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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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artista solitário e rigoroso com sua meta profunda, com a arte absoluta que o isola e<br />

demanda dedicação total ao seu objeto. O Livro de Mallarmé era essa obra que,<br />

quanto mais rigorosas suas premissas, mais livre suas idéias e desdobramentos.<br />

Talvez o excesso de rigor/liberdade seja, no caso específico de Mallarmé, uma das<br />

melhores saídas para entendermos a recusa de um resultado final.<br />

O desejo de livro em Hélio também pode ser iluminado por essa frase de<br />

Valéry. Hélio, como já vimos, era um artista extremamente rigoroso com seu<br />

trabalho. A organização e o rigor oriundos de sua herança construtivista eram<br />

marcantes em suas obras e, com sua prática do auto-arquivamento, tentou cercar de<br />

controle seus passos. A tensão criativa entre rigor/liberdade, entre<br />

permanência/experiência e a busca de sobreviver entre – e contra – esses pólos, fez<br />

com que sua obra ganhasse o aspecto simultâneo de caos e cosmos. Oiticica, nesses<br />

termos, perseguia um “rigor na invenção”, uma “experimentação rigorosa” em seu<br />

princípio liberador. Se na formula de Valéry o grau de liberdade é diretamente<br />

relacionado ao grau de rigor, o trabalho de Oiticica pode ser visto como um de seus<br />

melhores exemplos. Para resumir em poucas palavras essa relação tensa e produtiva,<br />

cito a fala do próprio Hélio, de novembro de 1973, escrita em uma longa carta para<br />

Andreas Valentin. Quase que em diálogo com a frase de Valéry, Oiticica afirma que<br />

“no jogo são as regras que abrem o jogo ao invés de limitá-lo”. 120 Ou seja, para se<br />

jogar (a escrita play de Oiticica), para INVENTAR, é necessário partir das próprias<br />

regras e não recusá-las simplesmente. São elas que abrem as possibilidades. Afinal,<br />

só há uma escrita do “entre” se tivermos as partes constituídas para serem rachadas,<br />

desafiadas, esburacadas pelo escritor-jogador. Quanto mais regras, maiores as<br />

possibilidades do jogo.<br />

Assim, fica claro que no caso do livro, as regras do jogo eram duas: obedecer<br />

a uma forma cuja funcionalidade (o manuseio do leitor) é pré-determinada pela<br />

tradição do objeto (sua história) e trabalhar a partir de uma língua cuja escrita<br />

determina uma série de operações e compromissos com o leitor para que seu texto<br />

120 Projeto HO # 1070.73 p.1<br />

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