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BRUXISMO: Uma Visão Fonoaudiológica das Causas e ... - CEFAC

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<strong>CEFAC</strong><br />

CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA<br />

MOTRICIDADE ORAL<br />

<strong>BRUXISMO</strong>:<br />

<strong>Uma</strong> <strong>Visão</strong> <strong>Fonoaudiológica</strong> <strong>das</strong><br />

<strong>Causas</strong> e Consequências<br />

LUCIANA CIDRIM<br />

RECIFE<br />

2001<br />

SUMÁRIO<br />

1


1. INTRODUÇÃO.............................................................................................. 1<br />

2. DISCUSSÃO TEÓRICA<br />

2.1. DEFINIÇÃO.................................................................................................3<br />

2.2. ETIOLOGIA.................................................................................................6<br />

2.3. INCIDÊNCIA..............................................................................................11<br />

2.4. EFEITOS...................................................................................................13<br />

2.5. TRATAMENTO...........................................................................................18<br />

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................24<br />

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................27<br />

2


RESUMO<br />

O objetivo deste estudo foi aprofundar o conhecimento que nós, Fonoaudiólogos, temos a<br />

respeito do bruxismo, para minimizar os seus efeitos ao sistema estomatognático. Em nossa<br />

prática clínica, encontramos o bruxismo associado a outros distúrbios, e nos preocupamos se ele<br />

pode surgir como causa destes ou se por si só, determinando outros problemas.<br />

Para esclarecer nossas dúvi<strong>das</strong>, não foi suficiente um mergulho na Literatura<br />

<strong>Fonoaudiológica</strong>. Foi necessário pesquisar outras especialidades como a Ortodontia, que trabalha<br />

diretamente com a oclusão do indivíduo, para que pudéssemos compreender a dinâmica deste<br />

problema. Esta pesquisa esclareceu como o bruxismo é desencadeado e quais estruturas<br />

encontram-se altera<strong>das</strong> quando o mesmo se manifesta, envolvendo, assim, questões anatômicas e<br />

fisiológicas.<br />

ABSTRACT<br />

The objective of this study was to deepen the knowledge that us, Speech and Language<br />

Pathologist, have regarding the bruxism, to minimize their effects to the sthomathogmatics system .<br />

In our clinical practice, we found the associated bruxism the other disturbances, and we worried if<br />

he can appear as cause of these or if by itself, determining other problems.<br />

3


To explain our doubts, it was not enough a dive in the Speech and Language Pathologist<br />

Literature . It was necessary to research other specialties as the Orthodontia, that works directly<br />

with the individual's occlusion, so that we could understand the dynamics of this problem. This<br />

research explained as the bruxism is unchained and which structure meet altered when the same<br />

shows, involving, like this, anatomical and physiologic subjects.<br />

4


Aos meus pacientes,<br />

Inspiração diária na busca do conhecimento.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Ao Meu Querido Alexandre pelos momentos de paciência durante a execução<br />

desta pesquisa.<br />

À Dra. Mônica Marques pelo auxílio da Bibliografia Odontológica.<br />

À Fga. e amiga Luciana Studart pelo incentivo na conclusão deste trabalho.<br />

À Fga. Yasodhara Simas pela atenção com os seus preciosos livros.<br />

À Dra. Mírian Golgenberg pelas idéias que iluminaram a minha dissertação.<br />

5


1. INTRODUÇÃO<br />

Atualmente, observa-se em nossa prática clínica, uma considerável<br />

incidência do bruxismo, associado a outras alterações do sistema sensório-<br />

motor-oral.<br />

Apesar de um conhecimento restrito sobre o assunto, reconhecemos, como<br />

condição indispensável, a necessidade de estudar e aprofundar a relação com<br />

áreas afins, como a medicina e a odontologia.<br />

Como é possível planejar um prognóstico terapêutico de um indivíduo com<br />

bruxismo, desconhendo-se a nossa atuação nestes casos ?<br />

Será que todos os indivíduos com queixa de bruxismo apresentam<br />

alterações na motricidade oral e vice-versa?<br />

Será que o bruxismo pode instalar e desenvolver maloclusões?<br />

Seriam inúmeros os questionamentos a serem abordados diante de um<br />

tema complexo, com inúmeras controvérsias.<br />

O objetivo desta pesquisa teórica foi aprofundar o nosso conhecimento a<br />

respeito do bruxismo. Este tema estudado surgiu pela própria ausência de<br />

pesquisas em nossa área que esclarecessem, como nós, fonoaudiólogos,<br />

poderíamos contribuir no tratamento desta alteração.<br />

É ainda frequente, ouvirmos leigos relatarem que toda criança que “range<br />

os dentes” tem problemas de verminose, independente da idade, modo e<br />

frequência em que o sintoma se manifesta.<br />

6


Na verdade, quando se avalia o indivíduo que apresenta bruxismo,<br />

verificamos que outros fatores associados influenciam a sua manifestação,<br />

desconsiderando-se, assim, uma única causa que justifique.<br />

O bruxismo, hábito parafuncional de ranger os dentes,constitui um difícil<br />

desafio para a Odontologia e Fonoaudiologia, sendo que a dificuldade para sua<br />

resolução aumenta de acordo com a gravidade do desgaste produzido.<br />

É considerado uma patologia de ocorrência comum, podendo ser<br />

observado em to<strong>das</strong> as faixas etárias, com prevalência semelhante em ambos os<br />

