Capítulo 04.pdf - PUC Rio

Livro?
Como inventar um livro? Como conceber, planejar e executar um livro quando você
não tem, de antemão, o percurso completo da empreitada? Ele não é um romance, um livro
de contos ou poesia, ele não é um livro de ensaios nem de artigos. Sabemos o que ele não é.
Escrevendo para Carlos Vergara sobre o planejamento de sua publicação, Oiticica lhe diz
que
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o q me alegra q em meio ao ‘livro’ (prefiro dizer
‘publicação’ q fica mais geral: quem disse que vai ser ‘livro’??)
me sinto livre para INVENTAR e romper a lógica seqüencial q
em geral preside ‘fazer um livro’!!!!!! 99
Não importa o que seja esse objeto, contanto que ele rompa com “a lógica
seqüencial” dessa empreitada: fazer um livro. E quem disse que isso é um livro?
Uma pergunta feita, sem dúvida, para ele mesmo responder. Mas se não é um
“livro”, o que ele é? Ou melhor, o que era “um livro” para Oiticica? Como enxergar
em seu emaranhado de referências, em sua recusa em assumir o formato mais
plausível de publicar suas idéias, uma proposta completa de execução desse objeto?
Se não há como responder essas perguntas, ao menos posso partir delas para iluminar
os projetos e livros que povoaram sua obra durante os anos setenta.
Entre 1971 e 1978, a forma – e até mesmo os motivos – do(s) livro(s)
planejado(s) foi permanentemente alterada. Os nomes foram mudando, livros
diferentes tornaram-se um só, um livro abriu-se em vários e por fim seus folders e
seções tornaram-se um arquivo desse projeto. Em meio às incertezas dos textos
publicados, da língua utilizada (inglês, português ou os dois?), do formato das
páginas, a certeza de que algo estava sendo feito. Seu trabalho ao redor do livro foi,
em alguns períodos, incansável. Manuscritos, textos datilografados, traduções,
99 Projeto HO # 1071.73, carta de 2 de novembro de 1973.