Capítulo 04.pdf - PUC Rio

Como base aleatória para uma pesquisa, alguns modelos de livros podem ser
buscados em dois vetores: um, diacrônico, mapeando as referências históricas de
Oiticica; e outro sincrônico, apontando os livros de seu tempo com os quais ele
buscou dialogar. Em ambos os casos, há um conceito que une todos os livros que o
inspiraram: invenção. São todos, necessariamente, livros-limite em sua forma e
conteúdo. Livros que excluem o conformismo e a tradição de seus formatos e
propostas.
Aplicando um olhar diacrônico sobre o tema, há dois extremos da experiência
de se inventar um livro, isto é, de se buscar um passo além na forma tradicional de
apresentação linear e seqüenciada de textos para a fruição de um leitor. Um desses
modelos sequer tornou-se um livro. Ele é o “livro infinito”, uma promessa de
salvação de toda a poesia e a linguagem, um esforço quase sagrado do escritor em
fazer um livro que acabaria com todos os livros. O outro modelo é o livro-não livro,
o livro que é uma caixa que é uma obra que é um texto que é um objeto. Caixas com
textos manuscritos, fragmentos de escrita, testemunhos da ação criadora do autor
sobre sua obra. Um, o “livro infinito”, por vir, desejado e prometido. O outro, o
livro-para-além-do-livro, um objeto literário que é pura fronteira. São esses os dois
modelos de livros que proponho para dialogar com a motivação (não a origem da
idéia) de Oiticica em inventar uma publicação, um livro que sintetizasse sua obra. O
primeiro modelo servirá para trazer à tona a questão do livro “não acabado”, do livro
prometido e, desde sua origem, impossível de ser feito; já o segundo modelo nos
serve para localizar um campo de referências na questão da forma desse projeto de
publicação.
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