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destotalizado, sujeito a todo tipo de transformação e<br />
manipulação criativa. 127<br />
O final desse trecho, um instantâneo certeiro de algumas representações do<br />
mundo moderno, descreve exatamente a forma como Oiticica concebeu e conduziu<br />
seu livro e, de certa forma, todos os seus Programas in progress: inacabados,<br />
fragmentários, sujeitos a todo tipo de transformação e manipulação criativa. Eram<br />
esses princípios que moviam o trabalho de Hélio em sua luta contra a “totalização”, o<br />
“fechamento” e o “final”. Em sua investida no questionamento e renovação das<br />
formas tradicionais nas artes plásticas (o quadro e a escultura), afastou-se<br />
radicalmente do essencialmente pictórico, do paradigma retiniano. Dos seus<br />
Metaesquemas e Monocromáticos (1958/59) até seus Parangolés (1964), fica claro<br />
seu projeto de abandonar a visualidade do quadro e ganhar o espaço, ao contar com o<br />
papel estrutural do espectador para que a obra ganhe seu funcionamento pleno.<br />
Se nos anos cinqüenta a cor e sua disseminação no espaço era o aspecto<br />
primordial de suas investigações, no fim dos anos sessenta Hélio passa a reivindicar<br />
palavras: vivências, ambientes, o crer-lazer, edens, o suprasensorial. As palavras,<br />
aliás, já irrompiam as fronteiras entre o visual e o escrito em caixas com textos (os<br />
Bólides-Caixa 17 e 18 “Do meu sangue do meu suor este amor viverá” e “Aqui está e<br />
ficará! Contemplai seu silêncio heróico”), capas com poemas (como “Da adversidade<br />
vivemos”, “Estamos famintos” e “Incorporo a revolta”, todas frases de Parangolés) e<br />
bandeiras com lemas (“Seja marginal, seja herói”). Essa narrativa à espreita nos<br />
pequenos poemas e textos presentes em suas obras, torna-se prioridade durante os<br />
anos 70, ocupando o pólo mais forte do cruzamento entre o ler e o ver. Mas não nos<br />
enganemos: basta uma olhada nos manuscritos de Oiticica para percebermos que,<br />
mesmo escrevendo, muitas vezes era a visualidade que comandava os caminhos de<br />
suas linhas e traçados.<br />
Desde o início de sua carreira Oiticica conviveu com os vários tipos de<br />
trabalho feitos a partir do livro como espaço de investigação formal. Seus amigos e<br />
127 OSORIOL. C., op. cit., p.403.<br />
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