sexos. É uma <strong>das</strong> desordens funcionais dentárias mais prevalentes, complexas e<br />

destrutivas existentes, que necessita de um trabalho multidisciplinar, no sentido de<br />

reconhecer os benefícios que cada um pode trazer para que o indivíduo apresente<br />

um melhor prognóstico.<br />

7


2. DISCUSSÃO TEÓRICA<br />

2.1. DEFINIÇÃO<br />

O termo bruxismo deriva da palavra grega Brychein, que significa<br />

apertamento, fricção ou atrito dos dentes entre si, com força ou sem nenhum<br />

objetivo funcional aparente.<br />

O hábito diurno e noturno de ranger e apertar os dentes pode ser<br />

classificado como uma doença psicossomática, na qual existe um apertamento<br />

excessivo <strong>das</strong> estruturas dentais e que não pode ser comparado com os contatos<br />

oclusais e dentais normais que ocorrem durante a mastigação e deglutição.<br />

Embora alguns movimentos sejam iguais àqueles que ocorrem durante a<br />

mastigação e deglutição ( movimentos laterais e apertamento em cêntrica), os<br />

movimentos mandibulares que se observam durante os períodos de bruxismo são<br />

patológicos para todo o aparelho estomatognático. (MOLINA,1989)<br />

RAMFJORD & ASH (1989) definem que o bruxismo pode estar relacionado<br />

com o desenvolvimento <strong>das</strong> fase oral e dental. A criança ganha prazer e<br />

satisfação através da sucção dos dedos e, quando erupcionam os dentes<br />

decíduos na cavidade bucal, ela começa a mostrar tendências agressivas<br />

mordendo inclusive os objetos a seu alcance.<br />

Com o desenvolvimento infantil, ela pode trocar a mordida de objetos<br />

externos pelo rangimento dos dentes, à medida que estes erupcionam na<br />

cavidade bucal.<br />

8


Os autores acima acrescentam que o travamento anormal (bruxismo<br />

cêntrico) refere-se ,principalmente, ao travamento dos músculos mastigatórios<br />

sem a presença de qualquer situação psíquica ou física.<br />

ALVES (1993), em seus estudos, sugere o bruxismo como sendo uma<br />

alteração na dimensão cérvico-oclusal ou cérvico-incisal da dentição decídua ou<br />

permanente em consequência do hábito de ranger ou apertar os dentes.<br />

Segundo HANSON & BARRETT (1995), o bruxismo é um dos hábitos mais<br />

destrutivos da cavidade bucal porque ocorre de forma constante, disfuncional, e<br />

utiliza forças excessivas para os tecidos dentais e periodontais.<br />

É também, um trincamento ou ranger de dentes de caráter não-funcional.<br />

O termo “não-funcional”, refere-se às funções.<br />

O bruxismo é o resultado de uma incoordenação neuromotora dos<br />

músculos mastigatórios e está associado a outros hábitos bucais viciosos, tais<br />

como: repeti<strong>das</strong> oclusões dentárias, como tique nervoso; projeção ou lateralização<br />

mandibular nos movimentos de abrir a boca; mastigar ou falar e estalar a<br />

articulação temporomandibular (CANONGIA, 1996).<br />

A autora acrescenta ainda que durante o dia, é pouco freqüente, porque os<br />

mecanismos corticais e mesencefálicos, que são os responsáveis pela quantidade<br />

de força colocada sobre os dentes, a tensão, contração e estiramento muscular<br />

são reprimidos pelo mecanismo de controle consciente que protegem todos os<br />

órgão do corpo. Durante a noite quando o indivíduo está dormindo, não existe um<br />

controle dos mecanismos conscientes, e é por isso que o bruxismo se manifesta<br />

como forma de liberar a tensão emocional que está reprimida.<br />

9


O bruxismo noturno pode gerar forças oclusais muito intensas, forças estas<br />

muito maiores que aquelas gera<strong>das</strong> conscientemente. O grande aumento destas,<br />

resulta em carga extra para a dentição, osso alveolar, periodonto e articulação<br />

temporomandibular. É possível que a inibição cortical, normalmente operante<br />

durante a fase em que a pessoa encontra-se acordada, seja suprimida durante o<br />

sono, possibilitando os músculos mastigatórios de exercerem forças oclusais<br />

maiores nesta fase.<br />

Outro estudo, realizado por MATIELLO (1997), cita que o bruxismo é um<br />

hábito destrutivo inconsciente, que consiste em ranger os dentes, envolvendo<br />

movimentos rítmicos, semelhantes ao da mastigação, causando dor e fadiga<br />

muscular quando os esforços superam os da mastigação.<br />

WALTER et al. (1997) acrescentam que o bruxismo é uma forma consciente<br />

e inconsciente de ranger os dentes e promover o desgaste dental prematuro,<br />

podendo até expor a polpa.<br />

JORGIC et al. (1998) afirmam que o bruxismo é uma atividade anormal do<br />

sistema mastigatório, envolvendo fatores psicológicos e oclusais.<br />

O bruxismo é considerado também como o ato de ranger ou apertar dos<br />

dentes em outros movimentos que não os da mastigação de alimentos ou<br />

deglutição, como referem SHEPHERD & PRICE, citados por Gusson (1999).<br />

10


2.2. ETIOLOGIA<br />

O bruxismo, de acordo com RIBAS & MONTENEGRO (1980), tem relação<br />

direta com a agressividade, ocorrendo devido à presença de um impulso agressivo<br />

