traços linguísticos<br />

2


desfavoráveis: falam muito rápido, são muito críticas ou muito exigentes quanto<br />

ao padrão de fala, têm estilo de vida muito acelerado, etc., essas disfluências<br />

podem evoluir para um quadro crônico conhecido como gagueira do<br />

desenvolvimento.<br />

Para Pereira (2002) são muitos os fatores de caráter emocional e os de<br />

caráter social, além da predisposição ou vulnerabilidade de uma pessoa para a<br />

gagueira. Não é porque os pais se separam, ou porque nasceu um irmão que<br />

uma criança fica fragilizada, e por isso começa a gaguejar. Ela teria muitas outras<br />

saídas para expressar sua angústia, como a enurese noturna, voltar a falar como<br />

neném ou ficar mais agressiva. O aparecimento e persistência de um quadro de<br />

disfluência demonstram uma predisposição desta criança para gaguejar.<br />

A delimitação do que pode ser considerado risco depende do<br />

conhecimento já estabelecido pela história natural e a distribuição populacional de<br />

uma determinada desordem. Portanto, o primeiro ponto a ser considerado nesse<br />

processo é que os dados levantados nas triagens, anamneses e avaliações não<br />

são claramente suficientes para a detecção precoce do risco de gagueira crônica.<br />

Assim, com a aplicação do protocolo de risco o fonoaudiólogo estará<br />

instrumentado para prosseguir com maior segurança na intervenção da gagueira.<br />

E a partir dessa identificação será selecionado o procedimento clínico mais<br />

apropriado para cada caso (Andrade, 1999).<br />

Segundo Andrade (2006) a gagueira possui aspectos que são<br />

considerados “traços predisponentes à gagueira”: aspectos hereditários;<br />

biológicos, psicológicos, linguísticos e sociais – que num inter-relacionamento que<br />

ainda precisa ser melhor compreendido, determinam a tipologia das disfluências.<br />

Todos esses aspectos são traços da gagueira que, isolados, não<br />

determinam nem significam muita coisa. É também claro que nenhum gago<br />

apresenta todos esses traços juntos, justamente por isso, para o planejamento de<br />

uma intervenção precoce ampla e eficiente, deve-se levantar em cada área quais<br />

os elementos que apresentam comprometimento, quais são os mais significativos<br />

e como se processa a evolução em grau de severidade (Andrade, 1997).<br />

A partir desse trabalho de avaliação inicial da desordem da comunicação<br />

infantil, que é bastante frequente e atinge cerca de 5% da população escolar,<br />

pode-se tratar adequadamente e selecionar o procedimento clínico mais<br />

apropriado para cada caso. Poderão também ser planejados objetivos<br />

3


terapêuticos que abordem os fatores de risco mais presentes e a realização de<br />

ações preventivas (Andrade, 2006).<br />

Sendo assim, o objetivo deste trabalho é verificar a incidência dos fatores<br />

de risco para a Gagueira do Desenvolvimento nas crianças com queixa de<br />

gagueira atendidas na Clínica Escola do <strong>Univag</strong>.<br />

MÉTODO<br />

Para realizar este estudo foram analisados os Protocolos de Risco para a<br />

gagueira do desenvolvimento de 27 prontuários de crianças de dois anos até onze<br />

anos e onze meses que apresentaram queixa de gagueira, atendidas na clínica<br />

do <strong>Univag</strong> de 2006 a 2009, para avaliação da Fluência da Fala.<br />

Foi desenvolvido pela fonoaudióloga Claudia Regina Furquim de Andrade<br />

em 1999 o Protocolo de Risco para a Gagueira do Desenvolvimento, para que se<br />

