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A intenção de Duchamp tem um paralelo direto com trabalhos como o Livro-<br />
Objeto de Lygia Clark, em que a obra do artista articula-se textualmente e<br />
visualmente para o espectador. Porém, vai além desse, ao condicionar a obra visual<br />
que está fora do livro – no caso o Grande Vidro – ao seu entendimento verbal, isto é,<br />
a uma série de notas, fragmentos, textos e fórmulas reunidas pelo artista em uma<br />
caixa. Vale à pena citar um trecho da biografia sobre Duchamp escrita por Calvin<br />
Tomkins para uma descrição da Caixa:<br />
133 TOMSKINS, C. op. cit., p. 13.<br />
As notas da Caixa verde têm um sabor críptico,<br />
absurdo, de auto-ironia, que é próprio de Duchamp.<br />
Algumas delas não passam de umas poucas garatujas em<br />
pedaços de papel, outras cobrem páginas com precisos<br />
cálculos e diagramas pseudocientíficos. A maioria data do<br />
período entre 1912 e 1915, quando as idéias para O grande<br />
vidro ocorriam sucessivamente a Duchamp, mas sem<br />
obedecer a uma ordem em particular; ele apenas as<br />
rabiscava e as atirava numa caixa de papelão que guardava<br />
para esse fim. Certa ocasião, pensou em publicar as notas<br />
em forma de brochura ou catálogo para serem consultadas<br />
junto com o Vidro, mas somente em 1934, onze anos depois<br />
de ter deixado de trabalhar na obra é que resolveu<br />
reproduzi-las. A forma então escolhida era meticulosa e<br />
enigmaticamente duchampiana – uma edição limitada<br />
contendo 94 notas, desenhos e fotografias, impressos em<br />
fac-símile, usando os mesmos papéis e as mesmas tintas ou<br />
lápis, rasgados ou cortados exatamente da mesma maneira<br />
que os originais, com os mesmos pensamentos inconclusos,<br />
as mesmas rasuras, correções e abreviações, tudo<br />
comprimido dentro de uma caixa verde retangular, coberta<br />
por camurça verde com o título A noiva despida por seus<br />
celibatários, mesmo (tal como o vidro). 133<br />
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