que é impedido de deflagrar por outros caminhos, por repressão do indivíduo ou<br />

da sociedade, sendo descarregado através do apertar ou ranger os dentes.<br />

HANSON (1988) destaca o estudo de Gallagher (1980), incluindo também<br />

entre as etiologias, os distúrbios gastrointestinais, alergias e distúrbios endócrinos<br />

que são esses chamados de fatores sistêmicos.<br />

MOLINA (1989) afirma que a etiologia do bruxismo é multifatorial,<br />

envolvendo fatores psíquicos (sintomas emocionais), oclusais, profissionais,<br />

hereditários e distúrbios orgânicos.<br />

As interferências oclusais presentes podem favorecer o surgimento do<br />

bruxismo. Na ausência destas, diversos pesquisadores demonstram que os<br />

fatores psicológicos podem ser geradores do bruxismo.<br />

A criança aos 3 anos de idade, com dentição decídua, deve apresentar sua<br />

função neuromuscular mastigatória completa. No caso desta função não estar<br />

completamente desenvolvida, o bruxismo pode surgir como tentativa de suprir esta<br />

necessidade, podendo estender-se até os 6 anos de idade.<br />

THOMPSON, referido por RAMFJORD & ASH (1989), ressalta que tem sido<br />

lógica para a maioria dos investigadores do bruxismo, existir uma relação íntima<br />

entre tensão psíquica e bruxismo.<br />

11


O bruxismo também pode ser considerado pelos psicólogos como hábito<br />

nervoso em resposta a problemas pessoais insolúveis ou a impossibilidade de<br />

exprimir sentimentos de ansiedade, raiva ou agressividade.<br />

O estudo de BARTMEIER, apontado por MOLINA (1989), publica sobre a<br />

etiologia psicológica do bruxismo. Este, apresenta o resultado de que to<strong>das</strong><br />

aquelas crianças que atingiam a fase da expressão oral e que são reprimi<strong>das</strong><br />

durante a formação de fatores de auto-segurança e de sintomas agressivos,<br />

começam a apertar e deslizar os dentes como um mecanismo de liberação de<br />

emoções reprimi<strong>das</strong>.<br />

O hábito do bruxismo, definido por HANSON & BARRETT (1995) é mais<br />

frequentemente, atribuído a fatores psicogênicos. Em termos psicológicos, o<br />

paciente com bruxismo pode estar expressando raiva, hostilidade ou tensão.<br />

Amostras de estudos epidemológicos, tem apresentado resultados da<br />

relação bruxismo/tensão, concluindo que os indivíduos com bruxismo apresentam<br />

mais sintomas nervosos do que a população normal.<br />

Certas patologias gerais são igualmente coloca<strong>das</strong> como causadoras do<br />

bruxismo. Entre as mais significativas temos as doenças alérgicas como: rinite,<br />

asma e efusão do ouvido médio. Além disso, deficiências nutricionais podem agir<br />

como fator predisponente, mais comum em crianças do que em adultos.<br />

VANDERAS et al. (1999) sugerem em seus estudos com crianças de 6 a 8<br />

anos de idade, que o stress emocional é um fator importante no desenvolvimento<br />

do bruxismo.<br />

12


TABELA 1<br />

FATORES PSICOLÓGICOS QUE PODEM ESTAR PRESENTES EM<br />

INDIVÍDUOS COM <strong>BRUXISMO</strong><br />

1943 BARTMEIER Repressões na fase oral<br />

1947 FIRESTONE Agressão reprimida<br />

1948 HART Raiva e agressão oral<br />

1955 VERNALLIS Ansiedade, hostilidade e hiperatividade<br />

1960 THALLER Ansiedade, tendências intrapunitivas<br />

1964 MC CARTHY-SHKLAR Instintos reprimidos<br />

1966 MOLIN & LEVI Sintomas nervosos<br />

1968 REDING & cols. Sono REM e músculo masséter<br />

1969 LUPTON Instabilidade emocional<br />

1970 NADLER Medo e raiva<br />

1972 OLKINUORA Bruxismo pode ter uma tendência familiar<br />

1976 DOS SANTOS Angústia-Frustração reprimida<br />

1979 POHTO Agressividade reprimida<br />

1979 WIGDOROWICZ-<br />

MOLINA, O.F, (1989)<br />

MAKOWEROWA<br />

13<br />

Desequilíbrio emocional e bruxismo estão<br />

relacionados.


RAMFJORD & ASH (1989) evidenciam que quase toda a literatura sobre<br />

bruxismo tem relacionado tensões e interferências oclusais. Acrescentam também<br />

que os problemas oclusais têm sido apontados desde longa data como um dos<br />

fatores etiológicos mais importantes no desencadeamento do bruxismo. Quando<br />

se utilizou um método clínico-eletromiográfico, chegou-se à conclusão de que os<br />

contatos prematuros e a tensão emocional crônica estão quase sempre presentes<br />

em indivíduos que apresentam bruxismo.<br />

A atividade muscular forçada sobre estes contatos prematuros nos<br />

movimentos de abertura, fechamento, lateralidade e protrusão, aumenta a função<br />

e gasto de energia da musculatura.<br />

MOLINA (1989) apresenta alguns problemas que o indivíduo pode<br />

desencadear o bruxismo para liberar tensão emocional: defeitos nas superfícies<br />

