Amílcar Pinto: - Estudo Geral - Universidade de Coimbra
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Amílcar Pinto: um Arquitecto do Século XX 8 Introdução – Na senda de Amílcar Pinto como já afirmámos, chegámos ao artista através de uma obra: o Teatro Rosa Damasceno. De facto, a investigação realizada sobre esse imóvel foi o primeiro passo na construção deste estudo sobre um arquitecto português do século XX. Trata-se de um arquitecto, nascido ainda no fim do século XIX, que assistiu ao término da 1ª República, à constituição do Estado Novo, ao impacto da 2ª Guerra Mundial, tendo ainda vivido o suficiente para ver eclodir a Guerra Colonial e vislumbrar a Revolução de Abril de 1974. No campo da arte, viveu a polémica ―tradicional versus moderno‖, acompanhou o movimento da ―casa portuguesa‖, para depois alinhar num ―efémero modernismo‖; ou ainda participar no esforço de progresso nos equipamentos públicos de um Estado que se afirmava Novo. É deste percurso de vida que sobram memórias e vestígios. Vestígios que nos interessam particularmente. Se nem todos não serão, com a devida propriedade obras de arte, serão, sem dúvida, partes importantes do edifício da História da Arquitectura Portuguesa do século XX. Nesse sentido, procedemos ao inventário exaustivo da obra arquitectónica de Amílcar Pinto. Esse inventário engloba todos os edifícios nos quais se comprovou a sua autoria (individual ou em colaboração), todos os seus projectos que não passaram da fase desenho e também algumas obras que, com relativa certeza, poderemos atribuir ao traço de Amílcar da Silva Pinto. O nosso inventário não é um trabalho concluído. No futuro, suspeitamos que outras obras e projectos de Amílcar Pinto venham a lume: aliás, esperamos que a nossa investigação venha a ter o mérito de potenciar tais descobertas. Palavras finais, para justificação da estrutura tripartida que apresentamos nesta dissertação: de início, propomos uma breve abordagem contextual que, na esteira do filósofo, entendemos designar por tendências gerais da Arquitectura Portuguesa nos inícios do século XX. Trata-se de um esforço de síntese, com a necessária objectividade, no qual pretendemos contribuir para a contextualização, na sua época, da obra de Amílcar Pinto. Depois, num segundo momento, desenvolvemos uma abordagem biográfica. Foi a biografia possível de construir à luz das fontes existentes, estando sempre orientada para o relato das vivências profissionais e artísticas deste arquitecto. Por fim, o terceiro momento respeita à análise, histórica e crítica, das obras de Amílcar Pinto, numa perspectiva sincrónica e tipológica — para a qual foi essencial a elaboração do inventário que já referimos. O nosso percurso para aqui chegar, para além da reflexão constante, levou-nos em viagem de Serpa a Ponte de Lima, passando por Beja, pela Quinta da Azervada, pela
Amílcar Pinto: um Arquitecto do Século XX 9 Introdução – Na senda de Amílcar Pinto Golegã, por Santarém, por Lisboa, por Coimbra, pela Covilhã, por Gouveia, por Viseu ou por São Pedro do Sul, entre outras localidades ou sítios. Neste périplo, tentámos tocar na obra e, sem dúvida, nas ―sombras de Amílcar Pinto‖, aquelas o arquitecto foi deixando nos locais onde viveu e trabalhou. Tratou-se, também, da clara aceitação da máxima, segundo a qual o monumento, ou no caso a obra edificada, é o primeiro documento de si própria. Temos para nós que o estudo da figura de Amílcar Pinto constitui uma abordagem inédita. Na verdade, nenhuma publicação ou artigo de conjunto existia sobre este arquitecto ou sobre sua obra. Apenas contávamos com algumas referências, muito úteis aliás, em alguns artigos e trabalhos dispersos (na sua maioria sobre o Teatro Rosa Damasceno). Por outro lado, à laia de desafio, sustentamos que metodologia que esteve na base da elaboração do inventário e na própria estrutura desta dissertação poderá ser utilizada, com as necessárias adaptações, no estudo da vida e da obra de outros arquitectos portugueses do século XX. Na realidade, ao longo dos vários meses de investigação, descortinámos que muito ainda está por fazer no campo da historiografia da arquitectura portuguesa do século XX — não obstante os passos de gigante e valiosos contributos das últimas décadas. Torna-se necessário romper com determinados preconceitos, que vão perdurando — não tanto no campo da investigação — sobretudo no que toca à valorização patrimonial das obras desta época, tantas vezes ignoradas pelos agentes decisores das políticas de património. Neste aspecto, acreditamos que o nosso estudo, mas sobretudo a contínua investigação, na área da arquitectura portuguesa do século XX (dentro e fora do que é hoje o território nacional), de certo modo poderá inverter essa situação. Na certeza, de que o nosso tempo, engloba tanto um passado recente, como um presente sobre ele construído, sendo esse o substrato de memória e de identidade que legaremos, como nosso, ao futuro.
