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formais, pela sua produção desenfreada engolindo as demais áreas de sua vida, pela<br />
sua resistência em terminar algo (“Acabar com o acabado”). O programa in progress<br />
não para, não contém a possibilidade definitiva de um fim.<br />
Para ambos, porém, o prazer na realização do projeto e não seu (improvável)<br />
resultado final fez com que uma série de afirmações, teorizações e especulações<br />
sobre seus Livros ocupassem, para nós que lemos apenas as pegadas do trajeto, o<br />
lugar da própria publicação. Citando mais uma vez Blanchot, são casos em que “a<br />
obra é a espera da obra”. 119 Uma espécie de apego ao transitório, de investimento em<br />
propostas abertas e em permanente mobilidade, afastando–se do começo, evitando<br />
atingir o fim. Prazer na simulação.<br />
Ainda em “A arte no horizonte do provável”, Haroldo de Campos cita uma<br />
conhecida frase de Paul Valéry que nos serve como mais um passo na busca de<br />
elementos, mesmo evasivos, sobre o Livro que Oiticica – e Mallarmé e todos os<br />
outros escritores do transitório e incompleto – planejava em sua cabeça. O crítico<br />
francês afirma que “a maior liberdade nasce do maior rigor”. Interessado na questão<br />
estética – e não nos desdobramentos políticos que tal declaração mal-entendida pode<br />
acarretar – essa frase nos dá um ponto de vista peculiar para a arte: a potência de uma<br />
obra – sua capacidade de tornar-se livre de todos os constrangimentos e demandas<br />
que envolvem o trabalho artístico e seus produtos –, não nasce necessariamente de<br />
sua suposta desorganização e falta de empenho, de um laizer faire da sensibilidade.<br />
Ao contrário, a liberdade nasce justamente de uma preocupação com a definição dos<br />
espaços, com o planejamento da obra e sua calculada execução. O rigor é o berço da<br />
liberdade, seu ninho mais quente, que permite ao artista criterioso libertar-se em prol<br />
de seu compromisso pleno com sua produção. Quanto maior o compromisso, maior o<br />
rigor, maior a liberdade. É claro que podemos ver nessa idéia romântica de Valéry<br />
para a liberdade do artista, a figura paradigmática de Mallarmé. É sabido que, além<br />
de seu papel crítico, Valéry teve uma relação de amizade com o poeta e sua obra<br />
causou forte impacto em sua formação. A liberdade do artista de Valéry é baseada no<br />
119 BLANCHOT, M. op. cit., p. 352.<br />
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