Edição 145, Ano XIII, Maio 2009. - Arquidiocese de Florianópolis
Edição 145, Ano XIII, Maio 2009. - Arquidiocese de Florianópolis
Edição 145, Ano XIII, Maio 2009. - Arquidiocese de Florianópolis
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
2 Opinião<br />
Seu melhor amigo per<strong>de</strong>u um<br />
filho tragicamente: o que dizer a ele?<br />
O vizinho <strong>de</strong> porta está numa <strong>de</strong>pressão<br />
terrível: como animá-lo? A<br />
colega <strong>de</strong> trabalho está sofrendo<br />
com a prolongada doença <strong>de</strong> seu<br />
pai: com que palavras consolá-la?<br />
A vida coloca você diante <strong>de</strong><br />
situações para as quais escola<br />
alguma o preparou. E o grave é<br />
que uma palavra precisa ser dita,<br />
um gesto <strong>de</strong>ve ser feito e uma<br />
<strong>de</strong>cisão tomada. Mas qual? Você<br />
sabe muito bem que, em horas<br />
assim, a boa vonta<strong>de</strong> não é suficiente;<br />
também não lhe faltam<br />
recordações <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, gestos<br />
ou palavras do passado que, longe<br />
<strong>de</strong> se terem revelado rico consolo,<br />
<strong>de</strong>ixaram você em situação<br />
constrangedora e <strong>de</strong>licada.<br />
Nesse campo, temos muito que<br />
Uma das questões que mais<br />
angustia a existência do homem<br />
é precisamente esta: o que há<br />
<strong>de</strong>pois da morte? A esse enigma,<br />
a solenida<strong>de</strong> <strong>de</strong> hoje, [dia da Páscoa],<br />
permite-nos respon<strong>de</strong>r que<br />
a morte não tem a última palavra,<br />
porque no fim quem triunfa é a<br />
vida. E essa nossa certeza não se<br />
funda sobre simples raciocínios<br />
humanos, mas sobre um dado histórico<br />
<strong>de</strong> fé: Jesus Cristo, crucificado<br />
e sepultado, ressuscitou<br />
com o seu corpo glorioso. Jesus<br />
ressuscitou para que também<br />
nós, acreditando nele, possamos<br />
ter a vida eterna. Esse anúncio situa-se<br />
no coração da mensagem<br />
evangélica. Declara-o com vigor<br />
São Paulo: “Se Cristo não ressuscitou,<br />
é vã a nossa pregação e vã<br />
a nossa fé”. E acrescenta: “Se tão<br />
somente nesta vida esperamos<br />
em Cristo, somos os mais miseráveis<br />
<strong>de</strong> todos os homens” (1Cor<br />
15, 14.19). Des<strong>de</strong> a alvorada <strong>de</strong><br />
Páscoa, uma nova primavera <strong>de</strong><br />
esperança inva<strong>de</strong> o mundo; <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
aquele dia, nossa ressurreição<br />
já começou, porque a Páscoa não<br />
indica simplesmente um momento<br />
da história, mas o início duma<br />
nova condição: Jesus ressuscitou,<br />
não para que sua memória permaneça<br />
viva no coração dos seus discípulos,<br />
mas para que ele mesmo<br />
viva em nós, e, nele, possamos já<br />
saborear a alegria da vida eterna.<br />
Palavra Palavra do do Bispo Bispo Dom Dom Murilo Murilo S. S. R. R. Krieger<br />
Krieger<br />
Dom Murilo S. R. Krieger, SCJ Arcebispo <strong>de</strong> <strong>Florianópolis</strong><br />
Os amigos <strong>de</strong> Jó<br />
apren<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Jó. Sua figura comove:<br />
“Homem íntegro e reto, temia a<br />
Deus e se afastava do mal” (1,1);<br />
rico e famoso, <strong>de</strong>spertou suspeitas<br />
em alguns contemporâneos, para<br />
quem não havia mistério em suas<br />
virtu<strong>de</strong>s: como em sua vida tudo<br />
