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alguns filmes como Brasil Jorge e o já referido Agripina é Roma Manhattan. 137 Ele<br />
fez, inclusive, um curso de iniciação em técnicas cinematográficas (film-production)<br />
na New York University entre janeiro e maio de do mesmo ano. Se no período<br />
tropicalista Oiticica estabelece laços produtivos com os músicos e compositores,<br />
durante seu intermezzo no <strong>Rio</strong> em 1970, são os novíssimos cineastas como Rogério<br />
Sganzerla, Julio Bressane, Ivan Cardoso e Neville de Almeida que se tornam seus<br />
novos companheiros intelectuais. Não é à toa que um dos grandes trabalhos de<br />
Oiticica no seu período “babilônico” foram as Cosmococas (concluídas, porém nunca<br />
exibidas com ele em vida) cujo parceiro era Neville e cuja principal proposta era uma<br />
teoria sobre o “quase-cinema”.<br />
Ao poucos, porém, livros e escritos começam a aparecer com mais freqüência<br />
em suas cartas. Pode-se acompanhar através delas o crescente interesse de Hélio pelo<br />
tema e a constituição de uma biblioteca pessoal, já que Oiticica sempre faz referência<br />
aos livros que está lendo ou comprando. Agripina pode ser visto como uma espécie<br />
de síntese desse momento, pois reunia seus dois pólos de interesse – cinema e<br />
literatura – em um filme fruto de um livro e de conversas e leituras sobre seu autor,<br />
Sousândrade. E não eram apenas os livros que ele comprava e lia que se tornavam<br />
assuntos cada vez mais freqüentes, mas também os livros dos amigos, que<br />
começavam a publicar seus respectivos trabalhos no Brasil.<br />
Retomando uma provocação feita em outra parte desta tese, me parece que é<br />
a partir de seu maior diálogo – e aproximação pessoal – com os trabalhos dos irmãos<br />
Campos, de Silviano Santiago e de Waly Salomão que Oiticica passa a aprofundar<br />
algumas de suas leituras e reflexões, a incrementar seu repertório literário e a se<br />
arriscar com maior desenvoltura no exercício da escrita. Além disso, essa<br />
proximidade com amigos escritores e a leitura interessada de seus textos (como as<br />
primeiras páginas das Galáxias ou as primeiras histórias do que formaria o Me<br />
137 Aliás, devo ressaltar que nas cartas desse período Oiticica relata várias vezes sua aproximação com<br />
os cineastas e atores do cinema underground nova-iorquino da época. Além de tornar-se amigo e<br />
filmar com o ator Mario Montez, Oiticica relata uma breve, porém estreita relação pessoal e<br />
profissional com Jack Smith, um dos ícones dessa cena, diretor do aclamado e trangressor Flaming<br />
Creatures, de 1963. Hélio inclusive publicou alguns textos sobre Mario Montez na Flor do Mal.<br />
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