oclusais dos dentes, restaurações altas, contatos oclusais prematuros, mordi<strong>das</strong><br />

cruza<strong>das</strong> e outros. Constata também, que contatos prematuros e interferência na<br />

oclusão podem induzir a um posicionamento mandibular anterior crônico.<br />

HANSON (1995) resume que o bruxismo representa um esforço do<br />

paciente para aliviar a dor, desconforto ou pressão causados por irregularidades<br />

dentárias, na busca de “auto-equilíbrio” da oclusão.<br />

14


TABELA 2<br />

FATORES OCLUSAIS QUE PODEM ESTAR PRESENTES EM INDIVÍDUOS<br />

COM <strong>BRUXISMO</strong><br />

1961 RAMFJORD Contatos prematuros e tensão emocional<br />

1966 RAMFJORD-ASH Deslizamento em cêntrica<br />

1970 NADLER Os indivíduos com bruxismo procuram contatos<br />

15<br />

prematuros, e os normais, evitam<br />

1971 SHEPPERD & PRICE Restaurações altas, rugosidades e planos oclusais<br />

alterados<br />

1973 AGERBERG & CARLSSON O número e distribuição dos dentes são importantes<br />

1973 SAPANAUF Contatos prematuros em próteses removíveis<br />

1976 BUDDS Mau alinhamento dos dentes<br />

1976 CASTRO & RUIZ Baixo limiar de adaptação dos indivíduos com<br />

1979 WIGDOROWICZ &<br />

MAKOWEROWA<br />

bruxismo<br />

Desconforto e maloclusão<br />

1978 KARDACHI & CLARK O bruxismo pode iniciar na oclusão decídua, mista, e<br />

permanente, e pode estar presente mesmo em<br />

indivíduos com dentaduras<br />

1980 MEYER Observou alta prevalência de bruxismo e maloclusão<br />

MOLINA, O.F, (1989)<br />

em crianças alérgicas.


2.3. INCIDÊNCIA<br />

Tem sido difícil estudar a incidência do bruxismo, porém, considera-se que<br />

a sua manifestação mais severa ocorre comumente à noite, embora muitos<br />

indivíduos também apresentem esta alteração durante o dia, quando estão sob<br />

tensão. (RAMFJORD & ASH, 1989)<br />

O hábito de bruxismo, analisado por MC BRIDE, referido por MOLINA<br />

(1989), pode incidir antes mesmo da erupção dos dentes. No período que<br />

antecede à erupção dos primeiros dentes decíduos, a criança manifesta seus<br />

desejos de morder para compensar a dor provocada pelo processo de erupção<br />

dos dentes decíduos.<br />

O hábito de ranger e apertar os dentes pode iniciar desde a erupção dos<br />

incisivos decíduos, continuar nas dentições mista e permanente, e inclusive, pode<br />

estar presente em indivíduos portadores de dentaduras. (MOLINA ,1989).<br />

SANTOS (1992) aponta que o bruxismo pode ocorrer em qualquer idade, a<br />

partir da erupção dos dentes decíduos. Na dentição decídua, entre 7 e 7,7% <strong>das</strong><br />

crianças apresentam bruxismo. Na dentição mista há grande aumento até os 11<br />

anos de idade, atingindo cerca de 22% <strong>das</strong> crianças, havendo a partir daí<br />

diminuição. Assim, aos 3 anos de idade deve ser feito um exame da oclusão e dos<br />

sistemas articular e mastigatório. Assim, o diagnóstico precoce do bruxismo irá<br />

prevenir qualquer alteração na dentição permanente.<br />

ALVES (1993) defende que o bruxismo é mais severo nas crianças em<br />

idade pré-escolar devido às características morfofuncionais dos dentes decíduos.<br />

16


A perda de suporte posterior e os desgastes excessivos que ocorrem no<br />

bruxismo, de acordo com FELÍCIO (1994), provocam a diminuição da dimensão<br />

vertical de oclusão. Esta, significa a distância entre as arca<strong>das</strong> superior e inferior<br />

durante a oclusão dos dentes. Quando a dimensão vertical não é fisiológica,<br />

ocorre uma mudança anatômica no sistema muscular.<br />

MATIELLO (1997) considera que não há diferenças quanto ao sexo, e que<br />

o bruxismo pode ocorrer em qualquer faixa etária, e a frequência e severidade do<br />

mesmo, se associa ao stress físico e emocional.<br />

17


2.4. EFEITOS<br />

MONGINI (1988) relata que o hábito do bruxismo altera todos os<br />

componentes do sistema estomatognático. Nos dentes gera atrito, inflamação,<br />

necrose da polpa e mobilidade. Nos músculos, dor e sensibilidade à palpação e na<br />

articulação temporomandibular podem ocorrer dores e ruídos, devido à<br />

incoordenação dos dois feixes do músculo pterigóideo lateral ou à mudança na<br />

forma <strong>das</strong> cabeças articulares, como também, a perda da dimensão vertical e o<br />

deslocamento mandibular em máxima intercuspidação.<br />

MOLINA (1989) ressalta que tem sido afirmado na literatura que os dentes<br />

dos indivíduos normais ficam em contato no máximo duas horas durante as 24<br />

horas do dia. Em indivíduos com bruxismo, este período pode chegar até 10 horas<br />

de contato dental quando somados os contatos da mastigação, deglutição e<br />

apertamento dentário.<br />

Considerando-se o alimento mastigado, a dieta e os hábitos mastigatórios,<br />

os indivíduos normais podem aplicar forças de 7, 14,15 e 25 kilogramas durante<br />