corria bem, era fácil compreen<strong>de</strong>r<br />
que fosse santo e honesto. Mas, e<br />
se sua situação mudasse? E se os<br />
bens que tinha fossem atingidos,<br />
permaneceria ainda fiel a Deus?<br />
Jó passou, então, a ser importunado<br />
com as mais diversas provações.<br />
Empobrecido, ferido e humilhado,<br />
chegou a ser ridicularizado<br />
até pela própria esposa. Foi<br />
então que três amigos seus, <strong>de</strong> lugares<br />
diferentes, ouvindo falar <strong>de</strong><br />
suas doenças, foram visitá-lo, a<br />
fim <strong>de</strong> “compartilhar <strong>de</strong> sua dor e<br />
consolá-lo” (2,11). Encontraram-<br />
Palavra Palavra do do Papa Papa Bent<br />
Bent<br />
Bento o XVI<br />
XVI<br />
Ressuscitado,<br />
Jesus vive em nós<br />
Portanto, a ressurreição não é<br />
uma teoria, mas uma realida<strong>de</strong> histórica<br />
revelada pelo Homem Jesus<br />
Cristo por meio <strong>de</strong> sua “páscoa”,<br />
<strong>de</strong> sua “passagem”, que abriu um<br />
“caminho novo” entre a terra e o<br />
Céu (cf. Hb 10, 20). Não é um mito<br />
nem um sonho, não é uma visão<br />
nem uma utopia, não é uma fábula,<br />
mas um acontecimento único e<br />
irrepetível: Jesus <strong>de</strong> Nazaré, filho<br />
<strong>de</strong> Maria, que ao pôr do sol <strong>de</strong> Sexta-feira<br />
foi <strong>de</strong>scido da cruz e sepultado,<br />
<strong>de</strong>ixou vitorioso o túmulo. De<br />
fato, ao alvorecer do primeiro dia<br />
<strong>de</strong>pois do Sábado, Pedro e João encontraram<br />
o túmulo vazio. Madalena<br />
e as outras mulheres encontraram<br />
Jesus ressuscitado; reconheceram-no<br />
também os dois discípulos<br />
<strong>de</strong> Emaús ao partir o pão; o Ressuscitado<br />
apareceu aos Apóstolos<br />
à noite no Cenáculo e <strong>de</strong>pois a muitos<br />
outros discípulos na Galileia.<br />
“<br />
A ressurreição<br />
não é um mito<br />
nem um sonho,<br />
mas um acontecimentoúnico<br />
e irrepetível:<br />
Jesus <strong>de</strong> Nazaré<br />
Bent Bento Bent o XVI XVI, XVI 12.04.09 - Domingo da<br />
Páscoa<br />
Jornal Jornal da da Ar <strong>Arquidiocese</strong> Ar uidiocese <strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Florianópolis</strong><br />
<strong>Florianópolis</strong><br />
Rua Esteves Júnior, 447 - Centro - <strong>Florianópolis</strong><br />
Cep 88015-130 - Fone/Fax (48) (48) 322 3224-4 322 322 4-4 4-4799 4-4 799<br />
E-mail: jornal@ar jornal@arquifln.org.br jornal@ar uifln.org.br - - Site: www www.ar www www.ar<br />
.ar .arquifln.org.br<br />
.ar uifln.org.br<br />
22 mil exemplares mensais<br />
no, contudo, tão <strong>de</strong>sfigurado que,<br />
a princípio, nem o reconheceram.<br />
Aproximando-se <strong>de</strong>le, sentaramse<br />
ao seu lado durante sete dias<br />
e sete noites, sem dizer-lhe uma<br />
palavra, “vendo como era atroz<br />
seu sofrimento” (2,13).<br />
O drama <strong>de</strong> Jó, rico <strong>de</strong> luzes e<br />
sombras, é belíssimo e digno <strong>de</strong><br />
ser meditado pelos homens e mulheres<br />
do nosso tempo. Fixo-me,<br />
contudo, nesse sábio gesto <strong>de</strong><br />
seus amigos, que anteciparam o<br />
que Paulo escreveria cinco séculos<br />
mais tar<strong>de</strong>, como expressão máxima<br />
<strong>de</strong> comunhão: “Alegrai-vos com<br />
os que se alegram. Chorai com os<br />
que choram” (Rm 12,15). Recordando<br />
a atitu<strong>de</strong> dos amigos <strong>de</strong> Jó,<br />
po<strong>de</strong>ríamos completar: sofrei em<br />
