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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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vale a pena ficar aqui citando cada trabalho. No Brasil e no mundo, o livro foi,<br />

inúmeras vezes, apropriado pelo olhar estético das artes plásticas. Há também<br />

diversas parcerias entre escritores e artistas – geralmente com os artistas como<br />

ilustradores dos textos dos escritores, ou seja, cada um preservando a autonomia e a<br />

“pureza” do seu espaço de ação. Luiz Camillo, no mesmo artigo, nos dá alguns<br />

exemplos dessas parcerias: Goethe/Delacroix, Mallarmé/Matisse ou Tarsila/Oswald<br />

de Andrade.<br />

Objeto físico, espaço de ação estética e de criação verbal, o livro se torna um<br />

território pleno de subversão ou adoração por parte de artistas que transcendem os<br />

limites demarcados entre o campo literário e o campo visual. Luiz Camillo também<br />

aponta nesse cruzamento inexorável uma informação essencial, ao menos no que diz<br />

respeito às demarcações de fronteiras: o conflito – e a atração – entre as artes visuais<br />

e a literatura tem como uma de suas querelas a questão da narrativa. Segundo Luiz<br />

Camillo, a crítica modernista de nomes como Clement Greenberg associaram a<br />

ascensão do Abstracionismo na arte justamente ao triunfo da visualidade pura sobre<br />

qualquer resquício de narrativa aparente no espaço pictórico. Camillo cita também<br />

um dos grandes nomes dessa escola, o pintor norte-americano De Kooning, para<br />

mostrar como seu trabalho buscava romper com uma tradição da arte visual que<br />

contemplava a narrativa: “o espaço perspectivado implica a idéia de narrativa, ele se<br />

monta a partir das noções de causalidade e sucessão de eventos”. Teoricamente, com<br />

o fim do figuracionismo e da perspectiva, isto é, da causalidade (se é dia deve haver<br />

sol e sombras) e da sucessão de eventos (a busca de uma “ação” na<br />

bidimensionalidade do quadro), a narrativa não encontraria mais lugar nos espaços<br />

pictóricos, cessando assim a “invasão” da escritura no espaço das artes visuais. A<br />

“pura visualidade” teria apenas uma narrativa: interna, recôndita, pertencente ao<br />

próprio autor.<br />

Ao longo da história da arte, porém, encontramos uma série de trabalhos e<br />

iniciativas cujo objetivo era alterar essa percepção. Buscavam demonstrar que foi<br />

justamente a contaminação entre visualidade e narrativa, entre figuras e letras, entre<br />

quadro e escrita, que impulsionou a renovação das artes. Em seu famoso trabalho O<br />

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