pudesse identificar o grau de risco para a cronicidade da gagueira. Ele é<br />

composto por quinze questões, com três alternativas (graus de risco) que<br />

abrangem desde os dados de caracterização da criança até seus antecedentes<br />

familiares e reações sociais.<br />

O Protocolo de Risco para a Gagueira do desenvolvimento foi aplicado com<br />

os pais da criança ou responsáveis, em sessão de anamnese. Quanto à sua<br />

forma, o protocolo é composto por quinze questões, que são elas:<br />

1. Idade: o início da gagueira do desenvolvimento se dá entre 18<br />

(dezoito) meses e 7 (sete) anos, podendo ocorrer até os 12 (doze)<br />

anos.<br />

2. Sexo: a ocorrência da gagueira é predominante no sexo masculino,<br />

numa razão que varia enormemente de pesquisa a pesquisa, mas<br />

sendo usualmente aceita a relação masculino 4/1.<br />

3. Tipologia das disfluências: se são disfluências comuns que são elas:<br />

hesitação, interjeição, revisões, palavras não terminadas e repetição<br />

de frases, de palavras e seguimentos ou se são disfluências menos<br />

comuns que são ela: repetição de sílabas, de sons, prolongamentos,<br />

bloqueios, pausas e intrusões.<br />

4. Tempo de surgimento das disfluências: há quanto tempo (número de<br />

meses) a criança apresenta excesso de rupturas de fala, a partir da<br />

primeira vez em que o problema foi percebido.<br />

4


5. Tipo de surgimento: se foi súbito (de uma hora para outra), cíclico<br />

(“vai e volta”, tem dias e fases melhores ou piores) ou persistente<br />

(desde que começou a falar).<br />

6. Fatores comunicativos associados: se a criança apresenta alterações<br />

fonológicas, alterações miofuncionais e neurovegetativas.<br />

7. Fatores qualitativos associados: se há tensão corporal associada,<br />

tensão facial associada, rupturas por alterações na coordenação<br />

pneumofonoarticulatória.<br />

8. Pontuação de componente(s) estressante(s) associado(s): se ocorreu<br />

algum episódio estressante durante o estabelecimento da gagueira<br />

como: morte de animal de estimação, mudança de escola, perda de<br />

emprego dos pais, gravidez da mãe, morte ou divórcio dos pais, entre<br />

outros.<br />

9. Histórico mórbido pré, peri e pós-natal: prematuridade, doenças<br />

graves no primeiro ano de vida, internações, hospitalizações<br />

prolongadas, permanência em berçário de risco, achados<br />

neurológicos (convulsões), etc.<br />

10. Histórico familiar: se há antecedentes genéticos para a gagueira, se o<br />

antecedente está na família distante (tios, primos, avós), ou se o<br />

antecedente está na família próxima (pais e irmãos) e se há muitos<br />

parentes afetados.<br />

11. Reação familiar: se os pais estão preocupados e reagindo<br />

adequadamente ao problema, se estão dando o devido peso ao<br />

problema, se estão ansiosos, etc.<br />

12. Atitude familiar: se estão dando mais atenção a disfluência do que à<br />

fluência, se oferecem pistas, se encorajam ou solicitam que a criança<br />

fale rápido, dão mais atenção e superproteção quando ocorrem as<br />

disfluências, entre outros.<br />

13. Reação da criança: vergonha ou ansiedade excessiva, hesitação,<br />

timidez e insegurança, baixa estima, perfeccionismo, irritação<br />

(propensão à raiva e ao descontrole), sensação de insucesso quando<br />

compete por atenção, etc.<br />

14. Reação social: se as pessoas mostram alguma preocupação,<br />

incentivam os pais na busca de ajuda profissional, algumas oferecem<br />

5


dicas, outras dizem que é assim mesmo, se estão reagindo de<br />

maneira exagerada, entre outros.<br />

15. Orientação profissional anterior: se ouve indicação apropriada, se<br />

foram fornecidas informações não claras, se recomendaram que<br />

esperasse sem tomar qualquer atitude ou se foram fornecidas dicas<br />

e/ou soluções não científicas.<br />

O preenchimento é sequencial numérico, marcando a coluna<br />

correspondente com o número de pontos estabelecidos pelas normas do<br />

procedimento. O mesmo possui três alternativas: baixo risco; risco e alto risco,<br />

para a cronicidade da gagueira. A pontuação do protocolo é a somatória de cada<br />