silêncio com os que sofrem.<br />
Em <strong>de</strong>terminadas situações,<br />
Reflexão<br />
Reflexão<br />
A vida cristã é caminho <strong>de</strong><br />
santida<strong>de</strong>, pedagogia <strong>de</strong> santida<strong>de</strong>,<br />
é busca feliz <strong>de</strong> Deus (Lev 11,<br />
44). Santo é quem está consagrado<br />
a Deus. Santificar é tornar íntegro,<br />
inviolável, o contrário <strong>de</strong><br />
mundanizar, isto é, ser possuído<br />
pelo espírito do mundo, do espetáculo,<br />
per<strong>de</strong>r a intimida<strong>de</strong>. O<br />
santificado revela somente a<br />
Deus sua intimida<strong>de</strong> pessoal; o<br />
mundanizado, por sua vez, tudo<br />
revela em busca <strong>de</strong> apoio, complacência,<br />
dinheiro, sucesso.<br />
A Igreja antiga tinha muito pudor<br />
com as coisas santas. Quem<br />
não era batizado permanecia na<br />
igreja até o final da Liturgia da<br />
Palavra, pois a Liturgia Eucarística<br />
estava reservada aos batizados,<br />
aos que tinham sido iniciados nos<br />
Mistérios. Ao catecúmeno (o que<br />
se preparava para o Batismo) quase<br />
tudo era ensinado, menos a revelação<br />
final do mistério batismal:<br />
essa era feita na catequese<br />
mistagógica pós-batismal.<br />
A publicida<strong>de</strong> faz per<strong>de</strong>r a<br />
santida<strong>de</strong> do sagrado, expondo<br />
tudo ao público. Madre Teresa<br />
não conseguia explicar a Inspiração<br />
que a fizera consagrar-se<br />
aos pobres mais pobres. Respondia:<br />
“Eu disse a Jesus que<br />
levasse tudo, para que eu não<br />
tivesse que explicar. Quando tornamos<br />
algo público, ele per<strong>de</strong> a<br />
santida<strong>de</strong>”.<br />
Alguns não conseguem adorar<br />
o Santíssimo sem ter aberta<br />
mais do que consolar com palavras,<br />
importa ser uma presença amiga ao<br />
lado daquele que, fechado em sua<br />
dor, parece estar a quilômetros <strong>de</strong><br />
distância <strong>de</strong> nós. Quando alguém<br />
está envolvido por um gran<strong>de</strong> sofrimento,<br />
temos a impressão <strong>de</strong> que<br />
não conseguimos atingi-lo. Engano<br />
nosso. Uma presença discreta e silenciosa,<br />
marcada pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />
comunhão, é, ao mesmo tempo,<br />
consolo e força, bálsamo e luz. Po<strong>de</strong><br />
ser que num primeiro momento<br />
nem seja percebida; aos poucos,<br />
contudo, faz nascer no irmão a certeza<br />
<strong>de</strong> que não está só. É possível<br />
que, mesmo assim, ele não entenda<br />
o sofrimento que está enfrentando,<br />
mas certamente conseguirá<br />
superá-lo com mais rapi<strong>de</strong>z e aproveitará<br />
melhor as lições daqueles<br />
momentos.<br />
“<br />
Santida<strong>de</strong> e Intimida<strong>de</strong><br />
a porta do sacrário. Mas é exatamente<br />
a porta fechada que<br />
leva à adoração daquele que<br />
ama escondido, que aceita ser<br />
adorado em sua intimida<strong>de</strong>.<br />
Quanta Beleza num sacrário fechado,<br />
mas totalmente aberto<br />
aos amantes que o contemplam!<br />
A cultura da publicida<strong>de</strong> a<br />
qualquer preço <strong>de</strong>stroi a intimida<strong>de</strong><br />
e com isso torna as pessoas<br />
manipuláveis. Há algo mais<br />
constrangedor que afixar cartazes<br />
e faixas com a face do Senhor<br />
sofredor convidando para a<br />
Procissão dos Passos? A Paixão<br />
<strong>de</strong> Cristo <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser ato re<strong>de</strong>ntor<br />