os contatos dentais. Pacientes com bruxismo podem aplicar forças de até 150<br />

kilogramas durante os períodos de bruxismo.<br />

Em um aparelho mastigatório normal, a posição e os movimentos<br />

mandibulares são estabelecidos de acordo com a erupção dos dentes. Cada vez<br />

que erupciona um novo dente na cavidade bucal, os proprioceptores periodontais<br />

informa ao Sistema Nervoso Central (SNC) sobre as posições e inclinações deste<br />

dente, permitindo o estabelecimento de novos movimentos. Assim, o indivíduo<br />

procura o máximo de estabilidade da função, evitando trauma.<br />

18


Em indivíduos que apresentam bruxismo, observa-se o contrário do que foi<br />

esclarecido anteriormente, ou seja, procuram as interferências e contatos<br />

prematuros para apertar e deslizar os dentes.<br />

Os padrões de movimento mastigatório, citados por FANTINI (1990),<br />

alteram-se com mudanças na oclusão, decorrentes de deslocamentos ou per<strong>das</strong><br />

de dentes, restaurações “altas”, entre outras. Assim, o contato prematuro é<br />

usualmente, evitado durante a mastigação, sendo estabelecido pelos músculos,<br />

um relacionamento dentário mais conveniente, a fim de poupar os dentes do<br />

desconforto e dor. Este mecanismo é chamado “padrão protetor dos dentes”.<br />

Na presença do bruxismo, a relação do sistema neuromuscular frente ao<br />

contato prematuro, pode ser contrária àquela ocorrida durante a mastigação. Ao<br />

invés do contato ser evitado, parece haver uma busca preferencial para pressioná-<br />

lo e desgastá-lo durante a atividade parafuncional.<br />

Com as cargas oclusais intensas, libera<strong>das</strong> durante o bruxismo, as<br />

estruturas condilares são sobrecarrega<strong>das</strong>, muitas vezes numa situação de<br />

instabilidade; considerando-se também, possíveis danos às demais estruturas do<br />

sistema estomatognático, tais como os próprios dentes, suas estruturas de suporte<br />

e músculos.<br />

To<strong>das</strong> as vezes que um indivíduo apresente alterações oclusais e contato<br />

prematuro, não se deve descartar a dor de cabeça como uma consequência de<br />

bruxismo e disfunção de ATM. A dor de cabeça e a dor nas fibras do músculo<br />

temporal estão correlaciona<strong>das</strong>. É provável que indivíduos portadores de dor de<br />

cabeça crônica, apresentem alterações emocionais e oclusais.<br />

19


O bruxismo pode contribuir para o desenvolvimento de uma pseudoclasse<br />

III, acelerar a extração de dentes decíduos e com isto retardar ou acelerar a<br />

erupção dos dentes permanentes. Na dentição mista, o hábito pode acabar com a<br />

guia anterior induzindo trauma sobre os dentes posteriores nos movimentos<br />

protrusivos. Na dentição permanente, pode provocar o apinhamento nos dentes<br />

anteriores, e com o tempo, facilitar a instalação de doença periodontal.<br />

BEYRON ,apontado por FANTINI (1990) , enfatiza que como o bruxismo<br />

ocorre inconscientemente, a preocupação com a dor e o funcionamento dos<br />

processos protetores do sistema neuromuscular encontram-se diminuídos. Desta<br />

forma, as forças oclusais podem ser extremamente fortes e exerci<strong>das</strong> por períodos<br />

longos. É principalmente, na presença do bruxismo que podem manifestar-se<br />

tensões excessivas, com consequentes danos aos músculos e à ATM.<br />

Na manifestação do bruxismo, os contatos dentais são contínuos, pesados<br />

e podem ser gerados em uma direção lateral. Na fonação, deglutição e<br />

mastigação, os contatos dentais totalizam, geralmente, 2 horas por dia.<br />

É observado que todos indivíduos com bruxismo são portadores de um<br />

padrão de hiperatividade muscular crônica. O aumento na tonicidade muscular<br />

pode induzir a um aumento de atividade livre noturna. O hipertonismo muscular<br />

pode ser observado tanto clínica (palpação muscular) como<br />

eletromiograficamente. Os músculos da face mais envolvidos durante os períodos<br />

de bruxismo são masséter, temporal e pterigóideo interno.<br />

O tônus aumentado na musculatura dos indivíduos com bruxismo é uma<br />

consequência da tensão emocional aumentada e dos estímulos negativos que se<br />

originam na oclusão desequilibrada.<br />

20


Muitas crianças rangem os dentes, uma vez ou outra, pois interferências<br />

oclusais se desenvolvem naturalmente durante a erupção dos dentes. Assim<br />

coloca DAWSON (1993), em afirmar que durante a idade da dentição mista, o<br />

bruxismo é comum e algumas crianças desenvolvem padrões de bruxismo tão<br />

sérios que podem desgastar seus dentes decíduos, até deixá-los planos.<br />

DOUGLAS (1994) verifica que num estudo com indivíduos, observados<br />

diretamente, no quarto de dormir, os períodos de bruxismo são mais frequentes<br />

na fase REM ( rapid eyes moviment ) do sono. É um reflexo automático do<br />

sistema neuromuscular. Corresponde ao verdadeiro bruxismo, ou seja, um ranger<br />

de dentes devido à predominância de um componente lateral <strong>das</strong> forças<br />

mastigatórias. Constata também que a frequência de contração do músculo<br />

masséter foi quatro vezes maior nos períodos REM do sono quando comparado<br />

com períodos normais.<br />

A tensão emocional, interferências oclusais e movimentos de mandíbula,<br />

podem ser suficientes para iniciar e fixar o hábito de deslizar e apertar os dentes.<br />