uma das colunas. O grau de risco é aquele da coluna com maior número de<br />

pontos. Quando houver a mesma pontuação em duas colunas deve-se considerar<br />

o grau de risco mais elevado.<br />

Gagueira Infantil: Risco, Diagnóstico e Programas Terapêuticos<br />

1. PROTOCOLO DE RISCO PARA A GAGUEIRA DO<br />

DESENVOLVIMENTO (PRGD)<br />

Nome: Idade: Data: //<br />

1. Idade 2 - 4 4 - 7 7 - 12<br />

2. Sexo<br />

3. Tipologia da disfluência + comum mista - comun<br />

4. Tempo de surgimento da disfluências - 6 meses 6 – 12 meses + 12 meses<br />

5. Tipo de Surgimento súbito cíclico persistente<br />

6. Fatores Comunicativos Associados<br />

7. Fatores Qualitativos Associados<br />

8. Pontuação de Componente(s) estressante(s)<br />

associado(s)<br />

9. Histórico mórbido pré, peri e pós-natal<br />

10. Histórico Familiar<br />

11. Reação Familiar<br />

12. Atitude Familiar<br />

13. Reação da Criança<br />

14. Reação Social<br />

15. Orientação profissional anterior<br />

Resultado<br />

Baixo Risco Risco Alto Risco<br />

6


RESULTADOS<br />

Os dados foram coletados por meio da análise de 27 prontuários de<br />

crianças com queixa de gagueira atendidas na Clínica Escola do <strong>Univag</strong>, no qual<br />

foram coletadas as informações do Protocolo de Risco para a Gagueira do<br />

Desenvolvimento (Andrade, 1999).<br />

Após a coleta de dados os resultados foram tabulados e ilustrados com<br />

gráficos e estão apresentados de acordo com a sequência estabelecida pelo<br />

Protocolo de Risco.<br />

No item idade, 06 (22,22%) crianças encontravam-se em baixo risco (entre<br />

dois e quatro anos), 13 (48,15%) crianças encontravam-se em risco (entre quatro<br />

e sete anos) e 08 (29,63%) crianças encontravam-se em alto risco (entre sete e<br />

doze anos). (Figura 1)<br />

Em relação ao item sexo, 23 (85,19%) crianças eram do sexo masculino e<br />

04 (14,8%) crianças eram do sexo feminino. Sendo que 06 (22,22%) crianças<br />

estavam na faixa etária de 2 a 4 anos, pontuando na coluna de baixo risco, 13<br />

(48,15%) na faixa etária de 4 a 7 anos, pontuando na coluna de risco e 08<br />

(29,63%) na faixa etária de 7 a 12 anos, pontuando na coluna de alto risco. (<br />

Figura 2)<br />

No item tipologia das disfluências, 03 (11,11%) crianças pontuaram em<br />

baixo risco, apresentando disfluências do tipo mais comum, 01 (3,70%) criança<br />

em risco, apresentando disfluências mistas (mais comuns e menos comuns) e 23<br />

(85,19%) crianças em alto risco, apresentando disfluências menos comuns.<br />

(Figura 1)<br />

Figura 1 - Distribuição dos dados em relação à idade e tipologia das disfluências.<br />

7


Figura 2 - Distribuição dos dados em relação ao sexo.<br />

No item tempo de surgimento, 04 (14,81%) crianças pontuaram em baixo<br />

risco, apresentando disfluências há menos de seis meses, 01 (3,70%) das<br />

crianças pontuou em risco, apresentando disfluências entre seis e doze meses, e<br />

21 (77,78%) crianças pontuaram em alto risco, apresentando disfluências há mais<br />

de doze meses. Uma das crianças avaliadas não pontuou o item, devido o<br />

informante não saber relatar o tempo de surgimento das disfluências. (Figura 3)<br />

Em relação ao tipo de surgimento, nos prontuários analisados 11(40,74%)<br />

crianças pontuaram em baixo risco, em que a forma do surgimento foi súbito, 03<br />

(11,11%) crianças pontuaram em risco, em que a forma do surgimento foi cíclica,<br />

e 13 (48,15%) crianças pontuaram em alto risco, em que a forma do surgimento<br />

foi persistente. (Figura 3)<br />

Figura 3 - Distribuição dos dados em relação ao tempo de surgimento e tipo de surgimento.<br />

8


No item fatores comunicativos associados, 05 (18,52%) crianças<br />

pontuaram em baixo risco, não apresentando agravantes, 08 (29,63%) crianças<br />

pontuaram em risco, em que uma característica agravante estava presente, e 14<br />

