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comunicação como o formato definitivo. A proposta de Quentin, porém, era cara<br />
demais, sofisticada demais. Já em 1974, Hélio descreve uma proposta de capa feita<br />
por Neville (a partir de um catálogo da ITT companhia telefônica) que diz ser a<br />
boneca definitiva. Essa, tampouco foi feita.<br />
Suas idas e vindas com o formato da publicação eram tão constantes quanto<br />
suas indecisões em relação aos textos. Confrontava novas leituras com o que já<br />
existia escrito e tornava complexo o jogo de escrita e tradução, com textos ora<br />
bilíngües, ora escritos apenas em português e inglês. Oiticica passou boa parte de seu<br />
projeto fazendo e refazendo as traduções dos seus termos e conceitos, muitas vezes<br />
inventados especificamente para seus textos. Suas influências criativas espalhavam-<br />
se em cada bloco, em cada parágrafo, em cada frase. Reclamava do trabalho das<br />
traduções, buscava perfeições com cada palavra.<br />
Todo esse trabalho, essa afirmação vitalista de seu desejo em publicar seus<br />
textos, fez com que Oiticica refletisse sobre o ofício de se fazer livros. Já vimos aqui<br />
que livros passam a ser um de seus temas prediletos. É realmente intrigante o fato<br />
dele não ter conseguido dar cabo de algum de seus projetos, já que, ainda em 1971,<br />
afirma o prazer que ele sentia em planejar essas publicações.<br />
você sabe de uma coisa: publicações são coisas<br />
tão confortáveis de fazer, fascinantes e portáteis, que dá<br />
vontade de não fazer outra coisa ; pode-se comunicar<br />
coisas de um modo rápido (quando não há grilos e delays,<br />
é claro; como aconteceu com Joyce & others; mas ali, já<br />
era caso de literatura-obra, etc.; aqui, são invenções, como<br />
no caso do catálogo da whitechapel, livros neo-concretos,<br />
concretos, etc.) mass-avalability. 161<br />
Nesse trecho vale destacar dois aspectos: além desse “conforto” visto por<br />
Oiticica na produção de publicações e na sua eficiência em comunicar uma idéia, ele<br />
situava seu livro não no paradigma “literatura-obra”, mas sim no paradigma dos<br />
161 Projeto HO # 0759.71, carta para Vera Pedrosa, escrita em primeiro de outubro de 1971.<br />
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