Tese Final.pdf - Estudo Geral - Universidade de Coimbra

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O mundo moderno leva muitas pessoas a sonhos tão altos, a exigências tão grandes de crescimento económico, de conhecimento, de estudos, que parece não restar tempo para viver, criar os filhos, ser feliz com as coisas simples da existência. Uma pesquisa recente realizada em Inglaterra revelou que alguns pais passam, em média, no máximo seis minutos proveitosos com os filhos, minutos em que verdadeiramente há interacção e troca de estímulos. Delegam-se a terceiros as funções de cuidador, educador e alimentador. A terceirização é uma forma diferente e “modernosa” de cuidar dos filhos: passa-se para terceiros a realização de determinadas tarefas e, nalguns casos, de todas (Martins, 2010). Neste tipo de relacionamento “terciarizado”, pode-se observar e levantar algumas questões: quem educa? quem orienta? quem coloca as normas, os limites, quem dá afecto? A educação, além da formal e académica, a ética e moral, acaba por ser transferida para as escolas; e, de alguma forma, os pais acreditam e esperam que elas desempenhem essa função. Interessante é que os professores consideram que a função deles é informar, orientar na aquisição de conhecimentos, mas não educar. Há uma constante transferência de responsabilidades e não uma harmonia e equilíbrio destas funções. Segundo José Martins (2007), o abandono e a terceirização ocorrem em todas as classes sociais. Há que se reflectir sobre até que ponto se está a colher os frutos de algumas décadas de abandono e terceirização de crianças e adolescentes, enquanto se vê a violência atingir inclusive crianças e jovens que, teoricamente, não teriam passado por grandes necessidades na vida. A criança a que o professor José Martins chama de terceirizada acaba por exibir diversas características. É como se fosse “meio” abandonada, criada sem muito carinho, sem atenção adequada e até sem amor. Infelizmente, com frequência, parece órfã de mãe ou pai vivos, esquecida de ser atendida no requisito mais importante de sua vida: a presença dos pais ou das pessoas que cuidam dela. Neste contexto surge a terceirização da educação, conferida às escolas que, por sua vez, ou não querem essa função ou não estão preparadas para exercê-la. Alguns profissionais, inclusive educadores, pediatras e psicólogos, consideram que a terceirização do atendimento à criança é quase inevitável, dadas as condições de vida 44

actuais, em que a mulher entrou definitivamente para o mercado de trabalho e não existe uma legislação adequada para regular o seu afastamento para cuidar dos filhos. Ser mãe ou pai e educador, hoje, é uma tarefa igual à do passado, acrescida dos problemas que a modernidade trouxe. É uma responsabilidade muito grande, que deve ser assumida com perfeito e profundo conhecimento de suas implicações. Aos educadores cabe tirar partido de todas as etapas vivenciadas pelas crianças, desde o seu nascimento até o início da puberdade, que é a época em que seu carácter estará definido, conforme o seu crescimento e maturação. O educador, por sua vez, tem a oportunidade de ajudar a criança a revisitar as etapas mal vividas através de jogos e outras dinâmicas interactivas que possibilitem uma reorganização neurovegetativa das suas aprendizagens anteriores. Transcrevo as palavras quase indignadas de José Martins, “Da mesma maneira, pergunto se não está na hora de despertarmos para o problema da criação das crianças. Temos de despertar para essa situação, pois parece que as pessoas não se dão conta da importância do afecto, do amor na vida dos filhos. Que será dessas crianças mal-amadas? Se não receberem amor, carinho, atenção, colo, afago, calor humano, serão capazes de amar no futuro? Poderão entender o que é bondade, doação, capacidade de se entregar aos outros sem esperar nada em troca? Poderão entender o que é amar, ter filhos, netos, família? Ou, como parece que já estão fazendo, confundirão amor e sexo, erotismo e ligações puramente físicas?” (Martins, 2010, p. 65) Um exemplo dessa distância de informação pode ser a educação sexual. Esta tem necessariamente de ensinar às pessoas não só as questões do erotismo ou satisfação, mas sobretudo insistir na importância da maternidade e da paternidade conscientes. A decisão de ter um filho deve ser tomada por ambos os pais, não só face ao momento que estão a viver, mas também com uma visão de longo prazo. Planear uma gravidez é importante, mas é preciso também planear como vai ser a vida depois dela, inclusive no que se espera da educação e formação dos filhos. Para concretizar a participação activa e construtiva do aluno na escola e na sociedade é necessário ampliar os conhecimentos acerca da psique no sentido de compreender como as pessoas comunicam e aprendem, como interpretam a realidade e como intervêm nela (Freire, 1996). 45