(51,85%) crianças pontuaram em alto risco, em que mais de uma característica<br />

agravante se encontrava presente. Observando-se que na maioria dos casos<br />

(81,48%) as crianças apresentam um ou mais de dois agravantes. (Figura 4).<br />

No item fatores qualitativos associados, 07 (25,93%) crianças<br />

encontravam-se em baixo risco, não apresentando agravantes associados, 08<br />

(29,63%) crianças em risco, em que uma característica agravante associada<br />

estava presente e 12 (44,44%) crianças pontuaram em alto risco, apresentando<br />

mais de uma característica agravante. Sendo que a maioria das crianças 74,07%<br />

apresentam uma ou mais características agravantes. (Figura 4)<br />

Figura 4 - Distribuição dos dados em relação aos fatores comunicativos associados e aos<br />

fatores qualitativos associados.<br />

Em relação à pontuação de componente(s) estressante(s) associado(s),<br />

dos 27 prontuários analisados, apenas 08 (29,63%) crianças apresentaram<br />

características agravantes, destas 04 (14,81%) pontuaram em baixo risco, 03<br />

(11,11%) em risco, 01 (3,70%) das crianças em alto risco. Nos demais<br />

prontuários analisados os pais e/ou entrevistados não relataram a presença de<br />

componentes estressantes. (Figura 5)<br />

No item histórico mórbido pré, peri e pós-natal, 11(40,74%) crianças<br />

pontuaram em baixo risco e não apresentaram características agravantes, 05<br />

(18,52%) em risco, apresentando uma característica agravante, porém sem<br />

suspeita de sequelas e 06 (22,22%) crianças em alto risco, apresentando mais de<br />

uma característica agravante e com suspeita de sequelas. Sendo que 40,74%<br />

9


apresentam características agravantes. Os demais prontuários analisados não<br />

apresentaram resposta para esse item, devido o entrevistado não se recordar de<br />

fatos que pudessem ser considerados agravantes. (Figura 5)<br />

Figura 5 - Distribuição dos dados em relação aos componentes estressantes associados e<br />

histórico pré, peri e pós-natal.<br />

No item histórico familiar, 05 (18,52%) crianças pontuaram no item baixo<br />

risco, não apresentando nenhum tipo de antecedentes genéticos, 09 (33,33%)<br />

crianças em risco, em que o antecedente encontrava-se na família distante (avós,<br />

tios e primos), 11 (40,74%) crianças em alto risco, em que o antecedente<br />

encontrava-se na família próxima (pais e irmãos) e/ou tinham muitos parentes<br />

afetados. Sendo assim, 74,07% das crianças apresentaram histórico familiar<br />

positivo para a gagueira, e no restante dos prontuários analisados, 2 (7,41%), os<br />

entrevistados não souberam relatar se havia ou não presença de antecedentes<br />

genéticos. (Figura 6)<br />

Em relação à reação familiar, 10 (37,04%) crianças pontuaram em baixo<br />

risco, demonstrando que a família estava preocupada e reagindo adequadamente<br />

ao problema, 06 (22,22%) crianças pontuaram em risco, em que a família não<br />

estava dando o devido peso ao problema, porém só estavam procurando ajuda<br />

devido à imposição externa, e 09 (33,33%) crianças pontuaram em alto risco,<br />

sendo que os pais encontravam-se preocupados, confusos e ansiosos, reagindo<br />

de maneira exagerada ao problema. Os demais prontuários analisados, 2<br />

(7,41%), não continham essa informação. (Figura 6)<br />

10


Figura 6 - Distribuição dos dados em relação ao Histórico Familiar e Reação Familiar.<br />

No item atitude familiar 05 (18,52%) crianças pontuaram em baixo risco, no<br />

qual não foram identificadas características agravantes, 05 (18,52%) crianças em<br />

risco, em que somente uma das características estavam presentes e 16 (59,26%)<br />

crianças em alto risco, sendo que mais de uma característica estava presente.<br />

Apenas em 1 (3,70%) dos prontuários analisados o entrevistado não soube<br />

responder o item atitude familiar. (Figura 7)<br />

No item reação da criança, 07 (25,93%) crianças pontuaram em baixo<br />

risco, não apresentando agravantes, 03 (11,11%) crianças em risco,<br />

apresentando uma característica agravante e 17 (62,96%) crianças em alto risco,<br />

apresentando mais de uma característica agravante. Sendo assim, 74,07%<br />

apresentam características agravantes. (Figura 7)<br />

Figura 7 - Distribuição dos dados em relação a Atitude Familiar e Reação da Criança.<br />

