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“sangue latino, coração de terra bruta”: a etnomusicalidade nativista ...

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e o mesmo céu pra cantar.<br />

Ninguém po<strong>de</strong>rá impedir<br />

que formemos uma pátria,<br />

se a pampa irmana estas <strong>terra</strong>s<br />

e o gaúcho é uma raça.”<br />

O mesmo cantor uruguaio que firmava uma carreira <strong>de</strong> sucesso cantando motivos<br />

p<strong>latino</strong>s, volta à 6ª Tertúlia com uma composição <strong>de</strong> sua autoria. A letra da música já fala<br />

por si, dos i<strong>de</strong>ais do compositor em unir a região platina (in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> fronteiras<br />

e ban<strong>de</strong>iras) conforme seus costumes e <strong>de</strong> alimentar a idéia <strong>de</strong> aceitação <strong>de</strong> serem todos<br />

her<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> ancestrais comuns.<br />

Desta forma, estas composições revelam um sentimento que permeara gran<strong>de</strong> parcela<br />

da população Rio-Gran<strong>de</strong>nse no início da década <strong>de</strong> 1980 acerca <strong>de</strong> seus entendimentos<br />

quanto à própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, esta relacionada com a situação <strong>de</strong> fronteira e expressa por<br />

compositores <strong>nativista</strong>s através, por exemplo, da Tertúlia Musical Nativista <strong>de</strong> Santa Maria,<br />

conforme o apresentado neste estudo. A licença poética do qual o autor po<strong>de</strong> se valer não<br />

traz, no caso <strong>de</strong>sta composição, nenhum tipo <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> quanto àquilo que se <strong>de</strong>seja<br />

ser transmitido. Le<strong>de</strong>sma <strong>de</strong>ixa claro e explícito <strong>de</strong> que há uma tentativa constante <strong>de</strong> dividir<br />

o Rio-Gran<strong>de</strong>nse do p<strong>latino</strong>, e que tal concepção é, no mínimo, uma tolice. As fronteiras<br />

são consi<strong>de</strong>radas uma “ilusão”, e ele <strong>de</strong>monstra que esta ilusão é incapaz <strong>de</strong> fazer com que<br />

o “gaúcho” se separe dos seus iguais. São todos filhos <strong>de</strong> uma mesma pampa, na visão <strong>de</strong><br />

Le<strong>de</strong>sma.<br />

Ainda, o fato <strong>de</strong> o autor <strong>de</strong> elaborado esta composição para o festival <strong>de</strong> 1985,<br />

<strong>de</strong>monstra que o <strong>de</strong>bate ainda estava em aberto, que ainda se insistia na i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> dividir<br />

culturalmente (já que politicamente já o estava) os habitantes <strong>de</strong>sta pampa que, por sua vez,<br />

são tão semelhantes.<br />

CONCLUSÃO<br />

Este trabalho quis <strong>de</strong>monstrar que as noções <strong>de</strong> fronteira e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do gaúcho<br />

Sul Rio-Gran<strong>de</strong>nse foram explicitadas através <strong>de</strong> músicas, principalmente com o surgimento<br />

dos Festivais <strong>de</strong> Música Nativista no RS. Neste artigo <strong>de</strong>monstrou-se que os movimentos<br />

tradicionalista e <strong>nativista</strong> rivalizaram (e ainda rivalizam) em muito <strong>de</strong>vido à concepção<br />

<strong>de</strong> gênese que cada um <strong>de</strong>stes grupos tem <strong>de</strong> si e do outro, utilizando como exemplo a<br />

Tertúlia Musical Nativista da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Maria, o 2º festival do gênero do RS. Desejouse<br />

também comprovar as potencialida<strong>de</strong>s da música como fonte e objeto <strong>de</strong> história, por<br />

carregar concepções <strong>de</strong> história, memória e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma população, que ou compõem<br />

músicas ou que as aceitam e expan<strong>de</strong>m sua difusão. Muitos <strong>de</strong>stes <strong>de</strong>bates estão explicitados<br />

nos livretos dos festivais, que falam abertamente sobre estas rivalida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>sentendimentos e<br />

entendimentos <strong>de</strong> origem, porém nossa proposta é observar como estas questões se alojam<br />

nas composições musicais e se popularizam.<br />

Afinal a música não admite fronteiras. Em seu cerne, são carregadas as mais diversas<br />

i<strong>de</strong>ologias, cujas barreiras que possam querer <strong>de</strong>tê-las são infimamente menores do que os<br />

domínios que envolvem sua difusão.<br />

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