Capítulo 04.pdf - PUC Rio

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Figura 17: Trecho da tradução de Oiticica para poema de Mallarmé 183
Após esse breve exemplo de “dedicação” à obra de Mallarmé, isto é, de sua atenção e apropriação desse pensamento poético, faço um alerta: qualquer abordagem aproximando os livros de Oiticica e Mallarmé deve ser feita com ressalvas. A mais importante de todas: os Livros dialogam não como realização artística, mas como impossibilidades. Além disso, eles são projetos de naturezas distintas. Mallarmé era um artista que escrevia e tinha intenso trânsito no interior de uma das culturas letradas mais especializadas, a francesa. Poeta simbolista admirado, personagem de destaque no campo literário de seu país durante o século XIX, sua obsessão pela linguagem pura e absoluta, seu empenho em excluir qualquer traço da personalidade e qualquer interferência das circunstâncias (dois obstáculos para se pensar a literatura em sua concepção), resultaram em – ou eram fruto de – um projeto incompleto pela (pre?)potência de uma tarefa definitiva e, ao mesmo tempo, infinita. Já Oiticica não funda seu Livro nos abismos, armadilhas e desafios da linguagem literária ou na busca da perfeição estética, mas sim no desejo de explorar os limites de um novo espaço criativo, de costurar seus textos escritos para além de qualquer projeto prévio, de dar vazão em novas frentes aos seus programas em progresso. Apesar de ambos projetarem suas empreitadas a partir de crises – da língua escrita, do espaço dessa escrita, do papel do poético nas artes – era na questão da tarefa de seus Livros que as principais semelhanças podem ser apontadas. Em ambos, essa tarefa demandava uma forma inovadora e radical para dar conta de um processo de criação em que tudo desemboca na feitura de sua grande obra. “Arquitetura” e “estrutura” são duas palavras utilizadas com freqüência pelo poeta em suas cartas quando ele se referia ao seu projeto. 109 A composição formal dos dois Livros passa ao longo do tempo por uma série de mudanças, abarcando novas idéias, propondo reinvenções da própria concepção de Livro e de como ele era visto pela tradição editorial de suas épocas. Ao expor brevemente o percurso do Livro de 109 SCHERER, J., op. cit., p.20. 184
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