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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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pedaços sólidos, apesar de espalhados em várias frentes de trabalho. Várias frentes,<br />

porém uma só obra, uma só concepção: inventar seu Livro para romper, inaugurar,<br />

arrebatar.<br />

A busca pelo Livro total, pelo livro que pudesse dar conta de tudo que se<br />

encontra no mundo através da linguagem, não é uma exclusividade de Mallarmé,<br />

claro. A ambição enciclopedista atravessa durante todos os séculos a prática e a<br />

crítica literária. O romantismo alemão, através de Novalis e Schlegel, evoca um livro<br />

“infinito” e “absoluto”, criando para a literatura a brecha para o ocultismo e o<br />

sagrado na visão de um livro com “o próprio texto da natureza universal”. 117 Muitos<br />

outros escritores, antes ou depois do poeta francês, buscaram essa “grande obra” e,<br />

por conseguinte, deixaram-nas incompletas. Alguns, como Mallarmé, pela<br />

impossibilidade de fim devido à grandeza quase sagrada do projeto; outros, como<br />

Oiticica, pela impossibilidade de determinar um fim ao seu processo de apropriação,<br />

criação e recriação. É notório, por exemplo, que os livros infinitos e seus escritores<br />

infatigáveis foram um dos grandes temas da obra de Jorge Luis Borges. O seu Pierre<br />

Menard é um desses escritores de livros irrealizáveis, pois, segundo o próprio “autor<br />

de Quixote” seu propósito era “simplesmente assombroso” e o projeto “de antemão<br />

impossível”. 118 O Museo de La novela de eterna de Macedônio Fernandes, Bouvard<br />

e Pécuchet de Flaubert ou as Passagens de Benjamin são apenas alguns outros<br />

exemplos desses livros eternos, livros sem fim. Esses, ao menos, foram publicados<br />

postumamente, mesmo incompletos.<br />

Tanto Mallarmé quanto Oiticica podem entrar no rol desses escritores, por<br />

motivos, mais uma vez, bem distintos. A impossibilidade de não se terminar tal<br />

tarefa era, para o primeiro, parte lógica de sua proposta de um Livro sobre o absoluto<br />

da linguagem ocupando o próprio lugar da natureza e vice-versa – isto é, um livro<br />

sobre a própria ausência de literatura, um livro sobre o silêncio. Já para o segundo, a<br />

impossibilidade vinha, fundamentalmente, da sua incapacidade de definir escolhas<br />

117 BLANCHOT, M.. op. cit. p. 334<br />

118 BORGES, J. L. “Pierre Menard, autor do Quixote”. In: Obras Completas I. São Paulo: Globo,<br />

1998, p. 493.<br />

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