You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Se aproximarmos esse espaço fundado a partir da ausência do objeto a alguns<br />
dos princípios da teoria de Ferreira Gullar, podemos enxergar no Conglomerado de<br />
Oiticica, na culminância desse processo de rejeição do produto final e da “obra<br />
acabada”, a constituição desse único livro possível: o não-livro. Em sua apropriação<br />
voraz e prazerosa da idéia de “livro” como estrutura criativa, ele explode a<br />
publicação em todos os seus limites, a ponto de radicalmente não termos mais um<br />
livro, e sim um espaço conceitual de textos. E mais: é esse espaço de textos que,<br />
durante sua breve volta ao Brasil (Oiticica chega ao <strong>Rio</strong> em 1978 e morre em 1980) é<br />
defendido como obra, como o único manancial de informação de seu trabalho<br />
durante seu período em Manhattan. Em entrevista para Jary Cardoso, concedida logo<br />
em sua volta ao país, Hélio anuncia que o Conglomerado “é um livro que não é livro,<br />
é conglomerado”. 164 Em sua última entrevista, feita pelo pintor Jorge Guinle Filho,<br />
em 1980, uma semana antes de seu derrame solitário em seu apartamento no Leblon,<br />
Hélio se refere novamente ao Conglomerado ao tentar mostrar o quanto de trabalho<br />
ele havia feito e acumulado em Manhattan. Sua explicação é que “a maioria das<br />
coisas são feitas no papel” e que ele queria “publicar essa coisa toda que eu chamo<br />
de Conglomerados porque isso aí foi uma coisa intencional, de não ficar criando<br />
objetos”. 165 A única entrevista em que ele expressa uma possibilidade palpável de<br />
publicação é para a revista Arte, em outubro de 1978. Nessa entrevista, Hélio dá uma<br />
descrição detalhada de seu Conglomerado, descrito pela repórter como “uma síntese<br />
de tudo que fizera antes” e uma “formulação escrita, um livro que não é livro”. 166<br />
Um livro “que não é livro”. Há na Navilouca um pequeno texto de Oiticica<br />
sobre os Gibis de Raymundo Colares, produzidos pelo artista no início da década de<br />
setenta. Colares foi um dos artistas dentre vários que passaram uma temporada no<br />
Loft 4 da Second Avenue. O texto escrito por Hélio data desse período de<br />
convivência entre eles (1972). No texto, ele tenta dar conta dos pequenos livros de<br />
164 Projeto HO # 0944.78, entrevista feita em São Paulo no dia 5 de novembro de 1978.<br />
165 Projeto HO # 1022.80, entrevista publicada na revista Interview, s/d<br />
166 Projeto HO # 1020.78, entrevista publicada na revista Arte, outubro de 1978. Nessa entrevista é anunciado<br />
inclusive que o livro de Oiticica seria publicado pela editora Pedra q Ronca (que publicara livros de Waly e de<br />
Caetano Veloso). Como podemos ver nas entrevistas dos anos seguintes, esse projeto não se consolidou.<br />
238