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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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momento em que ele “vivia intensamente” a certeza de que a obra é comportamento-<br />

vida e não produto final. O porquê dessa certeza é dito tranquilamente: “porque a<br />

idéia de ‘obra’ não se completa em objetos”. Esse é, sem dúvida, um ponto de partida<br />

desfavorável para qualquer desejo de se fazer um livro. Some-se a isso a sua prática<br />

de ficar “modificando e modificando” permanentemente seus textos e idéias e<br />

vislumbramos um quadro de rejeição completa ao formato “livro” em sua lógica<br />

tradicional.<br />

Oiticica, aliás, a partir de dado momento passa a utilizar essa palavra apenas<br />

entre aspas para definir sua publicação. Sempre que podia, reiterava que não era um<br />

“livro” que fazia, mas algo maior, mais complexo. É claro que um livro é<br />

objetivamente um produto acabado e não apenas uma idéia. Para Oiticica, porém,<br />

essa condição não era tão clara assim. Para ele não havia contradições entre planejar<br />

uma publicação (sem resultado final) e fazer o livro. Ao contrário, é justamente<br />

planejar o “livro” que faz com que esse artista possa desconstruir e reinventar a<br />

tarefa de se fazer um. Hélio chegou a dizer em uma de suas cartas que sua publicação<br />

seria um livro “sem tese e sem informação”, ou seja, quase um “anti-livro”. Não era<br />

a lógica do livro em si que o interessava, mas sim a estrutura-livro, o espaço de<br />

exploração – ou anulação, no seu caso – da informação. O combate travado aqui não<br />

era contra “o livro”, mas sim contra qualquer possibilidade de buscarem<br />

“significados” ou “interpretarem” seus textos e imagens. Hélio queria esvaziar esse<br />

objeto prenhe de sentidos até seu grau mínimo de “estrutura”. O livro como estado<br />

pleno de invenção.<br />

Em 1975, no auge de sua frustração por não conseguir definir sua publicação<br />

– e por conseqüência a natureza de seu trabalho – Hélio revela essa apropriação<br />

criativa – e crítica – do “livro” como motor de criação nos anos de Manhattan.<br />

Discorrendo e justificando-se sobre a quantidade infindável de material produzido<br />

ele afirma para Andreas Valentin que “a publicação disso tudo não é uma forma de<br />

se adaptar a uma estrutura existente (printing/livro)”. Nessa época, quase cinco anos<br />

depois de planejar e levar à frente seus primeiros projetos de publicação, essa<br />

“estrutura existente” é vista por Hélio como um “instrumento” para a execução de<br />

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