para ser fato cultural. Os que<br />
o amam no Caminho da dor querem<br />
contemplá-lo em silêncio,<br />
quase em segredo. E a blasfêmia<br />
<strong>de</strong> anunciar a Procissão <strong>de</strong><br />
Corpus Christi como “espetáculo”<br />
da tradição religiosa? O Senhor<br />
da Humilda<strong>de</strong>, reduzido a<br />
um pedaço <strong>de</strong> Pão, quer ser contemplado<br />
por amigos que o adoram<br />
em sua pobreza e não olhado<br />
por curiosos.<br />
Vivemos um período <strong>de</strong> teologia<br />
fraca, à la carte, o que representa<br />
um enorme perigo para<br />
a integrida<strong>de</strong> da mensagem cristã.<br />
A superficialida<strong>de</strong> teológica<br />
se traduz em superficialida<strong>de</strong><br />
mistagógica: ministro acha que<br />
seus paramentos dourados são<br />
evangelizadores, as equipes enfeitam<br />
a Missa. Mas, o Senhor<br />
crucificado não está nu? Quer-<br />
<strong>Maio</strong> 2009 Jornal da <strong>Arquidiocese</strong><br />
Em <strong>de</strong>terminadassituações,<br />
mais do<br />
que consolar<br />
com palavras,<br />
importa ser<br />
uma presença<br />
amiga ao<br />
lado daquele<br />
que sofre”<br />
se tudo exposto em veste popular,<br />
e assim per<strong>de</strong> a santida<strong>de</strong>.<br />
Um dia, a anestesia da publicida<strong>de</strong><br />
religiosa a qualquer preço<br />
e a instrumentalização do sagrado<br />
<strong>de</strong>spertará. O que teremos?<br />
Multidões aflitas em busca<br />
<strong>de</strong> milagres, multidões que<br />
não conhecem a Palavra <strong>de</strong> Deus,<br />
mas acreditam em po<strong>de</strong>res mágicos,<br />
multidões que confun<strong>de</strong>m<br />
fé com prazer, com o "agradável",<br />
multidões que fogem do Cristo<br />
crucificado, trocando-o por produtos<br />
religiosos que geram prosperida<strong>de</strong>.<br />
Uma pena, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> todo<br />
o esforço do Vaticano II colocando<br />
como fonte da santida<strong>de</strong> a<br />
Palavra e o Sacramento. E corremos<br />
o perigo <strong>de</strong> retornar a buscála<br />
no <strong>de</strong>vocional.<br />
Profunda a palavra <strong>de</strong> um teólogo<br />
que anunciava uma Igreja<br />
confessante, corajosa, mártir:<br />
“Que outro é o preço que hoje pagamos...<br />
se não uma necessária<br />
consequência da graça alcançada<br />
a baixo preço? Por baixo<br />
preço se proclamava o anúncio,<br />
se administravam os sacramentos,<br />
se batizava, se dava a crisma,<br />
se absolvia o povo inteiro,<br />
sem que fossem postas perguntas<br />
ou condições” (D.<br />
Bonhoeffer: Discipulado). Para<br />
ele, o preço foi o martírio no campo<br />
<strong>de</strong> concentração. A santida<strong>de</strong><br />
tem alto preço: a própria vida.<br />
Pe. e. José José Ar Artulino Ar Artulino<br />
tulino Besen Besen<br />
Besen<br />
Diretor: Pe. Ney Brasil Pereira - Conselho Editorial: Dom Murilo S. R. Krieger, Dom José Negri, Pe. José<br />
Artulino Besen, Pe. Vitor Galdino Feller, Ir. Marlene Bertoldi, Maria Glória da Silva Luz, Guilherme Pontes,<br />
Carlos Martendal e Fernando Anísio Batista - Revisão: Irmã Clea Fuck - Jornalista Responsável: Zulmar<br />
Faustino - SC 01224 JP - Departamento <strong>de</strong> Publicida<strong>de</strong>: Pe. Francisco Rohling - Editoração e Fotos:<br />
Zulmar Faustino - Distribuição: Juarez João Pereira - Impressão e Fotolitos: Gráfica Rio Sul