actuais, em que a mulher entrou <strong>de</strong>finitivamente para o mercado <strong>de</strong> trabalho e não existe<br />

uma legislação a<strong>de</strong>quada para regular o seu afastamento para cuidar dos filhos.<br />

Ser mãe ou pai e educador, hoje, é uma tarefa igual à do passado, acrescida dos<br />

problemas que a mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> trouxe. É uma responsabilida<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong>, que <strong>de</strong>ve ser<br />

assumida com perfeito e profundo conhecimento <strong>de</strong> suas implicações.<br />

Aos educadores cabe tirar partido <strong>de</strong> todas as etapas vivenciadas pelas crianças,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu nascimento até o início da puberda<strong>de</strong>, que é a época em que seu carácter estará<br />

<strong>de</strong>finido, conforme o seu crescimento e maturação.<br />

O educador, por sua vez, tem a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajudar a criança a revisitar as<br />

etapas mal vividas através <strong>de</strong> jogos e outras dinâmicas interactivas que possibilitem uma<br />

reorganização neurovegetativa das suas aprendizagens anteriores.<br />

Transcrevo as palavras quase indignadas <strong>de</strong> José Martins, “Da mesma maneira,<br />

pergunto se não está na hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertarmos para o problema da criação das crianças.<br />

Temos <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar para essa situação, pois parece que as pessoas não se dão conta da<br />

importância do afecto, do amor na vida dos filhos. Que será <strong>de</strong>ssas crianças mal-amadas?<br />

Se não receberem amor, carinho, atenção, colo, afago, calor humano, serão capazes <strong>de</strong><br />

amar no futuro? Po<strong>de</strong>rão enten<strong>de</strong>r o que é bonda<strong>de</strong>, doação, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se entregar aos<br />

outros sem esperar nada em troca? Po<strong>de</strong>rão enten<strong>de</strong>r o que é amar, ter filhos, netos,<br />

família? Ou, como parece que já estão fazendo, confundirão amor e sexo, erotismo e<br />

ligações puramente físicas?” (Martins, 2010, p. 65)<br />

Um exemplo <strong>de</strong>ssa distância <strong>de</strong> informação po<strong>de</strong> ser a educação sexual. Esta tem<br />

necessariamente <strong>de</strong> ensinar às pessoas não só as questões do erotismo ou satisfação, mas<br />

sobretudo insistir na importância da maternida<strong>de</strong> e da paternida<strong>de</strong> conscientes. A <strong>de</strong>cisão<br />

<strong>de</strong> ter um filho <strong>de</strong>ve ser tomada por ambos os pais, não só face ao momento que estão a<br />

viver, mas também com uma visão <strong>de</strong> longo prazo. Planear uma gravi<strong>de</strong>z é importante,<br />

mas é preciso também planear como vai ser a vida <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>la, inclusive no que se espera<br />

da educação e formação dos filhos.<br />

Para concretizar a participação activa e construtiva do aluno na escola e na<br />

socieda<strong>de</strong> é necessário ampliar os conhecimentos acerca da psique no sentido <strong>de</strong><br />

compreen<strong>de</strong>r como as pessoas comunicam e apren<strong>de</strong>m, como interpretam a realida<strong>de</strong> e<br />

como intervêm nela (Freire, 1996).<br />

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