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“sangue latino, coração de terra bruta”: a etnomusicalidade nativista ...

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industrialização nascente, com os bon<strong>de</strong>s elétricos, os automóveis, o futebol, o cinema, os<br />

fraques e cartolas, ainda influenciados pela Europa. Já na década <strong>de</strong> 1940, a cultura dos<br />

EUA é a que se sobrepõe, com o jeans, o rock e refrigerantes industrializados. A cida<strong>de</strong><br />

acelera seu <strong>de</strong>senvolvimento e passa a receber pessoas <strong>de</strong> diversas regiões do próprio Estado,<br />

que migram para a capital em busca <strong>de</strong> empregos e/ou <strong>de</strong> estudo. A questão é que o interior<br />

do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, principalmente em direção ao oeste, muito pouco havia recebido estas<br />

influências européias ou norte-americanas do século XX. A socieda<strong>de</strong> do interior vivia uma<br />

realida<strong>de</strong> baseada na cultura rural e fortemente influenciada pela colonização espanhola<br />

empreendida no oeste da América do Sul nos séculos XVII e XVIII.<br />

1 - A IDENTIDADE DO SUL-RIO-GRANDENSE ATRAVÉS DA PROEMINÊNCIA DO<br />

TRADICIONALISMO E DO NATIVISMO<br />

Sobre a formação hispânica que influencia o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, é válido observar a<br />

questão <strong>de</strong> fronteira do RS, uma fronteira dita “móvel” por ter tido seus contornos alterados<br />

diversas vezes ao longo dos séculos XVII e XVIII. Com o movimento das gran<strong>de</strong>s navegações<br />

europeias no início do período mo<strong>de</strong>rno da Europa (final do século XV e início do XVI) e<br />

a consequente conquista <strong>de</strong> novos territórios, principalmente colonizando a região do atual<br />

continente americano, o que hoje se tem como o estado do RS fora ora proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Espanha e ora proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Portugal.<br />

As Coroas dos dois Estados Nacionais citados foram as que empreen<strong>de</strong>ram o processo<br />

<strong>de</strong> conquista no sul da atual América, e formalizaram a disputa das <strong>terra</strong>s novas através <strong>de</strong><br />

Tratados, que <strong>de</strong>terminavam até on<strong>de</strong> iriam os domínios <strong>de</strong> cada país. Em 1494, o Tratado <strong>de</strong><br />

Tor<strong>de</strong>silhas (assinado entre Portugal e Espanha com o aval da Igreja Católica) <strong>de</strong>terminava<br />

que as <strong>terra</strong>s que ficassem até 370 léguas leste da ilha <strong>de</strong> Cabo Ver<strong>de</strong> seriam <strong>de</strong> Portugal<br />

e à oeste seriam <strong>de</strong> Espanha. Mas as contendas entre as duas Coroas ainda não estariam<br />

solucionadas. Portugal passa a <strong>de</strong>sejar ampliar seus domínios neste “Novo Mundo” quando<br />

percebe que o oeste reservava <strong>terra</strong>s em maior quantida<strong>de</strong>, com possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extração<br />

<strong>de</strong> metais preciosos e com solo e clima propícios ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> diversas culturas<br />

agrícolas. As potências, ao organizarem seu processo <strong>de</strong> colonização da região, passam a<br />

protagonizar disputas que fazem, do atual Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, uma região que fora habitada<br />

por distintos povos e que viveu sob o domínio espanhol por longos anos antes do efetivo<br />

domínio português. Portugal só firmara sua posse na região, dando ao RS o contorno <strong>de</strong><br />

fronteira política tal qual o vigente, apenas em 1801 quando recebe as <strong>terra</strong>s que haviam sido<br />

dos povoados missioneiros (organizado por padres espanhóis da Companhia <strong>de</strong> Jesus junto<br />

aos Guaranis, um dos povos nativos da América Pré-Colombiana) na assinatura do Tratado<br />

<strong>de</strong> Badajós. Esta situação <strong>de</strong> fronteira móvel fora o que influenciara o RS para alocar, em seu<br />

território, populações cuja i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> não é homogênea no tocante à sua origem étnica e à<br />

sua origem espacial (urbana ou rural).<br />

Observando então que Porto Alegre formara sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> baseada na influência<br />

portuguesa, admitindo culturas estrangeiras e num cenário urbano, é natural enten<strong>de</strong>r que<br />

a cida<strong>de</strong> causara estranhamento às pessoas que fossem naturais da interior oeste do Estado.<br />

Conforme a obra “’35 CTG’ Pioneiro do Movimento Tradicionalista Gaúcho”, <strong>de</strong> Cyro<br />

Dutra Ferreira 3 , em 1947, um grupo <strong>de</strong> estudantes do Colégio Júlio <strong>de</strong> Castilhos (sendo<br />

eles Paixão Côrtes, Cyro Ferreira, Cyro Costa, Antônio Siqueira, Orlando Degrazzia,<br />

Cilço Campos, Fernando Vieira e João Vieira), naturais do oeste do Estado, opta por<br />

organizar um movimento que levasse até a capital os costumes rurais do interior do RS. Este<br />

3 FERREIRA, Cyro Dutra. “35 CTG” O pioneiro do Movimento Tradicionalista Gaúcho. Porto Alegre, RS: Editora 35<br />

CTG, n/d.<br />

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