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A PALO SECO<br />

24<br />

Ano 4, n. 4, 2012<br />

e tentam explicar o po<strong>em</strong>a – prática comum à crítica literária: “É necessário, ao contrário, que a poesia<br />

disponha de nós, de tal maneira que nosso Dasein torne-se o suporte vivo de sua potência” (Heidegger,<br />

1988, p. 32). A leitura de poesia nesses moldes torna-se um exercício de difícil acesso. Pode-se pressupor<br />

dessa atitude do filósofo que ele se coloca <strong>em</strong> uma posição privilegiada de entendimento da poesia de<br />

Hölderlin, cuja consequência será, portanto, um certo distanciamento da interpretação à letra de Hölderlin<br />

e o aprofundamento <strong>em</strong> seu próprio discurso filosófico. Desse modo, para Heidegger, a dificuldade de se<br />

estabelecer contato com a potência da poesia não está no po<strong>em</strong>a <strong>em</strong> si, mas nas pessoas, as quais deixam<br />

de se expor a essa potência:<br />

Mas talvez não seja culpa do po<strong>em</strong>a se nós não experimentamos mais sua potência, mas antes nossa culpa, porque nós<br />

perd<strong>em</strong>os a força de experimentar e [...] nosso Dasein está atravancado na banalidade de um cotidiano que o exclui<br />

totalmente da totalidade da esfera da potência da arte (1988, p. 32).<br />

Ainda assim, não seria qualquer poesia capaz de proporcionar esse contato, mas somente a de Hölderlin,<br />

a qu<strong>em</strong> Heidegger chama o poeta dos poetas, gesto que corrobora a idéia apresentada da mitologização<br />

do poeta. Tudo aquilo que desvirtua, pois, do caminho da essência da poesia, como o falatório ou o<br />

cotidiano, é condenado pelo filósofo. Há, portanto, um caminho rumo à essência da poesia que consiste na<br />

travessia do po<strong>em</strong>a enquanto combate contra nós mesmos que somos frequent<strong>em</strong>ente lançados para fora<br />

da poesia por causa da banalidade do cotidiano. A leitura de poesia ou travessia do po<strong>em</strong>a, para Heidegger,<br />

seria, assim, um deixar-se tocar por sua potência, afastando, desse modo, qualquer explicação de<br />

teor intelectual:<br />

[...] quanto mais a poesia toma poderosamente o poder, mais o dizer da fala se impõe com um ímpeto imperioso.<br />

Simplesmente o po<strong>em</strong>a não é mais essa coisa neutra, legível e audível que se oferece a nós de início, enquanto nós tínhamos<br />

ainda a linguag<strong>em</strong> como um instrumento de expressão e de comunicação, o qual nós possuíamos por assim dizer como um<br />

carro possui uma buzina. Não somos nós que possuímos a linguag<strong>em</strong>, é a linguag<strong>em</strong> que nos possui, para o melhor e para<br />

o pior (1998, p. 35).<br />

Pode-se afirmar, assim, que os conceitos heideggerianos de poesia e linguag<strong>em</strong> tend<strong>em</strong> a ultrapassar<br />

a dimensão do Dasein histórico. Heidegger apresenta a seguinte definição de poesia, uma definição qualquer<br />

que servirá de guia para se chegar à essência da poesia, perseguida por ele:<br />

[...] há poesia aqui onde se poetiza. E esse poetizar se realiza sobretudo com a ajuda da imaginação. O poeta imagina<br />

alguma coisa, que certamente não é arbitrária, mas que ele viveu no mundo exterior ou no interior de si mesmo, o que <strong>em</strong><br />

al<strong>em</strong>ão chama-se de uma vivência (Erlebnis). Esta é <strong>em</strong> seguida elaborada pelo pensamento, mas sobretudo recebe forma<br />

e figura <strong>em</strong> uma representação simbólica, ela é, precisamente, poetizada. O vivido se concentra (verdichtet) assim <strong>em</strong><br />

poesia (Dichtung), ele se condensa materialmente de maneira palpável, por ex<strong>em</strong>plo, no gênero lírico sob a forma de po<strong>em</strong>a<br />

(1988, p. 37).<br />

Nessa concepção da poesia como expressão da vivência, t<strong>em</strong>-se, de um lado, o po<strong>em</strong>a enquanto condensação<br />

da vivência que pode tocar alguma verdade, vivência entendida de forma ampla, podendo dizer<br />

respeito a um ponto de vista individual ou coletivo, da cultura ou do povo; e, de outro, o leitor – refiro-me<br />

aqui à instância do leitor, apesar de Heidegger não mencionar essa palavra, tratando na maioria das vezes<br />

do Dasein – que, através da leitura, pode se aproximar do sentimento, inegavelmente verdadeiro, porém<br />

não condizente com a essência da poesia, a qual a poesia de Hölderlin permite atingir. Para Heidegger,<br />

essa abordag<strong>em</strong>, pode-se dizer mais cotidiana, da poesia não levaria além de um conhecimento psicológico<br />

do poeta, admitindo, no entanto, ser justa essa concepção, porém, para ele, justeza não é sinônimo de<br />

acesso ao verdadeiro. Passível de ataque por parte de Heidegger é também a concepção de poesia segun-

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