11


No item reação social, o qual se refere à reação da sociedade diante do<br />

problema da criança, 12 (44,44%) delas pontuaram em baixo risco, em que a<br />

sociedade mostra preocupação e incentiva os pais a procurarem ajuda<br />

profissional, 06 (22,22%) em risco, em que algumas pessoas se preocupam,<br />

outras dizem que é assim mesmo, outras oferecem dicas, etc. e 07 (25,93%) em<br />

alto risco, sendo que as pessoas não estão dando o devido peso ao problema,<br />

estão reagindo de maneira exagerada ou estão tratando o problema de forma<br />

pejorativa. Em 02 (7,41%) dos prontuários analisados os entrevistaram não<br />

relataram se percebem ou não atitudes negativas da sociedade em relação a<br />

seus filhos. (Figura 8)<br />

Em relação à orientação profissional anterior, em que se avaliou a<br />

indicação profissional adequada, 13 (48,15%) crianças pontuaram em baixo risco,<br />

no qual houve a indicação apropriada, 02 (7,41%) crianças em risco, em que<br />

foram fornecidas informações não claras ou recomendaram que esperasse sem<br />

tomar qualquer atitude e 04 (14,81%) crianças em alto risco, sendo que foram<br />

fornecidas dicas e/ou soluções não científicas. (Figura 8)<br />

Figura 8 - Distribuição dos dados em relação a Reação Social e a Orientação Profissional<br />

Anterior.<br />

DISCUSSÃO<br />

Todos os protocolos analisados eram de crianças entre dois e onze anos e<br />

onze meses. Segundo Bohnen (2005), a gagueira manifesta-se predominante<br />

entre os dois e os seis anos de idade em boa parte das crianças que estão no<br />

processo de aprender a falar. Isso quer dizer que pode acontecer durante esse<br />

12


período, mas não pode durar todo esse tempo. Usualmente acontece durante seis<br />

e dez semanas e se, bem trabalhada, desaparece espontaneamente e totalmente.<br />

A maioria (77,78%) das crianças do estudo encontravam-se em alto risco para a<br />

gagueira do desenvolvimento, estando na faixa etária entre os 7 e 12 anos.<br />

Das 27 crianças do estudo, 23 são do sexo masculino e 4 são do sexo<br />

feminino. De acordo com Riper e Emerick (1997), há um numero maior de<br />

homens que gaguejam em relação às mulheres; a proporção pode diferir<br />

dependendo da idade da população que é considerada, mas a média é de quatro<br />

homens para uma mulher, na qual diz que a explicação mais provável é a de que<br />

os homens são simplesmente mais vulneráveis a todos os tipos de distúrbio que<br />

as mulheres.<br />

Durante os anos de aquisição e desenvolvimento da linguagem é comum<br />

que existam períodos variáveis no grau de fluência. Essa variação é decorrência<br />

das incertezas morfo-sintático-semânticas e do amadurecimento neuromotor para<br />

os atos da fala. A maioria das crianças supera com sucesso esse período, cerca<br />

de 80% das crianças recupera o padrão fluente de 6 a 8 meses após o<br />

surgimento das repetições. Para o outro grupo, a disfluência se mantém ou se<br />

agrava, podendo ou não chegar a associar movimentos corporais ao ato de fala.<br />

Esse é o grupo com grande probabilidade de vir a tornar-se crônico (Zebrowski,<br />

1995 apud Andrade, 1997).<br />

Pode-se observar que em 21 (77,78%) dos protocolos analisados as<br />

crianças apresentaram disfluências há mais de doze meses, sendo um importante<br />

indicativo de alto risco para a cronicidade da gagueira.<br />

Embora os sintomas possam diferir um pouco, seria interessante descobrir<br />

até que ponto a gagueira transitória (que afeta cerca de 3% a 5% das crianças)<br />

está relacionada à gagueira do desenvolvimento persistente. É possível que todas<br />

as crianças que apresentem sinais de gagueira desenvolvam nesse estágio uma<br />

anormalidade estrutural, mas ela é de caráter apenas provisório naqueles que se<br />

tornam indivíduos fluentes (Büchel e Sommer, 2004)<br />

Em 40,74% dos protocolos analisados a gagueira apareceu de forma<br />

súbita, ou seja, de uma hora para outra em 11,11% a gagueira apareceu de forma<br />

cíclica, ou seja, vai e volta, tem dias e fases melhores e piores.<br />

Segundo Jakubovicz (1997), os fenômenos secundários podem ser<br />

considerados como reações usadas para escapar, esconder ou evitar que se<br />

13


perceba a inabilidade para dizer a palavra. Podendo-se ressaltar entre eles:<br />

distorções faciais como: piscar e evitar os olhos, torcer o pescoço, morder os<br />

lábios entre outros; movimentos com o corpo como: balançar o corpo, abrir e<br />

fechar as pernas, passar a mão constantemente na cabeça, etc; e ainda tremor<br />

de lábios e anormalidades vocais.<br />

Em relação aos fatores qualitativos associados 74,07% dos protocolos<br />

analisados apresentaram características agravantes associadas.<br />

No item tipologia das disfluências destaca-se a predominância das<br />

disfluências menos comuns (coluna de alto risco), que estiveram presentes em<br />