É descrito, por HANSON & BARRETT (1995), que os sintomas comuns em<br />

indivíduos que apresentam bruxismo, são : fadiga da oclusão não mastigatória;<br />

irritabilidade e/ou sensibilidade dos dentes; dentes frouxos, devido aos danos<br />

periodontais; dor, fadiga ou espasmo muscular; músculos da mastigação<br />

excessivamente fortes; dores e/ou estalos na articulação temporomandibular;<br />

bochechas, lábios e língua mordidos; e dores de cabeça.<br />

21


DURSO & BEAUCLAIR (1997) esclarecem que o desgaste anormal dental<br />

é o sinal clínico mais frequente do bruxismo. Na dentição natural, o padrão de<br />

desgaste é mais severo nos dentes anteriores do que nos dentes posteriores,<br />

ocorrendo o inverso no caso de próteses totais.<br />

JORGIC et al. (1998) analisam como resultado de estudos, algumas<br />

características que podem ser encontra<strong>das</strong> em indivíduos com bruxismo:<br />

impulsividade, irritabilidade, pessimismo e explosividade<br />

BIANCHINI (1998) analisa que a estabilidade neuromuscular do Sistema<br />

Estomatognático pode estar sendo prejudicada pela presença de hábitos<br />

parafuncionais deletérios. Além dos conhecidos hábitos de sucção digital, uso<br />

prolongado de chupeta, existem outros hábitos, principalmente relacionados com<br />

os músculos mastigatórios. É o caso do bruxismo, que resulta em uma solicitação<br />

anormal dos músculos masséteres, temporais e pterigóideos. Tais músculos, em<br />

estado de hiperfunção, podem passar a apresentar sintomatologia dolorosa e<br />

diminuição de sua coordenação.<br />

22


2.5. TRATAMENTO<br />

O tratamento do bruxismo é variável, dependendo da etiologia, dos<br />

diferentes sinais observados durante o exame clínico e dos sintomas relatados<br />

pelo paciente.<br />

Para que um tratamento seja bem-sucedido, de qualquer natureza, é<br />

necessário que sejam reconhecidos os fatores etiológicos, durante o procedimento<br />

de diagnóstico.<br />

A etiologia complexa do bruxismo, paralelamente com a falta de critério<br />

conclusivo de diagnóstico, torna óbvio compreender as presentes controvérsias<br />

sobre o tratamento.<br />

Na literatura examinada para o desenvolvimento deste estudo, não foi<br />

relatada experiência de atuação fonoaudiológica em casos de indivíduos que<br />

apresentam ,especificamente, o bruxismo.<br />

Embora não seja comum na prática fonoaudiológica, o indivíduo apresentar<br />

o bruxismo como queixa principal, é frequente, sim, encontrar sinais e sintomas<br />

desta alteração, na avaliação de distúrbios da motricidade oral, fato este, que<br />

justifica a necessidade de um redirecionamento do enfoque terapêutico existente,<br />

reconhecendo a contribuição da Fonoaudiologia.<br />

O tratamento da sintomatologia é da alçada do cirurgião-dentista. Na<br />

prática, os sintomas dolorosos da musculatura e da articulação são em geral<br />

discretos na infância e adolescência, ao contrário da fase adulta.<br />

23


O efetivo tratamento do bruxismo, enfatizado por RAMFJORD & ASH<br />

(1987), propõe algumas alternativas descritas na literatura, denominada de<br />

Terapêutica Acessória:<br />

• Aconselhamento pelo Dentista: uma tentativa deveria ser realizada para<br />

explicar ao paciente a relação entre bruxismo e sua tensão emocional.<br />

• Psicoterapia: destinada a baixar a tensão emocional ou psíquica do<br />

paciente.<br />

• Hipnose: é recomendada como um meio de romper o hábito do<br />

bruxismo, entretanto, este tratamento pode ser perigoso.<br />

• Exercícios de Relaxamento, Prática de Massagem e Fisioterapia: os<br />

exercícios de relaxamento pode diminuir a tensão muscular e o<br />

bruxismo. A massagem, o calor e a fisioterapia propiciam alívio do<br />

bruxismo.<br />

• Retroalimentação Biológica: é um conceito de tratamento, no qual os<br />

sinais de atividade muscular são alimentados para trás, com o objetivo<br />

de modificação comportamental, isto é, a redução da hiperatividade<br />

muscular. O equipamento de eletromiografia (EMG) portátil , tem sido<br />

utilizado para determinar a eficiência da terapêutica de retroalimentação<br />

biológica.<br />

• Terapêutica por Drogas: a terapêutica sistêmica por drogas ( para baixar<br />

a tensão psíquica e assim reduzir o bruxismo) pode ser eficiente<br />

temporariamente, porém, não é aconselhável.<br />

24


• Ajuste Oclusal: a primeira escolha dos dentistas seria a eliminação <strong>das</strong><br />

