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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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Para além dessas diferenças óbvias, a complexidade dos dois projetos, mais<br />

uma vez, reside em dois aspectos: na busca de uma forma definitiva, de uma<br />

arquitetura, enfim, de um espaço para suas escritas que demandassem uma operação<br />

de leitura; e na rejeição sistemática do “fim” como instância necessária para a<br />

concepção de uma obra em prol de uma estética do transitório. Eles precisam ir além<br />

do fim e do começo, instalando seu projeto na provisoriedade do estético, para citar<br />

Haroldo de Campos. Em seu ensaio crítico “A Arte no Horizonte do provável”<br />

(1969), ele busca relacionar uma série de poéticas que se alimentaram dessa força do<br />

precário e do transitório, que fizeram da incompletude o objetivo de sua obra. 114<br />

Apesar de não relacionar o trabalho de Oiticica, pois, além de estarem com poucos<br />

contatos nessa época, não havia nenhum projeto de livro divulgado pelo artista<br />

carioca, Haroldo aponta Mallarmé e seu projeto de Livro como o marco dessa<br />

estética. 115 Além do poeta francês, relaciona o artista plástico Kurt Schwitters, os<br />

compositores Pierre Boulez e Stockhausen e a poesia concreta brasileira. Para ele, o<br />

probabilismo – paralelo em certos aspectos das descobertas da física moderna e dos<br />

princípios desenvolvidos por Heisenberg (1930) – abre um novo caminho nas artes<br />

do século XX. Ele passa a ser, muitas vezes, desejado como parte da obra e não mais<br />

refutado em prol do objeto perfeitamente acabado e “inteiro”. No caso do Livro de<br />

Mallarmé, Haroldo identifica seu pioneirismo na instauração de um transitório<br />

permanente, na novidade de um fim adiado em prol da permanente gestação (a<br />

própria obra, nesse caso) e na precariedade de um planejamento a partir de rascunhos<br />

e fragmentos e não a partir de uma sólida base de referência e modelo de livro que<br />

não fosse o próprio modelo do risco e do impossível. Segundo Haroldo, o que estava<br />

em jogo era “a idéia mesma da obra inconclusa, instalando o transitório onde,<br />

114<br />

CAMPOS, H. “A Arte no Horizonte do Provável”, in: A Arte no Horizonte do Provável. São Paulo:<br />

perspectiva, 1969, p.15.<br />

115<br />

A ausência de uma referência sobre os trabalhos de Oiticica no referido artigo poderia ocorrer,<br />

claro, por outros motivos que precisam ser pesquisados, já que os Bichos de Lygia Clark e as obras de<br />

Waldemar Cordeiro são citadas pelo autor como obras que investem no aleatório como princípio<br />

criativo. Se pensarmos que os Parangolés de Hélio já existiam e que seus trabalhos incorporavam<br />

também esse aleatório como elemento estrutural, talvez tenhamos aqui um momento em que Haroldo<br />

não via no trabalho de Oiticica uma qualidade experimental presente nas obras citadas. Apenas uma<br />

hipótese de investigação.<br />

189

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