Capítulo 04.pdf - PUC Rio

Haroldo vinha de um semestre como professor visitante do Departamento de
português e espanhol da Universidade de Austin, Texas. Segundo o próprio,
ministrara por lá um curso sobre poesia experimental brasileira – do Barroco de
Gregório de Mattos à poesia concreta, passando por Sousândrade, Oswald de
Andrade e canções de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Hélio, por sua vez, estava
nessa época no início de um ambicioso projeto ambiental para ser executado no
Central Park – quatro grandes Penetráveis interligados que nunca foram levados a
cabo pelo seu alto custo e risco – e permanecia interessado em cinema e nas tomadas
em super-oito para seus filmes – também não terminados.
Escrevendo para Vergara no dia em que encontra Haroldo, Oiticica continua
demonstrando interesse pela literatura em seu cotidiano. Nessa carta, aliás, surge pela
primeira vez um nome para todo material que vinha sendo coletado e pensado
sempre de forma orgânica aos escritos: Subterranean Tropicália. Esse título
provisório, utilizado de uma forma em que não fica claro se é referente ao ambiente
projetado ou à publicação, traz em seu nome a união de dois trabalhos anteriores de
Hélio: Subterrânea, título-conceito utilizado em alguns artigos (publicado no
Pasquim) e trabalhos feitos em 1969, e Tropicalia, título de seu famoso labirinto
apresentado em 1967 no MAM do Rio de Janeiro. A junção de um título ligado a
textos e um título ligado a sua obra visual pode indicar essa integração que o autor
propunha para um trabalho que aliasse textos e imagem. Na descrição de Oiticica,
algo estava em gestação:
preparei também xeroxes de textos que devo
entregar a haroldo amanhã : textos-poemas; são muitos :
tenho escrito à bessa; tenho coletado imagens e coisas que
interessam; (...) tenho lido muito : coisas bem dissimilares
: desde livros que haroldo me trouxe, outras coisas de
contracultura, revistas, até national geographic magazines
e autobiografia de hedy lammar : tudo isso faz parte
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