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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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Palavra e imagem, letra e pincelada são assim<br />

lançadas umas de encontro às outras através do livro. Às<br />

vezes o texto e a imagem aparecem na mesma página, às<br />

vezes separadamente, mas a identidade conceitual<br />

permanece em destaque. 125<br />

Assim, um livro não precisaria mais se definir enquanto um livro de palavras<br />

(literatura) ou um livro de imagens (artes visuais). Funda-se tanto nos livros russos<br />

quanto nos quadros cubistas uma “identidade conceitual” que dá vida ao híbrido<br />

verbo-visual. Um livro poderia ser justamente o fruto desse encontro, a vontade de<br />

reproduzir um olhar para além da tela e uma leitura para além da audição (nessa<br />

época já silenciosa). Palavras e imagens tornam-se traços, atingem seu grau zero<br />

enquanto linhas que podem dividir um mesmo espaço em branco. Elas são elementos<br />

gráficos de manuseio experimental e, ao mesmo tempo, propiciam a sabotagem<br />

salutar de suas origens. Trazem, nessa convivência, a contradição de serem<br />

esvaziadas de suas autonomias definidoras (“isso é literatura” / “isso é arte visual”) e<br />

de ganharem potência poética máxima enquanto fragmentos de uma unidade maior.<br />

A palavra e a imagem – como nos quadros cubistas – não estão contando uma<br />

história para ser ilustrada, mas sim apresentando essa história simultaneamente:<br />

com letras-imagens e quadros-palavras. A narrativa rechaçada por De Kooning é,<br />

aqui, trabalhada em outro plano. Ao invés de se “desnarrativizar o espaço pictórico”<br />

através da abstração, por que não “desenhar a narrativa”? A idéia é criar sem isolar<br />

as áreas, permitindo que as práticas gráficas sejam vistas em um sentido lato (escrita<br />

e desenho), equacionando narrativas e silêncios simultaneamente. Não é á toa que<br />

Perloff destaca a simultaneidade como uma das bases dos trabalhos das vanguardas<br />

européias. Mais do que isso, a “simultaneidade” (simultanéisme) tornou-se “um tema<br />

central, assim como um princípio formal e estrutural”. 126 Era a simultaneidade entre<br />

imagem e escritura – e entre imagem e música, música e escritura, ou até mesmo os<br />

125 Ibid., p.234<br />

126 Ibid., p.48.<br />

198

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