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expectativa alheia faça com que sua própria escrita seja sufocada pela obrigação da<br />
grande obra, pelo excesso de olhos, pelas cobranças fantasmas. Quanto mais<br />
planejado, quanto mais comentado e prometido entre seus pares, quanto mais<br />
necessário de terminá-lo, mais longo o percurso, mais amplo o escopo, mais difuso<br />
seu tento. Oiticica inventou e reinventou seu livro a partir da sua negação do<br />
mercado de arte brasileiro, de suas restrições à escrita da língua portuguesa, de suas<br />
curiosidades com as novas mídias e as velhas poéticas experimentais, de sua<br />
necessidade em destacar-se dos demais e deixar uma marca. Em Manhattan o livro<br />
era “o que estava acontecendo” e todo resto derivava de sua mecânica de criação. As<br />
Cosmococas, por exemplo, foram devoradas pelo livro, passando a fazer parte das<br />
Newyorkaises através da incorporação de seus textos para os Blocos-seção. Grande<br />
parte do que Oiticica criava nesse período tinha o livro como medida, como<br />
denominador comum.<br />
Portanto, retomo a pergunta acima: que “livro” era esse que seu autor<br />
desejava quando ele esquadrinhava seus textos e planejava sua forma de edição?<br />
Essa é a mesma pergunta que Barthes se faz ao pensar sua “preparação do romance”:<br />
“Que fantasia tem aquele que quer escrever com relação à obra a ser feita? Sob que<br />
espécie ele a vê?”. Como se estivesse dialogando com as terminologias de Oiticica, o<br />
crítico arremata perguntado “que imagem-guia escolherá ele para ‘colocar’ em seu<br />
programa a Obra a ser feita?”. 103<br />
Muitas foram as imagens-guias, as referências, as apropriações de Oiticica<br />
para o formato dessa publicação. Ao mesmo tempo, nenhuma delas o satisfez a ponto<br />
dele terminar um projeto. É Barthes novamente que traduz essa multiplicidade de<br />
caminhos, ao nos mostrar que a fantasia pelo volume, ou seja, pelo objeto em sua<br />
forma final, pode “desejar várias formas ao mesmo tempo”. Ela pode, enfim,<br />
hesitar. 104 Nessa hesitação, forma e fórmula passam a andar de mãos juntas na<br />
invenção do livro. Encontrar um modelo para esse livro é parte vital do projeto, tanto<br />
quanto a produção de seu conteúdo.<br />
103 BARTHES, R. A preparação do romance – Vol. II, p.99.<br />
104 Ibid., p. 108.<br />
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