85,19% dos prontuários analisados. Segundo Andrade (2006), a gagueira pode<br />

ser definida pelas rupturas involuntárias do fluxo da fala, caracterizadas por<br />

repetição de sons e de sílabas, prolongamentos de sons, bloqueios (posições pré-<br />

articulatórias ou articulatórias fixas), pausas extensas, intrusões nas palavras<br />

(sons ou segmentos fonológicos não pertinentes); essas alterações diminuem a<br />

velocidade da fala e provocam um grau de rompimento acima da taxa pertinente à<br />

idade do falante.<br />

Em 81,48% dos protocolos há a presença dos agravantes de comunicação<br />

no item fatores comunicativos associados, podendo-se destacar a coluna de alto<br />

risco, em que 51,85% das crianças apresentaram 2 ou mais agravantes. Para<br />

Andrade (2006), a natureza do relacionamento entre a fluência, a gagueira e a<br />

formulação da linguagem tem sido foco de atenção de muitos pesquisadores. No<br />

contexto linguístico, os elementos que exercem maior impacto sobre o grau de<br />

fluência são: deficiências na aquisição e/ou desenvolvimento articulatório e/ou<br />

fonológico; deficiências na aquisição e/ou desenvolvimento da linguagem, quanto<br />

à extensão e complexidade de maneira geral (aspectos morfo-sintático-<br />

semântico-pragmáticos); dificuldades de aprendizagem, principalmente na<br />

aquisição e/ou desenvolvimento da leitura; pressão articulatória aumentada;<br />

velocidade da fala aumentada.<br />

Dos protocolos analisados 40,74% apresentaram agravantes para fatores<br />

mórbidos pré, peri e pós-natal. Consideram-se aspectos biológicos a tendência de<br />

possíveis danos cerebrais precoces, decorrentes de infecções graves materna ou<br />

da própria criança e/ou de eventos de origem traumática que possam<br />

comprometer determinadas estruturas corticais, respondendo como fator causal<br />

da gagueira (Andrade, 1997).<br />

14


Entre os protocolos analisados, 74,07% apresentaram antecedentes<br />

familiares positivos para a gagueira, podendo-se observar que destes, em 40,74%<br />

o antecedente encontrava-se na família próxima (pais e irmãos) e/ou tinham<br />

muitos parentes afetados. De acordo com Riper e Emerick (1997), há<br />

interessantes padrões de incidência familiar na gagueira: a anamnese dos<br />

pacientes muitas vezes revela que tias, avós ou outros parentes também têm o<br />

distúrbio. Alguns especialistas dizem que a gagueira é hereditária, que o distúrbio<br />

é transmitido a gerações sucessivas através de carga genética.<br />

Apenas 29,63% dos prontuários analisados apresentaram características<br />

agravantes para os componente(s) estressante(s) associado(s). A influência dos<br />

aspectos psicológicos sobre a gagueira foi bastante difundida e estudada durante<br />

os anos 60 e 70, chegando até a considerá-la isoladamente, como responsável<br />

casual da patologia. Estudos atualizados apontam que cerca de 20% das<br />

gagueiras são de origem psíquica, mas que traços psicológicos predisponentes<br />

são encontrados em todos os tipos de manifestações. Esses traços caracterizam-<br />

se por: vergonha, ansiedade e sensibilidade excessiva; baixa estima; sensação<br />

de insucesso; irritação; entre outros (Andrade, 1997).<br />

Já no item reação da criança, 74,07% apresentam características<br />

agravantes, podendo-se observar que destes, 62,96% encontram-se em alto risco<br />

para a gagueira do desenvolvimento.<br />

Pode-se observar que em 48,15% dos protocolos analisados a sociedade<br />

reage ao problema de maneira inadequada. Para Andrade (1997), um dos<br />

grandes paradigmas envolvendo o estudo das gagueiras é o da influência<br />

ambiental, em particular dos comportamentos e atitudes, linguísticos e<br />

paralinguísticos, dos pais e dos outros falantes próximos à criança. Relata<br />

