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“sangue latino, coração de terra bruta”: a etnomusicalidade nativista ...

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movimento será posteriormente conhecido por Movimento Tradicionalista Gaúcho, o MTG<br />

(institucionalizado em 1966), e estes 8 estudantes passam a ser consi<strong>de</strong>rados os “Pioneiros<br />

do MTG”. Este mesmo MTG, através <strong>de</strong> seus Conselhos Diretores, acabara por <strong>de</strong>sviar os<br />

princípios iniciais <strong>de</strong> seus geradores e acaba realizando um trabalho <strong>de</strong> preservação cultural<br />

amparado na criação <strong>de</strong> regramentos e na limitação e regularização das manifestações<br />

folclóricas.<br />

Estes <strong>de</strong>svios aconteceram ainda nas concepções i<strong>de</strong>ológicas do Movimento. O pensador<br />

que melhor <strong>de</strong>finiu os i<strong>de</strong>ais do ainda nascente Movimento Tradicionalista, fora João Carlos<br />

Barbosa Lessa, que apresentara, em 1954, a tese “O sentido e o valor do Tradicionalismo”,<br />

on<strong>de</strong> sistematizara o entendimento <strong>de</strong>ste tradicionalismo através <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ologia e das dos<br />

<strong>de</strong>mais consi<strong>de</strong>rados pioneiros <strong>de</strong>ste movimento, falando sobre o sentido do tradicionalismo<br />

como uma<br />

EXPERIÊNCIA do povo rio-gran<strong>de</strong>nse, no sentido <strong>de</strong> auxiliar as forças que pugnam pelo melhor<br />

funcionamento da engrenagem da socieda<strong>de</strong>. Como toda experiência social, não proporciona<br />

efeitos imediatamente perceptíveis. O transcurso do tempo é que virá dizer do acerto ou não<br />

<strong>de</strong>sta campanha cultural. De qualquer forma, as gerações do futuro é que po<strong>de</strong>rão indicar, com<br />

intensida<strong>de</strong>, os efeitos <strong>de</strong>sta nossa - por enquanto - pálida experiência. E ao dizermos isso, estamos<br />

acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa estéril <strong>de</strong> “retorno<br />

ao passado”. A realida<strong>de</strong> é justamente o oposto: o Tradicionalismo constrói para o futuro. Feitas<br />

estas consi<strong>de</strong>rações preliminares, po<strong>de</strong>mos tentar um conceito do movimento tradicionalista. E<br />

então diremos: “Tradicionalismo é o movimento popular que visa auxiliar o Estado na consecução<br />

do bem coletivo, através <strong>de</strong> ações que o povo pratica (mesmo que não se aperceba <strong>de</strong> tal<br />

finalida<strong>de</strong>) com o fim <strong>de</strong> reforçar o núcleo <strong>de</strong> sua cultura: graças ao que a socieda<strong>de</strong> adquire maior<br />

tranqüilida<strong>de</strong> na vida comum”. 4<br />

Apesar da i<strong>de</strong>ologia e da origem <strong>de</strong>stes Pioneiros e <strong>de</strong> seu principal pensador, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

do “gaúcho” que passa a ser difundida pelo MTG e alimentada pela cultura orientada por<br />

ele, é baseada no entendimento da origem lusitana do RS, entendimento este organizado e<br />

difundido, inicialmente, através do IHGB – Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que,<br />

fundado em 1838, visava compor, através da história e da geografia, um figura brasileira que<br />

se comovesse com menores resistências ao nacionalismo, ainda pouco influente na socieda<strong>de</strong><br />

brasileira. Sobre o IHGB e suas tentativas <strong>de</strong> elaborar uma imagem nacional, observa-se<br />

o texto <strong>de</strong> Manoel Luís Salgado Guimarães (1988), “Nação e Civilização nos Trópicos:<br />

O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Projeto <strong>de</strong> uma História Nacional”, na<br />

seguinte passagem:<br />

[...] é no bojo do processo <strong>de</strong> consolidação do Estado Nacional que se viabiliza um projeto <strong>de</strong> pensar<br />

a história brasileira. A criação, em 1838, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) vem<br />

apontar em direção à materialização <strong>de</strong>ste empreendimento, que mantém profundas relações<br />

com a proposta i<strong>de</strong>ológica em curso. Uma vez implantado o Estado Nacional, impunha-se como<br />

tarefa o <strong>de</strong>lineamento <strong>de</strong> um perfil para a “Nação brasileira”, capaz <strong>de</strong> lhe garantir uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

própria no conjunto amplo das “Nações”, <strong>de</strong> acordo com os novos princípios organizadores da<br />

vida social do século XIX. (p. 6).<br />

Uma situação <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> para o IHGB foi incluir neste cenário nacional os espaços <strong>de</strong><br />

fronteira, pois, como no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, negar que parte da sua formação tem influência<br />

espanhola e não apenas portuguesa é <strong>de</strong>sconhecer a realida<strong>de</strong> do Estado, principalmente na<br />

região Oeste. Sobre como foi tratada esta questão pelo IHGB, vê-se que:<br />

4 Disponível em http://www.mtg.org.br/valor.html. Acesso em 4 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2011.<br />

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