interferências oclusais. Esta terapêutica depende, naturalmente, de um<br />

suporte periodontal , onde seja possível estabelecer uma oclusão<br />

estável, após o ajuste. O desgaste seletivo dos dentes como tratamento,<br />

têm mostrado uma rápida diminuição do tônus muscular, especialmente<br />

dos músculos masséter e temporal.<br />

• Placa de Mordida ou Férula oclusal: elas têm sido utiliza<strong>das</strong> para o<br />

tratamento do bruxismo, disfunção de ATM, tensão muscular, e várias<br />

formas de artrite envolvendo a ATM.<br />

• Tratamento Restaurador: a Odontologia restauradora é indicada no<br />

tratamento do bruxismo quando uma oclusão estável não pode ser<br />

estabelecida apenas através do ajuste oclusal. Pode também ser<br />

indicado para substituir ou prevenir a perda excessiva de substância<br />

dentária pelo bruxismo.<br />

BOYENS, destacado por MOLINA (1989), descreve um trabalho pioneiro de<br />

auto-sugestão como terapia eficiente do bruxismo. O objetivo deste tratamento, é<br />

que o indivíduo se torne mais consciente do hábito de ranger os dentes, o que<br />

pode ajudar a eliminá-lo.<br />

Os procedimentos deste trabalho, influencia os passos que a<br />

Fonoaudiologia vem realizando na terapêutica de outros hábitos orais<br />

inadequados, como: onicofagia (roer unhas), sucção do polegar e apertamento<br />

dentário.<br />

25


Como parte inicial do tratamento, o paciente é esclarecido sobre o<br />

significado do hábito, etiologia, efeitos sobre a dentição e aparelho mastigatório. O<br />

objetivo é manter o hábito num nível mais consciente.<br />

Na Segunda fase, o paciente deve afirmar várias vezes antes de dormir<br />

que não irá apertar os dentes, caso contrário deve acordar no momento em que<br />

comece a fazê-lo. Também é solicitado ao paciente, tentar dormir com a ponta da<br />

língua sobre a face lingual dos incisivos e caninos superiores, e com os dentes<br />

fora de contato. Este tratamento é paliativo, e pode ser utilizado com outras<br />

formas de tratamento definitivo, como, desgaste seletivo e placa oclusal.<br />

SHEPPERD & PRICE ,apontados por MOLINA (1989) , consideram que a<br />

equipe multidisciplinar pode incluir um psiquiatra, um oclusionista, um psicólogo, e<br />

um fisioterapeuta.<br />

Alguns mecanismos eficazes, sugeridos por MOLINA (1989), poderiam ser<br />

utilizados com o indivíduo que apresenta bruxismo:<br />

• Equilíbrio da Oclusão: primeiro se observa os contatos prematuros e<br />

interferências oclusais em to<strong>das</strong> as posições e movimentos<br />

mandibulares, para depois, serem eliminados. Este procedimento<br />

proporciona liberdade dos movimentos mandibulares, diminuindo o<br />

esforço muscular. Todos os indivíduos tratados com equilíbrio da<br />

oclusão, inclusive aqueles que não apresentam sinais e sintomas<br />

severos, mostram uma diminuição eletromiográfica da musculatura que<br />

movimenta a mandíbula. Clinicamente, a eficiência deste tratamento e a<br />

diminuição na atividade muscular é conhecida como “afrouxamento” da<br />

musculatura mastigatória.<br />

26


• Placas de mordida: são utiliza<strong>das</strong> com frequência antes de iniciar a<br />

terapia por equilíbrio oclusal. Estas, ajudam a eliminar a informação<br />

proprioceptiva que se originam no periodonto e ATM e, por isto, auxiliam<br />

rompendo o ciclo vicioso de contração muscular.<br />

Com o uso <strong>das</strong> placas oclusais e da terapia do equilíbrio da oclusão, os<br />

músculos recuperam o tônus de contração e repouso fisiológicos, o que ajuda a<br />

eliminar os reflexos de apertamento dental.<br />

Para DAWSON (1993), a maior dificuldade a ser enfrentada é quando o<br />

paciente com Bruxismo desgasta toda a sua oclusão, até ficar plana e encurtar os<br />

dentes anteriores dentro de uma relação topo a topo.<br />

O efeito do Bruxismo é fácil de ser eliminado quando a guia anterior plana<br />

pode ser mantida, porém muitas vezes o paciente deseja ter a estética anterior<br />

melhorada. O tratamento é feito aumentando a espessura do metal ou porcelana.<br />

O paciente é informado previamente sobre a provável continuação do desgaste.<br />

Algumas placas podem ser necessárias para oferecer estabilização adicional<br />

contra o stress. A guia anterior deve ser realizada da maneira mais meticulosa<br />

possível.<br />

FELÍCIO (1994) sugere para o tratamento do bruxismo, o uso da placa<br />

oclusal, que pode ser miorrelaxante, modificadora ou protrusiva. Porém, os últimos<br />

dois tipos não são apenas para controle sintomatológico, como o próprio nome<br />

indica.<br />

27


Os tipos de tratamento variam, mas os dentistas concordam que o primeiro<br />

passo é tentar determinar que fatores estão contribuindo para a persistência do<br />

hábito. Deve-se cuidar, principalmente, dos fatores locais passíveis de cura.<br />

