17.06.2013 Views

Capítulo 04.pdf - PUC Rio

Capítulo 04.pdf - PUC Rio

Capítulo 04.pdf - PUC Rio

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Como disse um pouco acima, Oiticica simula Mallarmé na sua busca por um<br />

Livro cuja pré-definição – rigorosa – da forma ditava os rumos do trabalho a ser<br />

feito. O que quero dizer com isso é que a busca dos autores por um objeto cuja prévia<br />

concepção metafísica domina o processo ou ao menos o coloca em permanente<br />

xeque – o Livro, nesse caso – cria um espaço de ação cujo arco está em permanente<br />

tensão. É o Livro Infinito, aquele que não há como atingi-lo, porém apenas simulá-lo,<br />

intuí-lo, rabiscá-lo nos papéis dos projetos. Seus textos nunca seriam bons o bastante<br />

para a forma intuída do seu conjunto. Nenhuma gráfica ou editora daria conta do seu<br />

desafio. Apenas o autor consegue vislumbrá-lo e projetá-lo, até o (não) fim. Oiticica,<br />

porém, por ser um construtivista, um criador de “programas in progress”, não<br />

permanecia no plano metafísico do Livro absoluto de Mallarmé. Ele precisava de<br />

algo mais do que promessas, ele pretendia “mais” do que atingir o ápice da<br />

linguagem poética em um trabalho infinito. Além de sugerir paginações e operações<br />

complexas de leitura (como Mallarmé em algumas notas e fragmentos revelados<br />

apenas após sua morte), Hélio diagramou os textos em pranchetas de trabalho,<br />

escrevendo inclusive alguns deles já da forma que ele desejava que fossem as provas<br />

“finais”. Hélio, diferente de Mallarmé, tentou dar cabo do seu objeto de desejo. A<br />

pergunta que permanecia para ele, porém, era uma só: qual é o livro que desejo?<br />

Sobre livros e caixas<br />

Livros e artistas plásticos sempre fizeram um belo par. Em um breve artigo<br />

intitulado “Entre o ler e o ver – A forma-livro na arte de nosso século e seu<br />

desdobramento na arte brasileira contemporânea: Waltércio Cladas e Artur Barrio”,<br />

Luiz Camillo Osorio localiza essa relação em um “cruzamento inexorável entre o ler<br />

e o ver”. 121 A quantidade de nomes que cruzaram essa fronteira é tão grande que não<br />

121 OSORIO, L. C. “Entre o ler e o ver – A forma-livro na arte de nosso século e seu desdobramento<br />

na arte brasileira contemporânea: Waltércio Cladas e Artur Barrio”. In: SUSSEKIND, F. e DIAS, T.<br />

(orgs). A Historiografia Literária e as Técnicas de Escrita – do manuscrito ao hipertexto. <strong>Rio</strong> de<br />

Janeiro: Edições Casa de Rui Barbosa: Vieira e Lent, 2004, p. 401. As citações a seguir são desse<br />

artigo.<br />

195

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!