18.06.2013 Views

“sangue latino, coração de terra bruta”: a etnomusicalidade nativista ...

“sangue latino, coração de terra bruta”: a etnomusicalidade nativista ...

“sangue latino, coração de terra bruta”: a etnomusicalidade nativista ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

permitindo-se não manter-se num mesmo ambiente ao longo <strong>de</strong> sua existência).<br />

Quanto aos <strong>nativista</strong>s e tradicionalistas, é válido percebê-los <strong>de</strong>ntro das concepções do<br />

Sujeito Sociológico, pois os responsáveis pela produção cultural (seja ela a música, danças,<br />

literatura, etc., regradas ou não) têm a percepção da troca no momento em que produzem<br />

algo para ser dividido com um <strong>de</strong>terminado público. Cabe se observar que estes grupos não<br />

se encaixam no Sujeito Pós-Mo<strong>de</strong>rno, pois eles se mantêm fixos às raízes <strong>de</strong> on<strong>de</strong> enten<strong>de</strong>m<br />

serem natos e a sua produção é voltada especificamente à esta origem que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> qual seja, precisa da aceitação dos receptores para sua difusão. É o que diz Maria Izilda<br />

Mattos sobre a situação específica da difusão musical:<br />

Se, por um lado, o compositor captava, reproduzia e explorava representações que circulavam<br />

no cotidiano, essencialmente elementos <strong>de</strong> uma experiência social vivida; por outro, seu público<br />

assumia e resistia a certas idéias, sentimentos e ressentimentos expressos pelo compositor [...],<br />

estabelecendo uma troca, uma cumplicida<strong>de</strong>, uma certa sintonia melódica entre público e autor.<br />

(MATOS, 2000, P. 80)<br />

Para este trabalho, veremos como a Tertúlia Musical Nativista <strong>de</strong> Santa Maria <strong>de</strong>notou<br />

a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão <strong>de</strong> gênese por parte <strong>de</strong> alguns <strong>nativista</strong>s que tentavam explicitar<br />

seus conceitos. Esta análise foi realizada através das letras <strong>de</strong> algumas composições que<br />

foram selecionadas para compor o festival em suas 6 primeiras edições (1980 -1985).<br />

Quanto ao uso da música como fonte e objeto do estudo em história, temos Marcos<br />

Napolitano em “Fontes audiovisuais: a história <strong>de</strong>pois do papel” (2005), em que o autor<br />

interliga as diversas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fontes e as formas <strong>de</strong> utilizá-las, problematizando-as.<br />

Demonstra ter havido um atraso por parte dos historiadores em usar a música como objeto<br />

<strong>de</strong> pesquisa, já que pesquisadores <strong>de</strong> outras áreas já se valiam da análise musical para seus<br />

estudos. Este uso da música como objeto histórico é uma corrente amparada diretamente<br />

pelos estudos da história cultural 6 . Usar estas fontes como objeto <strong>de</strong> estudo em história faz<br />

com que o pesquisador assuma a condição <strong>de</strong> não buscar apresentar gran<strong>de</strong>s verda<strong>de</strong>s, mas<br />

sim complexificar as relações sociais que, neste caso, foram difundidas através das músicas<br />

<strong>de</strong> festivais, com a Tertúlia. Sandra Jatahy Pesavento enfatiza:<br />

A cultura é uma forma <strong>de</strong> expressão e tradução da realida<strong>de</strong> que se faz <strong>de</strong> forma simbólica. [...] A<br />

realida<strong>de</strong> tornou-se mais complexa. [...]. Não mais a posse dos documentos ou busca <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>finitivas. Não mais uma era <strong>de</strong> certezas normativas, <strong>de</strong> leis e mo<strong>de</strong>los a regerem o social. Uma<br />

era da dúvida, talvez, <strong>de</strong> suspeita, por certo, no qual tudo é posto em interrogação, pondo em<br />

causa a coerência do mundo. (2003, p. 15-16)<br />

Curioso observarmos, como a história da Tertúlia Musical Nativista explicita bem, que<br />

os tradicionalistas tentam se inserir no nativismo <strong>de</strong> forma a pregar, subliminarmente, que<br />

os princípios <strong>de</strong> ambos movimentos, na realida<strong>de</strong>, eram os mesmos. Os princípios do MTG,<br />

expressos na “Carta <strong>de</strong> Princípios” (elaborada por Glaucus Saraiva em 1961 e que hoje é<br />

cláusula pétrea do MTG através da Coletânea da Legislação Tradicionalista), são os mesmos<br />

princípios que os <strong>nativista</strong>s expressam através da música, porém com concepções diferentes<br />

no tocante à sua origem e suas compreensões da história. Ao mesmo tempo, o nativismo<br />

também oferece espaço às concepções que divergem da suas idéias, sendo que a música<br />

oferece espaço para a manifestação das mais diversas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s (cada compositor canta<br />

sua gênese conforme ele se i<strong>de</strong>ntifica com ela, sejam as figuras Farroupilhas, os “heróis<br />

anônimos” do RS – muitas vezes também do Movimento Farroupilha –, ainda os que se<br />

6 Autores como José Geraldo Vinci <strong>de</strong> Moraes, Maria Izilda Mattos, Theodor Adorno, Sandra Jatahy Pesavento e<br />

Marcos Napolitano são alguns dos que abordam a teoria do uso da música como fonte e objeto <strong>de</strong> história, cujo<br />

estudo teórico mais <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong>ve ficar para outra oportunida<strong>de</strong>.<br />

1040

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!