(HANSON & BARRETT,1995)<br />

DURSO & BEAUCLAIR (1997) orientam que o tratamento de primeira<br />

escolha deve ser a terapia conservadora, que são as placas interoclusais, por<br />

reduzirem a atividade eletromiográfica noturna dos músculos, e protegerem o os<br />

dentes do desgaste produzido pelo bruxismo. Consideram também que, até hoje,<br />

não há um tratamento eficaz que não ocorram recidivas.<br />

GUSSON (1999) destaca que o cirurgião-dentista pode tratar a maior parte<br />

dos hábitos orais e dos sintomas a eles relacionados. O ideal é a terapia<br />

multidisciplinar entre dentista, psicólogo, e o próprio paciente motivado.<br />

Nas crianças, em sua grande maioria, os desgastes produzidos são<br />

mínimos, não sendo indicado o tratamento. Faz-se um aconselhamento aos pais<br />

para que providenciem suporte psicológico e emocional que auxilie na maturidade<br />

da criança.<br />

Em um estudo sobre o uso de medicamento antidepressivo em indivíduos<br />

com bruxismo, BROWN & HONG (1999) concluem que com base nos casos<br />

avaliados na amostra, este procedimento deveria ser comumente utilizado.<br />

Acrescentam que os dentistas deveriam sugerir o uso de anti-depressivos em<br />

pacientes com bruxismo, que apresentam ansiedade e insônia, associados.<br />

Alguns tratamentos alternativos têm sido realizados visando basicamente<br />

melhorar o lado emocional do paciente, como Acupuntura e Homeopatia.<br />

28


3. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O bruxismo tem sido uma grande preocupação para Ortodontistas e<br />

Fonoaudiólogos, pela frequência com que o mesmo se manifesta nos pacientes.<br />

Para o fonoaudiólogo que trabalha com motricidade oral é imprescindível o<br />

esclarecimento dos danos que o bruxismo pode causar ao indivíduo, inclusive<br />

dificultando ou impossibilitando a sua reabilitação.<br />

É importante que a relação entre os profissionais afins que lidam com o<br />

bruxismo seja recíproca no sentido de reconhecer os benefícios que cada um<br />

pode trazer para o paciente.<br />

Existe uma crença popular de que o bruxismo ocorre devido à presença de<br />

vermes. Com este trabalho, pudemos esclarecer que o problema é muito mais<br />

sério, trazendo prejuízos maiores.<br />

Estudar o bruxismo e suas relações, acrescenta novas descobertas à<br />

Ciência, uma vez que este assunto, apesar de sua alta incidência, tem sido pouco<br />

desenvolvido pelos profissionais da área de saúde.<br />

29


Como foi descrito, o bruxismo é o hábito de ranger os dentes, inconsciente,<br />

e geralmente se apresenta durante o sono. Existem duas causas para explicar o<br />

bruxismo, uma é o fator local, isto é, a causa se localiza na boca, mais<br />

precisamente devido a uma má oclusão, ou um contato prematuro durante o ato<br />

de fechar a boca, desencadeando assim, uma reação neuromuscular fazendo com<br />

que movimentos de abertura dos maxilares e os movimentos laterais da<br />

mandíbula tentem eleminar esta interferência.<br />

A outra causa é a emocional que pode estar associada a causa local ou<br />

não, mas com os mesmos prejuizos da primeira. Quando o fator emocional está<br />

presente há a necessidade de consultar profissionais da área de Psicologia para<br />

auxiliar o tratamento. Visitas regulares ao dentista é importante para que ele possa<br />

avaliar, diagnosticar e tratar os problemas que por ventura a pessoa apresente.<br />

A freqüência deste hábito desencadeia dois importantes efeitos que o<br />

fonoaudiólogo precisa estar atento, uma vez que determinam o funcionamento do<br />

sistema sensório-motor-oral.<br />

Ocorrendo o desgaste oclusal dos dentes, teremos danos às estruturas de<br />

sustentação dos dentes, e estes, por sua vez determinam pontos articulatórios na<br />

produção oral . E também, os problemas nas articulações têmporo-mandibulares,<br />

com sintomas desagradáveis como dor na ATM, trismo e muitas outras, que de<br />

forma frequente, alteram o funcionamento da funções neuro-vegetativas, como a<br />

mastigação e deglutição, consequentemente.<br />

Surgiram dúvi<strong>das</strong> em relação até onde nós, fonoaudiólogos, podemos<br />

intervir nestes indivíduos que apresentam bruxismo. Isto porque nosso<br />

conhecimento é restrito e , sobretudo, pouco divulgado.<br />

30


Esta pesquisa pode abrir portas a novas descobertas do tratamento deste<br />

problema que, até o momento, tem apresentado muitos insucessos.<br />

Como profissionais, procuramos resolver tudo o que o paciente apresenta<br />

e, muitas vezes, ele próprio nos passa essa responsabilidade, pela segurança da<br />

nossa terapêutica, que valoriza todos os sintomas, os mais peculiares existentes.<br />

Devemos, sim, nos preocupar com as alterações que estão prejudicando a<br />

evolução <strong>Fonoaudiológica</strong>, reconhecendo, porém, os nossos limites de atuação.<br />

Conclui-se que o bruxismo é uma importante alteração no sistema sensório-<br />

motor-oral, que necessita de uma abordagem multidisciplinar para minimizar os<br />

danos às estruturas ósteo-dentárias. É imprescindível ao fonoaudiólogo que<br />

trabalha com motricidade oral aprimorar os seus estudos, e estar atento a esta<br />

manifestação, que influencia a fisiologia da reabilitação oral.<br />

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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