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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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A Caixa Verde é uma obra cuja realização conseguiu atingir a plena<br />

encruzilhada da relação entre artes plásticas e literatura. Ela permitiu o que Luiz<br />

Camillo chama de “contaminação criativa entre palavra e imagem”. Sua diferença<br />

para os artistas russos citados mais acima, que também promoveram a contaminação<br />

de áreas, é que Duchamp não escrevia um poema, contos ou novelas com recursos<br />

gráficos ou palavras-imagens. Afinal, uma caixa não é um livro. Ela é, estrito senso,<br />

uma caixa de madeira, depósito de papéis avulsos. Mas também não pode ser apenas<br />

um objeto, devido à carga de textos e a demanda de leitores para os textos que ela<br />

contém. Também não é um livro-objeto no sentido dado pela crítica, pois ele<br />

equilibra as narrativas plásticas e literárias no mesmo espaço tênue de conciliação,<br />

tornando-se Obra por si mesma. Complementando essa encruzilhada de sentidos, a<br />

caixa é, segundo o próprio Duchamp, o aspecto textual do Grande Vidro. Seus textos<br />

são a leitura da obra, apesar de não estarem em um livro nem em um catálogo. Aliás,<br />

sua intenção inicial, em 1914, era que a Caixa fosse um catálogo, de certa forma até<br />

tradicional – como os famosos catálogos da rede de lojas de departamento norte-<br />

americana Sears Roebuck, segundo o próprio declarou algumas vezes. Na sua famosa<br />

entrevista para Pierre Cabane, o “engenheiro do tempo perdido” afirma que<br />

A idéia que tinha era mais de algumas notas do<br />

que de uma caixa. Pensei poder reunir em um álbum,<br />

como o catálogo Saint-Etienne, cálculos e reflexões, sem<br />

relações entre eles. Algumas vezes são pedaços de papel<br />

rasgado... Queria que este álbum acompanhasse o Vidro e<br />

que se pudesse consultá-lo para ver o Vidro porque, para<br />

mim, ele não era para ser olhado no sentido estético da<br />

palavra. Seria necessário consultar o livro enquanto se<br />

via. A conjunção das duas coisas eliminaria o aspecto<br />

retiniano que eu não gosto. Era bastante lógico. 134<br />

134 CABANE, P. Marcel Duchamp: o engenheiro do tempo perdido. São Paulo: Perspectiva, 2002, p.<br />

73.<br />

207

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