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<strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>: um Arquitecto do Século XX<br />
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Introdução – Na senda <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong><br />
como já afirmámos, chegámos ao artista através <strong>de</strong> uma obra: o Teatro Rosa Damasceno.<br />
De facto, a investigação realizada sobre esse imóvel foi o primeiro passo na construção<br />
<strong>de</strong>ste estudo sobre um arquitecto português do século XX.<br />
Trata-se <strong>de</strong> um arquitecto, nascido ainda no fim do século XIX, que assistiu ao<br />
término da 1ª República, à constituição do Estado Novo, ao impacto da 2ª Guerra Mundial,<br />
tendo ainda vivido o suficiente para ver eclodir a Guerra Colonial e vislumbrar a<br />
Revolução <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1974. No campo da arte, viveu a polémica ―tradicional versus<br />
mo<strong>de</strong>rno‖, acompanhou o movimento da ―casa portuguesa‖, para <strong>de</strong>pois alinhar num<br />
―efémero mo<strong>de</strong>rnismo‖; ou ainda participar no esforço <strong>de</strong> progresso nos equipamentos<br />
públicos <strong>de</strong> um Estado que se afirmava Novo. É <strong>de</strong>ste percurso <strong>de</strong> vida que sobram<br />
memórias e vestígios. Vestígios que nos interessam particularmente. Se nem todos não<br />
serão, com a <strong>de</strong>vida proprieda<strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte, serão, sem dúvida, partes importantes do<br />
edifício da História da Arquitectura Portuguesa do século XX.<br />
Nesse sentido, proce<strong>de</strong>mos ao inventário exaustivo da obra arquitectónica <strong>de</strong><br />
<strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>. Esse inventário engloba todos os edifícios nos quais se comprovou a sua<br />
autoria (individual ou em colaboração), todos os seus projectos que não passaram da fase<br />
<strong>de</strong>senho e também algumas obras que, com relativa certeza, po<strong>de</strong>remos atribuir ao traço <strong>de</strong><br />
<strong>Amílcar</strong> da Silva <strong>Pinto</strong>. O nosso inventário não é um trabalho concluído. No futuro,<br />
suspeitamos que outras obras e projectos <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong> venham a lume: aliás,<br />
esperamos que a nossa investigação venha a ter o mérito <strong>de</strong> potenciar tais <strong>de</strong>scobertas.<br />
Palavras finais, para justificação da estrutura tripartida que apresentamos nesta<br />
dissertação: <strong>de</strong> início, propomos uma breve abordagem contextual que, na esteira do<br />
filósofo, enten<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>signar por tendências gerais da Arquitectura Portuguesa nos<br />
inícios do século XX. Trata-se <strong>de</strong> um esforço <strong>de</strong> síntese, com a necessária objectivida<strong>de</strong>, no<br />
qual preten<strong>de</strong>mos contribuir para a contextualização, na sua época, da obra <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong><br />
<strong>Pinto</strong>. Depois, num segundo momento, <strong>de</strong>senvolvemos uma abordagem biográfica. Foi a<br />
biografia possível <strong>de</strong> construir à luz das fontes existentes, estando sempre orientada para o<br />
relato das vivências profissionais e artísticas <strong>de</strong>ste arquitecto. Por fim, o terceiro momento<br />
respeita à análise, histórica e crítica, das obras <strong>de</strong> <strong>Amílcar</strong> <strong>Pinto</strong>, numa perspectiva<br />
sincrónica e tipológica — para a qual foi essencial a elaboração do inventário que já<br />
referimos.<br />
O nosso percurso para aqui chegar, para além da reflexão constante, levou-nos em<br />
viagem <strong>de</strong> Serpa a Ponte <strong>de</strong> Lima, passando por Beja, pela Quinta da Azervada, pela