Capítulo 04.pdf - PUC Rio

Mallarmé (a partir do trabalho pioneiro de Jacques Scherer), Blanchot nos mostra
suas transformações:
Em 1867, ele ‘delimita’ o desenvolvimento da
Obra a três poemas em verso e quatro poemas em prosa.
Em 1871, mas aqui o pensamento é um pouco diferente,
anuncia um volume de contos, um volume de poesias e
um volume de crítica. No manuscrito póstumo, publicado
por Jacques Scherer, prevê quatro volumes, capazes de
diversificarem-se em vinte tomos. (...) Mais tarde, ele
exprimirá assim a ligação que, de um volume a vários
outros, repete e amplifica as relações múltiplas presentes
em cada um deles, e prontas para ali se desenvolverem,
para se destacarem: “Alguma simetria, paralelamente,
que, da situação dos versos na peça se liga à
autenticidade da peça no volume, voa, abre o volume,
inscrevendo em vários, no espaço espiritual, a rubrica
ampliada do gênio anônimo e perfeito como uma
existência de arte”. 110
Esse percurso espiralado sobre si mesmo, essa proposta de páginas “abertas”
que se transformam em torno de uma estrutura prévia tão certa quanto improvável,
também marca o planejamento de Oiticica. Seu livro inicialmente deveria ser uma
publicação com “textos” que ele começa a escrever em Londres, durante 1969. Os
“contos” e poemas que já vimos aqui deveriam ser publicados em um livro cuja
forma, ao invés de simplesmente se adaptar à forma “tradicional” de uma compilação
linear de textos, já seria, em um primeiro esboço, inovadora. Em uma carta, escrita
para a família no dia 2 de maio de 1969 (mais especificamente, em um trecho
dedicado a sua cunhada, a poeta Roberta Oiticica), os primeiros passos do Livro são
anunciados. As palavras de Oiticica, sempre afirmativas sobre seus planos,
mostravam a complexidade do projeto desde seu início:
110 BLANCHOT, M., op. cit., p. 328.
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