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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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A referência de Oiticica a Duchamp é “indireta e<br />

longínqua”. Encontram-se no objetivo de deslocamento da<br />

arte, diferem nas estratégias e nas táticas. Para ambos, “a<br />

obra é o caminho e nada mais”, pois ambos, visando a um<br />

além-da-arte, visualizam uma liberdade que “não é um<br />

saber, mas aquilo que está depois do saber”. 135<br />

Perguntar por que Oiticica não conseguiu dar cabo de seu livro e Duchamp<br />

sim, é tentar localizar um processo que ocorre em trabalhos de diversas áreas, isto é,<br />

localizar o salto entre o prazer de planejar e conceber um objeto e a realização desse<br />

objeto desejado. O que quero apontar com essa questão é que, mesmo com diferenças<br />

e semelhanças, Oiticica e Duchamp ocupavam o mesmo espaço no que diz respeito à<br />

sua relação com suas obras. Apesar de diferirem na “estratégia e na tática”, partiam<br />

do mesmo princípio criativo. Ao contrário da afirmação de Favaretto, não creio que<br />

as aproximações entre os dois artistas sejam tão distantes e longínquas. Se<br />

deslocarmos nosso olhar sobre essas obras não para suas diferenças plásticas, mas<br />

para sua convergência em torno da subversão da literatura e do livro como espaço de<br />

criação, podemos encontrar algumas estratégias e táticas em comum na trajetória de<br />

ambos.<br />

Duchamp e Oiticica eram artistas que partilhavam – e aí se faz muitas vezes a<br />

ponte entre Duchamp e Mallarmé – do prazer em produzir ao invés do prazer do<br />

produto. Na expressão usada por Favaretto, artistas cuja “obra é o caminho e nada<br />

mais” ou, na frase do artista francês, trajetórias em que “o que não se produz sempre<br />

é melhor que o produto”. Esse ponto é destacado novamente por Calvin Tomkins,<br />

quando ele pergunta e tenta responder sobre a concepção e execução bem sucedida<br />

de Duchamp para a Caixa Verde e sua ligação intrínseca com a “explicação” do<br />

Grande Vidro:<br />

135 FAVARETO, C. “Por que Oiticica?”. In: Por que Duchamp?- leituras duchampianas por artistas e<br />

críticos brasileiros. São Paulo: Itau Cultural, Paço das Artes, 1999, p.89.<br />

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