também que na exposição ao ambiente social, o falante disfluente pode passar a<br />

desenvolver reações de evitação frente a possíveis reações negativas do(s)<br />

ouvinte(s).<br />

Na maioria dos prontuários analisados (55,55%) as famílias apresentam<br />

reações inadequadas frente ao problema da criança, apresentando uma ou mais<br />

características agravantes.<br />

Em 77,78% dos prontuários analisados, podem-se observar atitudes<br />

linguísticas inadequadas das famílias diante do problema, apresentando uma ou<br />

mais características agravantes, destacando-se a coluna de alto risco (59,26%)<br />

15


para a gagueira do desenvolvimento. De acordo com Bohnen (2005), os<br />

comprometimentos pessoais frente a esses contextos se manifestam<br />

principalmente por: famílias que dão mais atenção à disfluência do que a fluência;<br />

que dão “pistas e truques” para evitar as disfluências; que freqüentemente<br />

corrigem, criticam ou modificam a fala; isolamento social; recusas com a escola;<br />

entre outros.<br />

CONCLUSÃO<br />

Pode-se concluir que fatores os de risco mais presentes neste estudo para a<br />

cronicidade da gagueira foram: sexo, histórico familiar, tipologia das disfluências,<br />

tempo de surgimento e reação da criança.<br />

Sendo assim, o protocolo de risco é um instrumento eficiente que favorece o<br />

procedimento clínico para a detecção precoce do risco para a cronicidade da<br />

gagueira.<br />

Portanto, a presença de um fator de risco de forma isolada não determina a<br />

cronicidade da gagueira, mas a presença de um conjunto de fatores de alto risco é<br />

fundamental para determinar o risco que as crianças têm de desenvolverem a<br />

gagueira crônica.<br />

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

ANDRADE, Claudia. Diagnostico e Intervenção Precoce no Tratamento das<br />

Gagueiras Infantis. Carapicuíba, SP. Pró-Fono, 1999.<br />

ANDRADE, Claudia. Gagueira Infantil: Risco, Diagnostico e Programas<br />

terapêuticos. Barueri, SP. Pró-Fono, 2006.<br />

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determinação de fatores de risco e condutas. In: Instituto Brasileiro de Fluência<br />

– IBF. São Paulo.<br />

Link: http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/html/269/body/10.htm<br />

BARBOSA, Lucia; CHIARI, B. Gagueira – Etiologia, Prevenção e Tratamento.<br />

Carapicuíba, SP. Pró-Fono, 1998.<br />

BARBOSA, Lucia. Noções Básicas sobre a Gagueira: suas características, sua<br />

etiologia e as teorias sobre sua natureza. In: RIBEIRO, Conhecimentos<br />

Essenciais para Atender Bem a Pessoa com Gagueira. 2ª Ed, São José dos<br />

Campos – SP. Pulso, 2005. Pg. 21<br />

BOHNEN, A.J. Sobre a Gagueira. São Leopoldo, RS. Unisinos, 2005. Pg. 25<br />

BÜCHEL, Christian; SOMMER, Martin (2004). Traduzido por Hugo Silva e<br />

revisado por Sandra Merlo. O que causa a Gagueira? In Instituto Brasileiro de<br />

Fluência – IBF. São Paulo. Link:<br />

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http://www.gagueira.org.br/gagueira.shtml. Acesso em 25/03/2009.<br />

JAKUBOVICZ, Regina. A Gagueira – teoria e tratamento de adultos e<br />

crianças. Rio de Janeiro, RJ. Revibter, 1997. Pg 19<br />

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PEREIRA, Mônica. A Gagueira Infantil como Resultado da Interação dos Fatores<br />

Sociais e Emocionais. In: MEIRA, Tratando Gagueira Diferentes Abordagens.<br />

São Paulo, SP. Cortez, 2002. Pg 43.<br />

RIBEIRO, Ignês. O Adolescente e a Gagueira. In: RIBEIRO, Conhecimentos<br />

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Campos – SP. Pulso, 2005. Pg. 71<br />

RIPER, C. V.: Correção da Linguagem – Uma introdução à patologia da fala e<br />

à audiologia. Ed.: Artes Medicas, 1997: Porto Alegre – RS.<br />

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