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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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segundo uma perspectiva clássica, vigeria a imutabilidade perfeita e paradigmal dos<br />

objetos eternos”. 116<br />

Havia, porém, um elemento que regia a probabilidade e contrastava com o<br />

aspecto precário da execução dos livros de Mallarmé e Oiticica: a forma. Seus papéis<br />

de planejamento não seriam apenas rascunhos do não-realizado, pois eles são<br />

justamente o Livro sendo feito, passo a passo, em direção ao oco de uma idéia<br />

improvável: um formato definitivo do objeto livro. Essa visão, solitária e metafísica,<br />

pré-define todo o desejo de sua realização. Como nunca se termina de planejá-lo,<br />

essa forma fixa, pré-traçada, é obrigada a mudar constantemente através dos anos. O<br />

prazer de quem produz visando à prática e não ao produto faz com que a mudança –<br />

o in progress – se ocupe apenas de re-tomar, re-pensar, re-ver, re-delirar, re-mudar. E<br />

quanto mais se muda, maior o compromisso com as propostas iniciais de<br />

radicalização, com essa “visão” nunca materializada, mas descrita em cartas e papéis<br />

pessoais, cerzida em seus pedaços transitórios. Isso faz com que a rigidez dos planos<br />

seja uma “rigidez movente”, maleável às novas idéias e situações criativas. É sempre<br />

o mesmo rígido planejamento, apesar de sempre estar ganhando novos contornos –<br />

daí o precário identificado pelo crítico. De novo, o que deve ficar registrado aqui é<br />

que, na busca de Mallarmé e Oiticica por novas formas em se projetar um livro, a<br />

ausência e o excesso são extremos que balizaram esses movimentos.<br />

Essa preocupação com o arranjo preciso do texto, essa inovação na<br />

organização das páginas, são sintomas claros de quem produz a partir de uma<br />

obsessão pelo espaço. Blanchot, em sua análise sobre Mallarmé, ressalta que “desse<br />

livro, ele vê primeiro a disposição necessária”, enquanto Oiticica anuncia para<br />

Roberta que está planejando o livro, mas que já havia feito sua estrutura e estava<br />

“genial”. Em ambos, a estrutura da obra, isto é, a arquitetura do Livro, pré-existe ou<br />

co-existe com sua feitura. Por alardearem durante anos as respectivas empreitadas e<br />

suas diretrizes (móveis, porém diretrizes), conseguimos hoje em dia identificar os<br />

pedaços deixados pelos “arquitetos” em seus arquivos e manuscritos. Eles são<br />

116 CAMPOS, H. op. cit., p.19.<br />

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