Capítulo 04.pdf - PUC Rio

Oiticica define um dos formatos do seu livro por uma linha em direção ao infinito,
por uma geometria do escrito-e-lido. Já a expressão “jutted down” é relacionada à
ocupação do espaço vazio, a algo que se prolonga, que se arremessa para além de um
ponto definido. Essas duas “qualidades” serviam para indicar que esses Blocos-
seções deveriam ter um manejo distinto do resto do livro. Suas páginas deveriam ser
editadas de forma que o leitor percebesse seu destaque sutil, assintótico, com as
outras páginas. A forma da sua publicação, portanto, não envolvia apenas a quebra
do suporte formal da “página-livro”, mas também a quebra do formato do objeto
livro. Era necessária a criação e indicação de uma série de manuseios criativos, de
operações que estavam ligadas ao universo do chance-operation de Haroldo de
Campos/Mallarmé. Para Hélio, as Newyorkaises eram fruto direto desse
procedimento. Nas suas palavras,
Na verdade MALLARMÉ é o avô-pai de tudo o
q se origina como chance-operation estruturalmente: a
idéia de BLOCOS q já é usada por HAROLDO DE
CAMPOS como estrutura formativa das GALÁXIAS dele
é o fundamento desse livro não-linear e q prescinde da
sucessão unívoca desses BLOCOS: eles pelo contrário se
enriquecem com o embaralhar e com shifts: BLOCOS e
GALÁXIAS são simultaneidades e não sucessão
conclusiva de uma pra outra. 160
Chegar ao formato de um livro, portanto, deixava Oiticica em permanente
questionamento. Ele propunha um “livro aberto”, mas o que se abria cada vez mais
eram as possibilidades, as opiniões, as idéias. Hélio conversava constantemente com
diferentes interlocutores sobre os seus projetos de livro e seus escritos, ouvindo
opiniões e acumulando propostas alheias (como as de Quentin Fiore, Neville de
Almeida, Carlos Vergara, Andreas e Thomas Valentin ou Silviano Santiago).
Durante um tempo, Oiticica anunciou as idéias sugeridas pelo teórico da
160 Projeto HO # 1387.74, carta para Andreas Valentin, 28 de abril de 1974.
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