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segura de Waly) faz com que o risco da escrita poética e o investimento na escritura<br />
tornem-se tentadores. Desejar um livro, ambicionar a possibilidade de fazer um livro<br />
só seu, será o passo necessário para dar vazão a essas tentações.<br />
Em uma carta para o cineasta Raimundo Amado de 17 de fevereiro de 1971,<br />
ele afirma que recebeu o livro Equivocábulos de Augusto de Campos e que ia<br />
“escrever para haroldo, pois ele vem em maio”. 138 Era Hélio demonstrando mais uma<br />
vez a ansiedade pela troca de idéias com o poeta. Conversar com Haroldo era a<br />
possibilidade de estar mais perto dos livros e dos seus autores, de ampliar seus temas<br />
e leituras, sempre. Já em uma carta do dia seguinte (18 de fevereiro) é possível<br />
conferir, ao menos em sua correspondência, uma primeira manifestação clara do seu<br />
desejo de publicar algo em Manhattan. A carta é escrita para seu grande amigo<br />
Vergara, e traz em sua primeira página um comentário de Oiticica sobre os “livros-<br />
projetos” do primeiro, incentivando-o a prosseguir com eles. Ao que parece, Vergara<br />
seria mais um dos amigos de Hélio a experimentar o livro como espaço de invenção.<br />
Era a sua hora de experimentar também. É no final da carta que Oiticica atesta:<br />
Continuo a escrever: agora, creio, os textos são<br />
mais profundos e complexos, principalmente se os<br />
comparo com os que fiz na segunda metade do ano<br />
passado: (...) gosto mesmo de escrever; penso em publicar<br />
algo aqui: publicação particular, já que é português, etc. 139<br />
Ao constatar o prazer da escritura, Oiticica passa novamente a acalentar uma<br />
possível publicação. Desde Londres que a motivação principal, o impulso criativo de<br />
Oiticica, deseja um livro de textos. Ele vinha escrevendo uma série de textos livres,<br />
prosas-poéticas que o satisfaziam bastante. Isso mudará ao longo do tempo, já que<br />
outros formatos e prioridades surgem e alteram constantemente os seus planos. Mas<br />
era a escritura – e não o planejamento pragmático de um livro-objeto ou de um livro<br />
de artista – que estava no centro desse afeto (“gosto de escrever”). Em carta para<br />
138 Projeto HO # 1904.71<br />
139 Projeto HO # 1095.71<br />
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