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Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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Roberta, aquela foto que vocês enviaram vai<br />

figurar no livro que estou planejando. Fiz a estrutura do<br />

livro e está genial; será como um livro chinês, só que mais<br />

complexo, pois não tem posição privilegiada : são oito<br />

células duplas, compostas de uma folha inteira dobrada<br />

em quatro; quando se desfolha não tem alto-baixo ou<br />

frente-trás. Toda sorte de imagem visual e verbal vai<br />

entrar, as coisas mais inesperadas. 111<br />

O livro não seria “apenas” um objeto para ser lido. Como em todos seus<br />

trabalhos, o livro de Oiticica alterava a estrutura formal das publicações de arte e<br />

apostava na inovação gráfica do objeto publicado. Mais complexo que um livro<br />

chinês, com folhas sem alto e baixo e sem frente-trás. A quebra das hierarquias<br />

estéticas, tão cara ao criador, estaria manifesta na própria estrutura do objeto. Nesse<br />

sentido, tanto Mallarmé quanto Oiticica trazem o paradoxo de serem arquitetos<br />

rigorosos de uma obra que, antes de tudo, rejeita os modelos e projetos pré-<br />

existentes. Em sua “Autobiografia”, carta escrita por Mallarmé para Verlaine em<br />

novembro de 1885, o poeta expõe, como Oiticica, a complexidade de sua empreitada:<br />

111 Programa HO # 0773.69<br />

112 Apud: FONTES, J. B., op. cit., p.33.<br />

Um livro, simplesmente, em vários tomos, um<br />

livro que seja um livro arquitetônico e premeditado, e não<br />

uma coletânea de inspirações casuais por maravilhosas<br />

que fossem... Irei mais longe e direi: o Livro, convencido<br />

de que no fundo há um só, tentado à revelia por quem<br />

quer que tenha escrito, mesmo os gênios. A explicação<br />

órfica da terra, que é o único dever do poeta e o jogo<br />

literário por excelência: pois o próprio ritmo do livro<br />

então impessoal e vivo, até na sua paginação, justapõe-se<br />

às equações do sonho, ou da ode. 112<br />

186

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